Charlot Blue
Puxei as mangas da minha sweatshirt e senti o vento bater no meu rosto, suspirei tremulamente e olhei os carros passarem, mordi o meu lábio inferior e levantei-me do banco da paragem dando um pequeno passo para à frente. Funguei e repensei naquilo que surgiu na minha mente, afinal de contas quem sentirá a minha falta? Quem sentirá falta de uma rapariga anormal? Quem sentirá falta de uma pessoa insignificante? Ninguém, claramente ninguém toda a gente me odeia. Tapei a boca assim que um carro buzinou alto, olhei na sua direção de olhos arregalados e recuei acabando por cair no chão.
Respiro ofegante e levanto-me lentamente, caminho lentamente para trás e volto a sentar-me no banco gelado da paragem. Acabo por colocar o gorro da minha camisola e limpo as lágrimas, sentindo o meu coração bater freneticamente, e sentindo todo o meu corpo cheio de adrenalina. Humedeço os meus lábios e engulo em seco, vejo de longe o autocarro e levanto-me cabisbaixa.
Abri a porta do meu apartamento com algum medo, e entrei no mesmo olhando diretamente para a sala, vi várias latinhas de cerveja em cima da mesa de centro e suspirei baixinho. Ethan não estava na sala, e eu dei graças a Deus por não ser a sua cara, a primeira coisa que vejo ao entrar, pouso a chaves no pequeno chaveiro e enrolo o meu cabelo num coque. Caminho calmamente até à cozinha e pego um saco do lixo. Começo a meter todas as latas dentro do saco, e em seguida os papéis sujos, tal como os pacotes vazios de batatas fritas e as caixas de bolos.
Ele trouxe pessoas para o meu apartamento.
Depois de limpar toda a sala, caminho pelo o corredor com receio de o encontrar, abro a porta do meu quarto e um suspiro de alívio sai desamparado dos meus lábios, abro a porta da casa de banho e nada, vou até ao quarto de hóspedes e abro o mesmo, reviro os olhos ao sentir o cheiro dentro do mesmo, e o meu estômago revira-se por completo. Vejo o monte na cama, e posso declarar que Ethan estava ali deitado, fechei a porta com cuidado sem fazer barulho e fui para o meu quarto.
Abri o meu armário e retirei do mesmo umas calças de ganga escura e uma blusa de malha branca, agarrei também um conjunto de roupa íntima preta e fui até à casa de banho. Tranquei a porta por precaução, coisa que nunca fiz na minha própria casa. Pousei as roupas no tampo da sanita, e liguei a água e enquanto a mesma aquecia retirei as roupas sujas do meu corpo. Deitei tudo na cesta da roupa, e entrei na banheira. Assim que a água entrou em contacto com o meu corpo, eu soltei um suspiro, levantei a cabeça e passei as mãos pelo o meu cabelo, abri os olhos e encarei a parede de azulejos cinzentos.
Passei a mão pelo espelho evaporado, e encarei o meu reflexo, olhei os meus olhos e em seguida o meu rosto.
- Eu odeio o que vejo. - sussurrei para mim mesma, e esse simples comentário vindo de mim mesma, só me fez sentir pior pois acabo por perceber que é a pura realidade.
Escovei os dentes, e após isso, sequei o meu corpo e vesti as roupas escolhidas, saí da casa de banho e praticamente caminhei para o meu quarto, tranquei a porta e fui buscar umas meias de andar por casa. Sentei-me na minha cama, e peguei o computador em cima da mesa de cabeceira, ligando-o. E durante toda a tarde eu fiquei no meu quarto, a ver o monte de séries, sem ser incomodada pelo o meu irmão que dormia no quarto ao lado.
- batidas fortes na minha porta começaram a soar, fechei os olhos e respirei fundo. - Abre essa merda! - berrou. Humedeci os meus lábios, e peguei os auriculares em cima da mesa, abri uma página no youtube e coloquei qualquer música e antes de meter o volume no máximo consegui ouvir Ethan dizer. - Se não abrires eu vou arrombar.
Fixei o meu olhar na porta de madeira, e comecei a mordiscar o meu lábio inferior ao ver a mesa abanar, eu podia esconder-me no meu roupeiro e pensar que ele não me iria encontrar, como fazia quando era mais nova. No entanto eu não irei fugir, porque eu sei o que irá acontecer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Heterochromia « zjm »
FanfictionOnde Charlot, odeia mostrar os seus olhos, devido ao seu passado que não a deixa de modo nenhum. Onde duas pessoas que vivem em mundos totalmente distintos se cruzavam da forma mais cliché possível.