nunca foi real, steve.
eu me aprisionei em você
sobrevivi a pão e água
ou
a migalhas de afeto.
nunca foi recíproco, steve.
eu me acorrentei ao seu amor
pesado
mas tão,
tão vazio.
nunca foi saudável, steve.
eu me tornei um peixe em algemas
frias e duras,
apáticas
como seu carinho.
mas não foi porque eu quis, steve.
e se foi
eu não sabia o que queria
meu sonho nunca foi me prender a alguém
pelo contrário
eu queria nadar
pra longe
mas algo na minha cabeça me fez achar que
seria uma boa ancorar meu barco
na sua praia.
nunca fui bom em tomar decisões, steve.
de qualquer forma,
nunca quis ter de quebrar as correntes
e me libertar
nunca almejei um lugar do qual escapar
que não a minha própria mente
a minha prisão desde que nasci
ou me lembro.
nunca foi intencional, steve.
me desculpe.
mesmo que a culpa não seja minha
eu quis ancorar,
mas não quis afogar
você junto comigo na fuga.
eu sobrevivi a migalhas de afeto,
mas não fiz os cálculos direito
e não pude evitar que você afundasse
por não saber nadar.
e hoje eu me pergunto,
como daria certo se no
primeiro mergulho,
você iria morrer de qualquer forma?
eu sobrevivi a algo que nunca quis que acontecesse
em primeiro lugar,
mas você pagou uma dívida
que nunca foi sua
em primeiro lugar.
e no final das contas,
meu erro nos cálculos custou a sua vida.
e o meu amor,
ah...
esse anda mais vazio do que nunca,
steve,
mas pesado demais pra me fazer nadar
pra longe das lembranças.
e pensando bem,
talvez
dessa vez
eu precise me afogar.
