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    — Lottie, ele é maravilhoso. Eu vou ter ele — sussurrou.
    — E você sempre consegue...
    — E eu sempre consigo o que eu quero. Pode anotar o que eu digo.
    E eu sabia que ela ia conseguir ficar com nosso professor. Era sempre assim. Eu tinha que concordar que ele era maravilhoso, mas infelizmente Chloe disse que queria primeuro o dono dos belos olhos verdes, cabelo loiro e um corpo que me dava certeza que ele já foi um jogador de futebol americano.
    — Queridos alunos, bom dia. — Robert anúnciou com sua voz rouca e sotaque britânico. Acho que poderia ter um orgasmo durante aquelas aulas só ouvindo ele. — Antes de começar a aula, quero dizer que para a audição da peça de primavera... Você está atrasado, senhor Dallas. — O menino mais dark, antisocial dessa sala chegou.
    Todo de preto como sempre, parecia mais um vampiro. Se bem que até vampiros devem se sentir ofendidos ao serem comparados com ele. Cameron Dallas, ou Cameron Dark como eu o havia apelidado, o garoto mistério que ninguém queria desvendar, se sentou em sua cadeira de sempre ao lado da janela. Ninguém mais ousava sentar naquela carteira, porque na última vez que isso aconteceu, vermelho sangue foi visto.
    — Um pequeno imprevisto.
    — Ah sim. Bem, como estava dizendo, para a audição da peça de primavera faremos duplas — pode se ouvir um burburinho por toda a sala. Trabalho com amigos é sempre uma desculpa a mais para conversar.
    — Será que o Rob pode ser minha dupla? — Chloe perguntou maliciosa. — Tenho certeza que seremos ótimos juntos. — Ri baixinho. Chloe é uma flertiadora incurável.
    — Silêncio turma. Deixem-me continuar. Essas duplas serão formadas através de sorteio. — Outra vez o burburinho, mas nervoso dessa vez — Surpresos? Meu objetivo é que vocês atuem com pessoas diferentes de seu convívio, treinando-os para futuros trabalhos. Então temos trinta alunos, serão quinze duplas. Eu estava pensando em casa em como faria o sorteio e então me veio a cabeça de fazer em ordem alfabética.
      — Chloe, será que nós vamos ficar juntas?
      — Nós temos que ficar juntas, Charlotte. Juntas seremos as mais incríveis daqui.
      — Então vou começar. Anne junto de Bennett... — disse assim que pegou uma filha de cima da mesa.
      Enquanto senhor Wolfe anunciava quais eram as duplas, eu viajei. Para mim estava certo quem seria minha dupla: minha melhor amiga é claro! Seríamos imbatíveis, mas eu estava errada e logo descobri isso.
      — Cameron e Charlotte. Chloe e Felicity...
      — Não! - gritei e isso fez todos me olharem, até o senhor Dark que só olhava para fora da janela e para o professor desviou seus olhos para mim por alguns segundos.
      — Algum problema senhorita Johnson,  ou eu posso continuar? — Robert levantou uma de suas sobrancelhas como que me desafiando a discordar do sorteio. Eu apenas abaixei minha cabeça fingindo que não existia. E assim fiquei por um bom tempo.
      Não conseguia prestar atenção em mais nada, espero que Chloe ou meu par esteja. Fui despertada somente quando as cadeiras começaram a se mover e Chloe saiu do meu lado.
      — Pra onde você tá indo? — Sussurrei.
      — Eu estou indo pegar minha cena — e piscou para mim enquanto se dirigia ao britânico. Chloe colocou a mão dentro de uma caixa retirando um papel de lá, sorrio para o professor que repetiu sua ação e voltou para a mesa junto com uma moça com uma bela pele negra e cabelos longos cacheados até a cintura. Enquanto eu era só uma loira meio sem sal, Felicity — a par de Chloe — era a personificação da beleza.
      — Oi, Lottie. Por que você não está sentada com seu parceiro? — Felicity perguntou se dirigindo a mim.
      — Por que eu estaria? — rebati um pouco rude.
      —  Porque o Rob pediu, Charlotte — interveio Chloe ao notar meu tom. — Ele já pegou o tema de vocês, melhor você ir sentar com ele.
      Rolei os olhos, mas a obedeci.
      No curto caminho até o senhor Dark, eu senti que estava indo em direção a forca. Tudo o que eu queria era que alguém me salvasse. Também queria parar de pensar no que aconteceu na última vez que alguém se atreveu a sentar ali: a cor vermelho sangue. Quer dizer, talvez eu tenha exagerado, mas estava para acontecer caso o professor não tivesse chegado e acabado com a discussão que estava tendo.
      Agora eu já estava um passo atrás de Cameron Dark, o antisocial. Catei cada pedacinho de coragem dentro de mim e falei:
      — Posso me sentar aqui? — e apontei para seu lado, mas a única resposta que tive foi um olhar de descrença, e mesmo assim puxei uma carteira para sentar ao seu lado. — Eu sou a Charlotte Johnson, sua parceira nesse trabalho. — Estiquei minha mão na sua direção. Ele bufou, não podia ter sido menos rude, mas aceitou a minha mão.
      — Cameron Dallas. Esse aqui é nosso tema, Johnson.
       Agora foi minha vez de lançar um olhar de descrença. Só meus pais quando estão brigando comigo me chamam pelo sobrenome, então já pode imaginar o quanto odeio que me tratem por ele. Eu não sei se vou suportar isso por sei lá quanto tempo esse trabalho irá durar.
      — Pode me chamar de Charlotte, Cameron.
      — Eu prefiro trata-la pelo sobrenome, Johnson. — Eu prefiro que você morra, mas nem sempre temos o que queremos
      — Tá bom. — falei como se isso não me incomodasse — Se você prefere assim, Dar..llas - suprimi um riso ao notar que quase o chamo de Dark.
      — O que foi? — Ele estava confuso. Balancei a cabeça em negativa para afastar qualquer pensamento.
      — Qual a nossa cena?
      — Leia você mesma — e me entregou o papel.
     Eu não pude crer no que estava lendo. Meus labios se abriram em um sorriso sarcástico: com o par que eu tinha, aquela seria a cena mais fácil de fazer na vida.

INSANOOnde histórias criam vida. Descubra agora