- Mãe! Cheguei!
- To aqui na cozinha! - Minha mãe grita de volta.
Eu vou entrando pela casa, passando pelas caixas que ainda não foram abertas até chegar na cozinha. Lá encontro minha mãe, também conhecida pelo resto da nossa família como General - não que ela saiba disso - fazendo bolinho de chuva. Sinto minha barriga roncar com o cheiro daquela maravilha.
- Chegou mais cedo hoje filha. Aconteceu alguma coisa?
- Não. O professor passou uma atividade na ultima aula e quem terminasse podia ir embora. Como eu já tinha visto a matéria bimestre passado, acabei rápido.
- Entendi. Mas e ai? Como está indo a escola? Com essa correria da mudança nem conseguimos conversar direito essa semana.
Pois é. Essa mudança meio repentina de estado deixou todo mundo cansado. Papai fazia de tudo pra melhorar a situação, mas até ele sentiu um pouco essa nova vida.
-Ah, por enquanto ta tranquilo, a maioria das matérias eu já tinha visto antes. Bimestre que vem que tudo realmente começa.
- Que bom meu bem. Mas então, você viu o que a sua tia disse no grupo ontem......
Comecei a conversar com a minha mãe sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo . Estava com saudades disso, sentar na cozinha e conversar com a minha mãe comendo o famoso bolinho da dona Andreia, estava todo mundo sem tempo ultimamente.
...=...
Depois de umas duas horas jogando conversa fora, avisei a minha mãe que ia la no quintal trabalhar no meu carrinho. Subi até meu quarto e peguei a caixa enorme em que ficava o carrinho e as ferramentas e coloquei minha blusa da oficina, que nada mais é do que uma blusa velha do Leo que ficava grande demais em mim.
Chegando lá, sentei na grama mesmo e comecei a fazer algumas melhorias que papai tinha alertado. Trabalhei por um tempo até que me deparei com um fio solto dentro da caixinha.
- Ah não! Droga droga droga. - Devo ter cortado sem querer enquanto cortava a fita la dentro. O pior é que aquele era o foi que transportava a energia da pilha pro carrinho funcionar, eu tinha que arrumar aquilo muito bem arrumado, se não adeus a corrida no final do mês.
- Precisa de ajuda? - algum ser humano enviado do inferno disse atrás de mim.
- AAAAAHHHHH!!!
Quando olhei pra trás pra ver quem tinha sido o infeliz, me deparei com um moço familiar, alto, calça jeans preta, regata branca deixando amostra os músculos nos lugares certos, maxilar marcante, cabelo castanho e um rosto parecendo bunda de neném, de tão liso que era.
Eu estava tão absolvida com esse fio, que nem percebi que a sombra dele já estava ali a algum tempo.- Cacete moleque! Que susto!
Ele riu um pouco e chegou mais perto.
- Desculpa, não queria te assustar, só queria saber se precisa de ajuda. Vi que você tinha feito alguma coisa errada e vim ver se precisava de ajuda, eu entendo um pouco de mecânica.
- Ah, não precisa. Já está tudo sobre controle, eu cortei o fio principal do carrinho, mas já estou arrumando. Obrigada mesmo assim. - disse pra ser simpática.
- Tem certeza? Parece uma falha difícil de se concertar. - disse com um olhar de desconfiança sobre minha humilde pessoa.
Reprimi a vontade de esfregar na cara dele todos os meus anos de experiência em campeonatos de corrida de carrinho de controle remoto e disse simplesmente.
-Tenho sim. Já terminei, olha.
Quando ele se inclinou foi ótimo ver a cara de surpresa dele em ver que o fio estava perfeitamente arrumado. Mandei um agradecimento mentalmente ao papai por ter me ensinado tudo e mais um pouco de mecânica.
- Você entende de mecânica? - perguntou surpreso.
- Um pouquinho. - Eu disse sem conseguir esconder o sorriso na cara.
- Huuum. Então quer dizer que eu tenho uma ajudante em potencial lá na oficina do meu pai. - disse ele. Estamos precisando de um par a mais de mãos, o salario não é grande coisa, mas se você quiser, a vaga ainda está aberta, tenho certeza que meu pai também te acharia uma máximo. - Ele disse isso inclinando um pouco o corpo na minha direção.
AH MEU DEUS! Será que eu ouviu direito? Trabalhar numa mecânica e ainda ganhar por isso? Eu não precisava pensar duas vezes.
- É claro que eu topo.
- Então passa ali amanhã a tarde pra gente começar a acertar as coisas. - disse apontando pra garagem do outro lado da rua.
Acho que eu nunca abri um sorriso tão grande quanto agora. MEUS DEUS. Um emprego. Eu precisava contar isso agora pra mamãe.
- Foi muito bom conversar com você! Mas agora eu preciso entrar.
Peguei todas as minhas tralhas e fui correndo pra casa, gritando a minha mãe antes mesmo de chegar na porta.
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A barreira
Non-FictionJulia é uma menina bem diferente. Nem um pouco ligada a romances e que se da muito bem com mecânica, após mudar de estado tem a oportunidade de ter um dos seus maiores sonhos realizados TRABALHAR PROFISSIONALMENTE COM A INDUSTRIA AUTOMOBILÍSTICA. Ma...