Ano 480, dia 250 após o Ragnarok.
- Puta merda. - A dor de cabeça piorava a cada semana.
- Bom dia senhor Seldon, por favor aguarde uma leitura de seus parâmetros de saúde. - Uma voz falava nos autofalantes do convés.
- Como se isso fosse me salvar.
- Leitura finalizada, a ração foi adaptada de acordo com seu estado de saúde, a prática de exercícios diária é recomendada para evitar a perda óssea espacial.
Eu não sou o primeiro, nem o último a acordar após o temido fim dos tempos, os dias demoram a passar a bordo da única espaçonave restante da humanidade. Eu não verei os campos do novo mundo, mas MARY disse que sou a esperança da humanidade. E como os nossos antepassados, eu aprendi a confiar em MARY.
- MARY, onde estava Odin? - Todos os dias faço a mesma pergunta na esperança de sempre ver o brilho do nosso berço.
- Aqui senhor. - Um cursor demarcou uma das estrelas no horizonte através da grande janela espacial do meu dormitório.
- Ela parece tão viva daqui.
- A distância que estamos ainda vemos o brilho que ela emitiu em outros tempos, mas não passa de reflexos do passado.
- Qual a distância já viajamos?
- Aproximadamente 160 Anos-luz.
O trabalho me espera, infelizmente os sistemas não se mantém sozinhos.
Ano 480, dia 251 após o Ragnarok.
Abro os olhos, o dia já está claro, ela como sempre se levantou primeiro e abriu a janela para que eu acordasse com o brilho de Odin no rosto. O ar puro do planeta Asgard é tão revigorante, as vezes me esqueço da sensação. O cheiro do café já invadia nosso quarto, me apresso, após um banho quente, visto uma roupa social e desço para a cozinha.
- Bom dia meu amor, que bom que acordou. - Ela sempre me recebe com um beijo carinhoso e um sorriso no rosto, seus olhos e sorriso, tudo é lindo como no último dia em que os vi de verdade.
- Bom dia princesa. - Meu sorriso é sincero, mas minha alma está destruída por esconder a verdade.
Caminhamos todos os dias pelos bosques do centro de pesquisa MARY em Asgard, os matemáticos todos moram aqui, nesta vila de cientistas, eu só estou aqui para garantir que eles façam seu trabalho.
- Barbara meu amor, não fique muito tempo dessa vez. Imersões repetitivas em realidade virtual causam dores de cabeça.
- Selton, estamos próximos a uma grande descoberta. A consciência artificial MARY decidiu sozinha a espalhar sondas contendo vida pela galáxia, estamos próximos a descobrir o porquê.
- Você acha mesmo que podemos confiar em MARY para tomar as decisões mais importantes pela espécie?
- MARY sabe tudo, MARY vê tudo, MARY sabe o que é melhor para todos nós.
Eu sabia o que ela iria dizer, e eu sabia os motivos de MARY, afinal eu já vivi isso, nunca acreditei que confiar o futuro da humanidade a uma máquina seria o mais sensato, ainda tenho minhas dúvidas.
Minha querida Barbara e mais 12 cientistas todos os dias imergem na realidade virtual, onde habita MARY, para estudar suas decisões e entender como ela vê o futuro da sociedade. Eu só tenho que fazer tudo funcionar, essa é minha função, eles têm que descobrir sozinhos.
Ano 480, dia 252 após o Ragnarok.
Acordo mais uma vez na espaçonave Élpis, com a dor de cabeça cada vez pior.
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Lembranças do Ragnarok
Science FictionEspaçonave deserta Élpis, um único tripulante, em suas mãos toda a raça humana; Deixou em sua origem um amor, um passado, uma história; Carrega para o futuro a esperança de toda uma espécie.