três - o sumiço

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      A noite fria está prometendo neve, foi a primeira coisa que pensei assim que pus meus pés para fora do café em direção a meu quentissimo apartamento. O caminho é curto e eu adoro fazer ele andando para aliviar a mente e principalmente para curtir um tempo comigo mesma sem nenhuma preocupação além de precisar chegar em casa.
      No momento em que cheguei na escada do meu prédio, a promessa foi cumprida. Flocos de neve rodopiavam na minha frente deixando o ambiente mágico. Sentei ali mesmo e fiquei observando a rua movimentada demais para uma terça-feira fria. Pessoas com o dobro de seu tamanho normal por causa das roupas de frio andavam apressadas procurando chegar logo em algum abrigo quente. Eu devia me destoar muito delas já que estava parada e com uma roupa muito mais leve que a delas porque eu normalmente não sinto frio e um sobretudo pesado era o suficiente para eu não congelar.
      Passado uns cinco minutos, ele deixou de suficiente e entrei correndo para meu prédio. Subi o lance de escadas parando no segundo andar na frente do apartamento 204 e ouvi barulhos de panelas e risadas de duas pessoas. Aquele não é o som que estou acostumada a ouvir quando chego. Mas o que será que Chloe está aprontando?
      Destranco a porta e vejo duas mulheres altas de cores bem distintas lambendo os dedos em frente ao fogão onde saia fumaça de uma panela.
      — Eu não posso acreditar que vocês queimaram uma panela com caramelo. — Falei observando o conteúdo dentro dela. — Mas se me falarem que era a Chloe cozinhando, eu acredito sim.
      — Ei! Eu sou ótima na cozinha. — Disse a loira me dando um tapa no ombro.
      — Não foi o que pareceu. — A morena se juntou ao meu time.
      — Você só é uma ótima cozinheira se envolver microondas e comida para esquentar. Que eu saiba nessa casa quem cozinha sou eu e você só olha.
      — Ei! Assim eu fico magoada. — Era o que ela dizia, mas seu rosto reprimia um riso.
      — Tudo bem. Vem cá, amiga. — Puxei-a para um abraço que ela aceitou de bom grado. — Eu só estou sendo sincera — disse perto do ouvido dela, Felicity riu alto e Chloe me afastou.
      — Credo. Que bom que Deus não me deu inimigas, porque vocês já são o suficiente pra me ofender.
      E ficamos ali na cozinha jogando conversa fora enquanto eu aprontava um caramelo para elas comerem já que eu queria algo salgado como um hambúrguer. E bem, quando a carne começou a cheirar elas quiseram um também. E quando ficaram prontos, fomos para a sala comer
      — Nossa, você tá com fome em Lotte — Chloe apontou.
      — Você não imagina o quanto — bufei de raiva — Acredita que eu atrasei meu intervalo no café para usar ele para estudar com o Dallas, e quando ele finalmente chegou não ficou nem dez minutos?
      — Como assim?
      — Mas por quê?
      As duas estavam curiosas. E eu também.
       — Ótima pergunta meninas, mas aquele garoto é estranho demais para eu entender.
        Comi todo meu hambúrguer em silêncio enquanto ouvia elas conversar, e me levantei assim que terminei para tomar um banho.
      Entrei no meu quarto e o efeito de sempre caiu sobre mim. Qualquer preocupação do dia tinha ficado porta a fora. Ali nada me abalaria. Liguei a iluminação que imitava estrelas. Tirei minhas roupas e joguei na cadeira da escrivaninha e me encaminhei para o banheiro. Lá liguei um pequeno abajur que me deixava numa penumbra agradável e entrei no box.
      Quando a água tocou minha pele, eu relaxei por completo. E todo o estresse que eu tinha passado, desceu pelo ralo.

***

      Despertadores, são uma merda. Sim, esse foi o meu primeiro pensamento ao acordar. Eu só não pensava que a palavra "merda" viria a passar pela minha cabeça mais uma vez naquela manhã quando o professor Wolfe deu por encerrada a aula e nada do Sr. Dark aparecer.

Parceiro da aula de teatro,
Acho melhor você se fazer digno de aparecer na próxima aula.
Eu quero excelência no nosso trabalho e pra isso infelizmente preciso de você também. Então cumpra sua obrigação e para aulas. E também não fuja dos ensaios.
Atenciosamente irritada, Charlotte.

