Molly permanece no seu cantinho, só quando saio do banho ela levanta e anda ao meu lado em direção ao quarto. Já passam das 22 horas.
- Nossa Molly, quanto tempo fiquei no banho?
Ela me olha e pula na minha cama já aconchegada e destinada a não descer.
- Você anda muito folgada. Até parece seu pai – Ao lembrar de Pedro torço para que tudo esteja bem, mas tento não pensar no pior e me distrair com qualquer coisa – Vamos ler alguma coisa? – Falo com Molly que já dorme profundamente.
Pego o livro que está ao lado de minha cama, mas não consigo me concentrar na leitura, olho para Molly que dorme tranquilamente e resolvo fazer o mesmo. Deixo meu celular no volume alto e coloco a música mais escandalosa de minha galeria como toque de chamada. Fecho os olhos e tento dormir, viro para todos os lados na cama, sem sucesso. O sono demora para chegar e quando estou prestes a adormecer, o celular que está ao meu lado toca. Pego o aparelho e sinto meu peito apertar quando o identificador mostra que a ligação é de Pedro.
"Está tudo bem?"
"Sim querida" – As palavras soam um pouco enroladas e percebo que ele está bêbado – "Na verdade estão mais ou menos"
"O que aconteceu?" – Olho para o relógio e são meia noite e quarenta, certeza que a festa não terminou cedo e Pedro nunca volta antes das três horas. Eu provavelmente deixei um pouco de minha ansiedade transparecer em meu tom de voz, porque agora Pedro fala mais calmamente.
"Não foi nada de grave, eu sei que você teve aquele seu pressentimento, mas não foi nada muito catastrófico" – Ouço uma risada ao fundo e logo depois Pedro Ri – "Você pode vir buscar a mim e ao Roberto na delegacia?"
"Delegacia? Por que você está na delegacia?" – Grito ao telefone fazendo Molly acordar assustada e correr latindo em direção a porta.
"O Miguel agarrou uma mulher casada na festa e o marido dela viu, os dois acabaram brigando e a polícia foi chamada" – Ao fundo escuto a voz de um homem dizer algo a Pedro o fazendo rir. Miguel e Roberto, dois fanfarrões e metidos a conquistador de mulheres, mas a única coisa que conseguem fazer é se meter em confusão.
"Esses dois, já parou para perceber que eles só metem você em confusão?"
"Calma amor. O Arthur estava junto."
"Quem é esse? Outro para te levar ao fundo do poço?"
"Opa, não fala assim. Ele é o garoto que contrataram a pouco, um estagiário, nos ajudou no nosso caso e está nos ajudando agora" – Seu tom de voz baixou e tive que grudar o celular no ouvido para escutar o que ele dizia – "O pai do garoto é chefe do departamento em que estamos, ele vai ajudar ao Miguel sair dessa limpo"
"Isso é muito errado" – Massageio a têmpora tentando fazer meus nervos acalmarem.
"Você vem?"
"Passa sua localização por mensagem"
"Eu te amo querida"
"Tem que amar mesmo"
Desligo o celular, coloco uma calça jeans e tênis all star, jogo uma blusa por cima da regata que já estava vestida, mas acabo tirando tudo pois esqueci de colocar o sutiã. A todo momento Molly me olha e acompanha todos os meus movimentos. Quando fecho a porta para sair, ela corre em direção ao carro e tenta passar por mim e entrar pela porta do motorista.
- Não Molly, não é hora de passear – Dou um leve empurrão, mas ela volta a tentar entrar novamente – Prometo que amanhã vamos ao parque – A puxo pela coleira até um portão lateral, a deixando presa – Mamãe te ama.
Jogo um beijo para ela e a deixo chorando, então o pressentimento de algo ruim estar acontecendo retorna.
- Calma Rebecca, o Pedro está bem, a Moly está bem, estamos todos bem – Fecho os olhos e respiro fundo. Ao me sentir mais calma, digito o endereço que Pedro mandou no GPs e ele indica que o endereço fica a 40 minutos de distância – Minha nossa.
Ando devagar para fazer Pedro e seus amigos encrenqueiros esperarem o máximo possível. Paro em todos os sinais vermelho, mesmo que não tenha nenhum outro carro passando na rua, afinal já é madrugada e devo ser a única alma viva e sóbria perambulando noite a dentro. Quando o GPs avisa que faltam apenas 10 minutos para o meu destino, lembro de algo que meu pai disse quando Pedro deu-me de presente esse carro.
"- Não fica tarde da noite bobeando com esse carro na rua. Uma mulher sozinha no volante é alvo fácil para qualquer bandidinho de meia tigela." – Meu pai foi por muitos anos detetive do departamento de homicídios e mesmo hoje aposentado continua visitando seu antigo local de trabalho, buscando novas informações sobre como os bandidos estão agindo – "Uma mulher pequena como você, em um corola preto do último ano como esse. Até eu assaltava".
Sorri ao lembrar disso, mas comecei a andar mais rápido e permaneci alerta a todo sinal de movimento. Fiquei parada em um sinal vermelho contando os segundos para ele abrir e quando a linha verde abriu para mim, corri um pouco mais. Passei pelo primeiro, segundo e terceiro semáforo. Estava passando pelo quarto semáforo quando uma luz forte iluminou a janela do meu passageiro.
Olhei rapidamente, mas não consegui distinguir o que era, talvez um carro grande, um ônibus, um caminhão ou até mesmo um carro da coleta de lixo. Podia ser qualquer coisa, mas o que eu sei, é o que ele está fazendo comigo. O veículo bateu no meu carro, bateu tão forte que primeiramente senti meu corpo sendo jogado em direção ao passageiro, depois fui arremessada em direção a minha janela. Minha cabeça se chocou com força contra a janela, senti o cinto de segurança jogar meu tronco contra o meu banco e tenho certeza que quebrei duas, talvez três costelas.
Quando sai da faculdade de enfermagem, meu primeiro emprego foi na área de urgência e emergência em um hospital referência em acidentes de trânsito na minha cidade. Talvez meus 3 anos de experiencia agora estejam me dizendo que, com toda certeza, eu estou em uma posição muito desfavorável. Quando consigo abrir os olhos, percebo que estou pendurada e meu carro capotou parando de cabeça para baixo. Só agora entendo que durante todo o dia, o sentimento de que algo ruim iria acontecer não tinha nenhuma ligação com Pedro e sim comigo.
Toco meu rosto com dificuldade e cuspo uma bola de sangue que sai junto com uma tosse desengonçada. Ouço ao fundo o barulho de sirenes. Tento permanecer acordada, mas uma espécie de cansaço me faz cair em uma espécie de sono sem sonho, apenas o negror de minha mente, onde tudo que consigo fazer é escutar o que acontece ao meu redor.
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Antes que sua luz apague
RomanceRebecca e Pedro namoram desde os 18 anos. Rebecca é uma jovem evangélica que dedica sua profissão a fazer o bem em nome de Deus. Pedro é um fanfarrão e embora vá algumas vezes a igreja não coloca isso como prioridade. Mesmo diante das várias opiniõe...