Heterochromia « zjm »

i'm not a monster [Editada]

Charlot Blue

- Tu és uma aberração! - berrou dando uma grande gargalhada de seguida, olhei-o com os olhos encharcados de lágrimas e neguei com a cabeça. - Ninguém nasce com um olho de cada cor, tu és deficiente Charlot!

- Isso não te dá o direito de me fazeres isto... - murmuro fungando,. o meu irmão revira os olhos e olha-me com nojo.

- Claro que tenho, estou a preparar-te para o teu futuro. - riu. - Devias ter nascido como um humano normal. - segurou o meu rosto, e eu solucei. - Pára de chorar nojenta!

- A mãe sempre me disse que eu sou especial.... - sussurrei.

- Mas ela já não está mais aqui! - exclamou apertando o meu rosto. - Agora sou eu que tomo conta de ti, tens de aceitar isso. - fez um beicinho idiota, e eu olhei-o com raiva. - Tu não és especial, tu és uma anormal deficiente. - as suas palavras magoavam-me, eu tinha apenas dez anos, porquê que ele me estava a fazer aquilo?

- Pára Ethan... - pedi soluçando.

- Não Charlot, eu quero que uses lentes de contacto. - olhei-o estupefacta. - Não quero ser gozado por causa de ti.

Durante dez anos da minha vida, eu sofri com o meu irmão e não só com ele. As pessoas dizem que o secundário é a melhor época da nossa vida. Totalmente errado. É a pior época da nossa vida, pelo menos para mim foi a pior época retirando as outras que também não foram agradáveis.

Lembro-me que as rapariga da claque me haviam convidado para uma festa, eu pensei que pela primeira vez na vida um grupo me estava a aceitar. Novamente totalmente errado. As pessoas não nos aceitam assim sem mais nem menos, isto caso tenhas o mesmo problema que eu. -heterocromia, anomalia genética que consiste na caracterização da cor dos olhos de alguns animais, fazendo com que cada olho tenha a sua cor. Ou seja, em cada 1000 pessoas umas seis devem de ter o mesmo problema que eu. Mas será que as pessoas reagem da mesma for que reagem comigo? - No dia da festa, eu fui humilhada.

Duas horas antes da festa:

Emma mostrou-me um vestido branco, e eu sorri pegando no mesmo e colocando-o à frente do meu corpo , a rapariga loira puxou os meus cabelos para trás e olhou-me através do reflexo do espelho com um sorriso angelical.

- Combina com a cor dos teus olhos. - falou e eu acho que notei um pouco de troça, por de trás do seu tom de voz. Saiu de perto do espelho, e trouxe logo em seguida um chocker necklace, realmente bonito e colocou perto do meu pescoço. - Vais ficar linda, para a festa. - acariciou os meus braços, e os meus olhos caíram nas suas mãos dando um sorriso um tanto constrangedor.

- Obrigada... - sussurrei segurando o vestido. Emma afastou-se e colocou as mãos na cintura. - Bom... até daqui a pouco então?

- Sim Charl... até daqui a pouco. - sorriu.

Baixei o vestido assim que me aproximei da porta e humedeci os meus lábios entrando calmamente dentro da casa, onde já se ouvia os gritos e as gargalhadas de toda a gente. A cada passo que dava, um olhar caia sobre mim, e as minhas bochechas aqueciam ligeiramente, algumas até se riam e eu não entendia o porquê... ou então simplesmente ignorava o porquê das gargalhadas.

- Charloty! - Emma gritou vindo até mim, com um vestido igual. Abri a boca espantada, e a mesma olhou com um sorriso estranho. - Não acredito que me copias-te Lotty! - gritou e automaticamente a música parou. - Que falta de originalidade.

- Eu... - olhei em volta e vi pessoas a apontar-me o dedo.

- Eu sabia que querias ser como eu... mas nunca pensei que levasses isso tão à letra. - olhei-a chocada e a mesma acariciou a minha bochecha. - Tu nunca serás como eu, nunca serás uma Emma.

- Tu... - fez um movimento com a mão mandando-me calar.

- Não tentes negar. - fez um sinal para o Dj e o mesmo assentiu.

- Quem me dera ser como tu, tu és linda e não tens de te preocupar com nada. - suspirei, e comecei a comer novamente. - As pessoas gozam comigo porque eu tenho um olho de cada cor, acho-as idiotas... - Emma estalou com a boca. - Elas pensam que eu sou um monstro... - bati com os talheres no prato.

- Eu acho-te normal Charloty...

- Obrigada Emma, mas eu mesma já não me sinto tão normal. - revirei os olhos e os mesmo encheram-se de lágrimas. - E até o meu irmão me trata, como se eu fosse um...

- Pára! - gritei sentindo as lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas, o meu peito doía e toda a gente se ria de mim, senti-me ser empurrada por alguém e logo a minha roupa ficar molhada. Olhei para baixo e vi o meu vestido branco ficar completamente roxo na zona abdominal. - Porque é que me fizeste isso? - apontei para o grande ecrã.

- Porque, Charlot... tu ofendeste muitas pessoas. - gargalhou. - Chamas-te idiotas a todos nós. - neguei. - É mentira pequena? Acabámos de o ver e ouvir. - mordi o meu lábio inferior. - Achavas mesmo que te conseguias integrar?

- enxuguei as lágrimas. - Porquê?

- Porque tu és um monstro! - exclamou.

- Eu só sou um pouco diferente... - solucei.

Andava pelas ruas frias de Londres calmamente, procurando o supermercado mais próximo da minha nova casa. Desde os quinze anos que tenho andado a trabalhar em part-times, e guardado os meus ordenados, lembro-me de um dia Ethan ter encontrando as minhas poupanças, e ter-me batido por as ter, ele retirou-me algum dinheiro e apartir desse dia eu encontrei outro local para guardar. Dentro de uma caixa, dentro do meu guarda roupas num esconderijo onde ficava quando era mais nova e queria fugir das pessoas que tanto gozavam comigo.

Senti o meu corpo ir contra outro corpo, e dei um passo atrás, ajeitando os meus óculos escuros olhei para cima encontrando um rapaz de estatura alta, olhei-o de cima abaixo e encarei os seus olhos castanhos esverdeados. Franzi as sobrancelhas e assim que abri a boca, o moreno tapou a mesma e puxou-me com ele para um espaço mais vazio - sendo mais clara um beco - retirei a sua mão da minha boca, e encarei-o confusa.

- Qual é o teu direito de me raptares? - questionei um tanto assustada.

- Eu dou-te o que quiseres, mas por favor fala baixo. - pediu colocando o meu indicador sobre os meus lábios, olhei o seu dedo. - Ninguém pode saber que eu estou aqui.

- E o que é que eu tenho haver com isso? - inquiri retirando o seu dedo da frente dos meus lábios. - O problema é teu e não meu.

- Não me conheces?

- Devia? - perguntei olhando-o atentamente, já tinha visto a sua cara em algum sítio mas não me lembro onde. - Se me dás licença eu tenho de ir às compras.

- Emprestas-me os teus óculos? - olhou-me apreensivo e eu ri.

- Claro que não... compra uns para ti. - reclamei e o mesmo retirou-me os óculos. - Hei! - a sua boca abriu-se por completo.

- Os teus olhos...

- É eu sei, um de cada cor. - reclamei. - Sou um monstro... já sei, o habitual. - retirei os óculos da sua mão e sai de perto dele.

OLAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!! TURO BOM?!