      — O que vocês vão fazer hoje a noite? — A pergunta de Felicity me tirou da mensagem irritada que eu mandava.
      — Nada planejado, mas querendo algo. — Chloe respondeu.
      — Eu quero uma festa, com muita bebida — respondi.
      — Eu tenho uma solução que ajuda as duas. Conheci um Pub maravilhoso na Main Street, várias pessoas legais, vocês topam.
      — Com certeza — juntas respondemos como se fosse ensaiado.

***

      — Como estou? — Minha colega de apartamento perguntou assim que entrou na sala.
      — Sexy, mas na medida. — respondi ao olhar ela em sua calça jeans e um body de manga longa preto e branco matador, e salto vermelho — E eu? — Dei uma voltinha pra ela ver melhor. Estava com um cropped rosa claro, sobretudo vermelho e calça clara de cintura alta.
      — Dona de si mesma. — Sorri largo amando o elogio. — Vamos lá pra baixo, Fe já me mandou mensagem dizendo que está chegando.
      Assim que chegamos no andar de baixo, o carro da Felicity estacionou. O caminho até o Pub maravilhoso que ela ia nos mostrar foi animado.

      E mais animada fiquei ao chegar no Pub e Hands to Myself da Selena Gomes está tocando, e isso me impulsionou para a pista de dança, onde poucas meninas estavam. Logo roubo a cena delas atraindo vários olhares,  tanto delas quanto dos homens nas mesas. Remexi meus quadris e braços em perfeita sincronia. O dj mudou a música e essa foi minha deixa para pegar um drink. Procurei minhas companheiras, mas elas já tinham sumido de vista.
      — A noite mal começou e você já pode ser coroada a rainha da pista. — Girei o meu corpo para ver quem tinha falado comigo.
 

    Mal pude acreditar quem era: um verdadeiro príncipe da Disney! Cabelo loiro e olhos azuis, blusa de botões justa no  corpo escultural. Se ele não era meu match da noite não sei mais quem seria.
      — Eu quero dançar uma música com você. Topa? — Um sorriso sex e desafiador surgiu em seu rosto. E involuntariamente acenei com a cabeça concordando. Ninguém pode chegar e me desafiar assim, principalmente se tratando de dança — Me espera aqui. Eu já volto.
      E ele simplesmente desapareceu na escuridão do Pub, que descobri se chamar Wonder ao olhar pra parede atrás do bar. Bebi o drink de vodka pura que o barman tinha acabado de me entregar e chacoalhei a cabeça. Quanto mais rápido o efeito, melhor.
      — Voltei. Vem. — E seus dedos se entrelaçaram aos meus me puxando para o lugar mais amplo para termos muito espaço para dançar.
      A música que tocava era agitada, mas eu não reconhecia e isso tirou um pouco minha confiança. Mas no momento que ele soltou minha mão a batida mudou para a sensual Work da Rihanna e o sorriso dele foi reflexo do meu. Apoiei minha mão no peito dele e me aproximei dele para sussurar:
      — Você vai ter um show particular agora. Se prepara.
      Passei a outra mão pelo pescoço dele juntando bem o nosso corpo, e rebolei ao ritmo da música e ele acompanhava perfeitamente. Work por si só é excitante, mas com olhos daquele príncipe focados nos meus, era um delicioso prazer.
      — Qual seu nome? — No meio da música ele me perguntou, quando eu tinha ficado com as costas coladas no peito dele.
      — Lindsay — Menti. Apenas pessoas importantes mereciam saber meu nome. — E o seu?
      — Lewis. O que você acha de sairmos daqui?
      A voz de Drake me embalava, desci até o chão e voltei rebolando. Os olhos azuis de Lewis não desviavam de mim.
      — Acho uma ótima idéia.

***

      Era segunda-feira de manhã e ainda lembrava da noite deliciosa que eu tive com Lewis. Mas todo o prazer e felicidade que senti estava passando junto com os segundos que Cameron não aparecia na aula.
      Sentei na cadeira oficial do senhor Dark e daqui eu podia ter uma visão do rio que passava ali perto e um pequeno amontoado de árvores. Se era esse o motivo que ele zelava tanto por essa cadeira eu agora o compreendia.
       Quando tocou o sinal da saída e mais uma vez ele não tinha aparecido raiva cresceu dentro de mim. Eu queria socar aquela cara que formava um sorriso tão perfeito. E de preferência quebrar cada um dos dentinhos dele.

INSANOOnde histórias criam vida. Descubra agora