Eu podia ouvir o barulho que as cigarras faziam, indicando o verão, eu podia sentir o sol queimando minha pele e o calor distorcendo minha visão, eu lembro quão quente era o ponto de ônibus onde eu estava, mas não lembro quando ela chegou, mas lembro dela dizendo -boa tarde, quente hoje não? Levei um tempo para assimilar a voz que saia daquele ser, e responde-la com um sorri envergonhado e um balançar de cabeça.
Lembro de nosso apartamento com visão para um pequeno restaurante, onde comíamos em certas noites, lembro da pia com louças sujas do sofá onde dormíamos tanto quando em nossa cama, lembro dos cinemas que visitamos, do jeito que os olhos dela me olhavam, como as vezes ela lambia os lábios antes de falar, lembro o quão forte ela segurava minha mão e do cheiro do seu cabelo.
Lembro do cheiro da chuva, que me tirara de minha imaginação de verão, trazendo-me de volta para o dia quente no ponto de ônibus enquanto a chuva começava a cair, ela me olhava e meu coração batia tão forte que temia que ela escutasse, mas nenhum de nós falou, nem mesmo quando o ônibus passou e cigarras silenciaram-se.