Capítulo 6

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O elevador moderno e espelhado anuncia sua chegada ao vigésimo andar da Sobral Empreendimentos. Seguro a alça diagonal da minha bolsa de couro cruzada em meu peito e inspiro o ar com força aproveitando um pouco mais do meu curto momento sozinho. Aguardo a porta deslizar abrindo passagem para o hall branco, amplo e iluminado que dá acesso às salas da diretoria, do conselho e de reuniões.

Expiro endireitando a postura, alisando rapidamente meu traje social. Respiro conscientemente, novamente, na esperança de ao focar-me no ato, eu me energize para mais um dia longo de trabalho. E desejo de verdade que isso me ajude.

Absorvo um cheiro forte de café antes mesmo de sair e já sei que meu secretário me aguarda. Saul me espera, bem vestido, do lado de fora, segurando um copo térmico marrom com o aroma inconfundível escapando pelo suspiro da tampa verde.

— Bom dia senhor. - O velho e antigo recepcionista da empresa, com seu porte franzino de rosto marcado pelo tempo, cabelos brancos e bem cortados me passa o copo com o líquido fumegante e abre um sorriso com a testa vincada.

Desde quando eu era jovem, o Saul sempre me tratou com muito respeito, mesmo acompanhando minhas fases mais bagunceiras, onde as pessoas na firma torciam a boca ao me ver, ele parecia não se importar com minha baderna, meu perfil exterior ou minha reputação. Sempre fui tratado com muita educação e presteza.

Desde aquela época, já o estimava como pessoa, mas apesar disso, sua organização logo na entrada da empresa com protocolos, atendimento ao cliente e comunicação com terceiros e prestadores de serviços também era admirável, o que não me deixou dúvidas quando percebi que precisava contratar alguém para ser meu secretário pessoal.

— Bom dia Saul. Como estão as coisas hoje? - Sorrio de volta e levo à boca um pouco da bebida quente, pura e amarga.

— Bem agitadas. - Ele soa preocupado, mas ao mesmo tempo evasivo, fazendo um frio percorrer minha espinha. Travo a mandíbula e sinto os músculos da face contraírem quando engulo em seco. Qual foi a bronca dessa vez?

A verdade é que depois do acordo de fusão, no jantar, eu imaginava que as tensões na empresa melhorassem, mas pelo visto a agitação permanece presente.

— Qual a novidade? - Pergunto sem ter certeza se quero saber.

— O Conselho está reunido desde as 8h e acho que o assunto é sério, pois até agora ninguém saiu de lá. - Checo instintivamente o relógio: 09h20m, meu horário de sempre. — Eu ia ligar para o senhor, mas a Dona Lívia disse que não precisava lhe incomodar tão cedo. - Saul abaixa o olhar envergonhado, mas minha preocupação dissipa no momento que ele toca no nome da Lívia. Se ela não via necessidade de me chamar, então é porque está tudo sob controle.

— Tudo bem, não se preocupe. Tenho certeza que não é nada demais, afinal se fosse, Lívia teria sido a primeira a me chamar. Concorda?! - Tento tirar-lhe a preocupação e ele me abre um sorriso sem graça a contragosto. Entrego-lhe minha bolsa, agradecido por livrar-me do peso — Leve para a minha sala. Vou descobrir agora o motivo dessa reunião.

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A parede de vidro jateado, com largas faixas brancas, impede que eu saiba quantas pessoas estão sentadas à mesa na sala de reunião, mas as vozes calorosas do outro lado, aparenta-me que o assunto é sério

Esse andar era naturalmente silencioso, já que poucas pessoas transitavam por ele, entretanto, nesses últimos dias - para ser sincero, desde que minha mãe saiu da gestão administrativa da empresa - as coisas por aqui têm sido bastante movimentadas e confesso que isso me deixa apreensivo com muita constância. Tenho sempre a impressão que não confiam em mim como CEO, por isso raramente me deixam só. O que colabora para eu imaginar que a mesa, lá dentro, está rodeada de conselheiros cujos nomes nem me recordo de todos.

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⏰ Última atualização: Jan 11, 2018 ⏰

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