O olho com o canto dos olhos e meu semblante assustado serviu como um "sim" que está preso em minha garganta.
- Quem é Rebecca? – Arthur está totalmente perdido e nos olha assustado, esperando uma resposta.
- A minha esposa.
Digo um pouco baixo demais, minha voz falha e sinto o pânico crescer.
- Pedro liga para ela – Roberto me olha assustado e preocupado - Deixa que eu ligo – Meu amigo então arranca o celular de minha mão e começa a procurar o contato de minha esposa.
Estou petrificado. Tudo ao meu redor está em câmera lenta e sinto um vazio preencher meu peito.
"Não Rebecca, não foi você. Chega logo nessa delegacia. Por favor."
- Ela não atende – Roberto retorna com o celular em mãos e vejo que está extremamente preocupado.
- Esperem vou ver se consigo alguma coisa lá dentro.
- Faz isso.
Arthur sai correndo, mas parece que cada movimento seu é lento. Tudo ao meu redor está silencioso o som do relógio na parede a minha frente é assustadoramente alto e me faz arrepiar. Então lembro do que Rebecca me disse hoje, o pressentimento de que algo ruim iria acontecer. Será que ela estava certa? Será que algo realmente ruim aconteceu? Tento lembrar o que ela vestia quando sai de casa, um roupão? Short? O que ela disse quando sai? Algo sobre 90 anos? Como não consigo lembrar disso?
- Anda Pedro. Vamos – Escuto ao longe Roberto me chamando e sinto que estou em movimento, mas tudo ao meu redor não passa de tinta borrada. Na minha mente está tudo em silencio e a única coisa que consigo ouvir é leve som dá risada de Rebecca.
- Rebecca.
- O que você disse?
Estou sentado no banco de trás de um carro, o cheiro de mofo penetra minhas narinas me fazendo espirrar várias vezes.
- Para onde estamos indo? – Como vim parar aqui? Os dois homens se entreolham, Arthur que está dirigindo aperta o volante e Roberto desabafa.
- Pedro, você lembra do acidente? – Faço um sinal positivo com a cabeça – OK. Não conseguimos entrar em contado com a Rebecca. A Rosa, a moça da recepção, emprestou o carro dela para que a gente possa ir ao hospital. A mulher do acidente – Ele respira fundo – ela tem as características da Rebecca.
Características? Quais características? Uma pele branca e macia com o cheiro frequente de álcool em gel e rosas? Os cabelos castanhos ondulados que vivem arrepiados? Os olhos castanhos gentis e amorosos com uma leve linha esverdeada? Os lábios rosados que ao formarem um sorriso fazem qualquer homem ajoelhar em seus pés? Seus 1,60 metros de altura? Essas características? Não consigo dizer isso para eles, talvez se eu disser eles confirmem e eu não quero isso. Deus, por favor, que não seja a Rebecca naquele hospital. Por favor.
- Chegamos – Arthur para o carro em frente ao hospital que já conheço. Vim muitas vezes encontrar Rebecca nessa mesma porta. O hospital que ela trabalhava, que ironia. A adrenalina corre pelo meu sangue, talvez tarde demais ou no momento certo, como saber? Então saio correndo do carro e Roberto salta logo atrás de mim. Ando até a recepção e um homem moreno e um tanto corpulento está digitando algo no computador.
- Minha esposa. Quero ver minha esposa – O homem que estava distraído me olha vagarosamente e só então percebo que conheço seu rosto marcado pelo tempo de algum lugar.
- O horário de visita acabou...
- Mas que merda, ela acabou de sofrer um acidente – Bato no balcão com o punho fechado fazendo o homem pular na cadeira.
- Pedro acalme-se. Ainda não sabemos se foi ele – Roberto me olha assustado e o vazio no meu peito aumenta.
- Como é o nome? – O atendente alterna o olhar entre Roberto e eu, ainda um pouco assustado.
- Rebecca Marins.
Espero impaciente o homem digitar seu nome no computador, mas um policial negro parado na porta de entrada para a sala de emergência chama a minha atenção.
- Senhor Amadeu? – O pai de Arthur me olha assustado – É Rebecca? O nome da mulher no corola.
O homem me olha como se já tivesse entendido toda a situação e sem ao menos dizer uma palavra já sei que era Rebecca.
- Ela está bem?
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Antes que sua luz apague
RomanceRebecca e Pedro namoram desde os 18 anos. Rebecca é uma jovem evangélica que dedica sua profissão a fazer o bem em nome de Deus. Pedro é um fanfarrão e embora vá algumas vezes a igreja não coloca isso como prioridade. Mesmo diante das várias opiniõe...