7. Bapmogolka?

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P.O.V. Jimin

  A grelha chiava com a carne recém posta na minha frente, minha boca salivava por causa do cheiro, eu acompanhava com os olhos o tal de Jeon alguma coisa levar pedaços de carne, uma por uma para dentro da boca, com os mais diversos acompanhamentos. Parecia delicioso. Mas a única coisa em que fui permitido encostar foi uma tigela de arroz acompanhado de uma sopa de cartilagem. Uma SOPA.

-Ei, sua sopa vai esfriar - ele me disse enquanto mastigava com a boca cheia de carne. Eu ainda não entendo como cabe tanta comida dentro desse ser aparentemente tão magro.
  Ele colocou outro filé comprido na grelha fazendo com que faíscas de gordura pulassem para todos os lados. Eu engoli toda a saliva que tinha se formado na minha boca novamente.

-Você acabou de sair do hospital, eu não vou te dar essa carne deliciosa e suculenta - Ele dizia me provocando, mastigando um pedaço recém grelhado - Vai te fazer mal.

Filho de uma... Fechei os olhos quieto e contei até dez. Apenas fiz uma carreta e empurrei a tigela de sopa fria para o lado o ignorando.
  Olhei para os lados. Aquele restaurante era nojento, tive uma sensação de que em meu suposto dia a dia, eu comia comidas menos.....processadas. E mesmo que eu esteja odiando o cheiro de mofo e fumaça das paredes, fiquei feliz por perceber estar me recordando (mesmo que lentamente) de alguma coisa. Qualquer que seja.
   Segui com os olhos a mulher da loja que vestia um avental florido. Ela foi até umas das televisões e trocou o canal de reality show, para o de jornal. Ouvi o que o âncora anunciava:

"Agora noticias relacionadas a empresa Park & C.O, o presidente Hyun Woo Park sofreu um acidente esta madrugada e atualmente se encontra em coma. Fontes verídicas apontam que o vice presidente da empresa, Choi Pi Wang, responsável por administrar 90% da empresa foi quem decidiu a demissão em massa de seus empregados. Agora algumas imagens ao vivo dos trabalhadores em greve, na frente da sede."

  Imagens de homens e mulheres seniores enfrente a empresa começaram a passar, com cartazes e placas em cores vibrantes e letras desenhadas de modo grosso, os altos falantes estavam no último e havia pessoas entregando vários tipos de panfletos. Havia no mínimo, setecentas pessoas presentes, além de crianças, que imaginei serem familiares dos trabalhadores.

"-Não podem fazer isso com a gente! Estamos trabalhando nessa empresa desde que o filho do presidente Park nasceu! - Um senhor de aparentes sessenta anos dizia muito inconformado para a repórter que o entrevistava.

-Como vou fazer para sustentar meus filhos? - Uma mulher atrás do senhor se manifestou segurando uma menina e um menino bem agasalhados perto de si.

  A câmera se voltou agora para o centro do conglomerado, aonde um tipo de líder do movimento conseguia com sucesso roubar a atenção dos transeuntes e dos repórteres famintos por novos acontecimentos que poderiam adicionar na matéria.

-ABAIXO AO FALSO WANG*! - a massa começou a gritar, e então os seguranças começaram a cercar a multidão, que tentava partir para cima da entrada da sede. As imagens voltaram para o âncora, que continuou:

-Traremos mais notícias do estado do Sr. Park. Esse foi o jornal da meia noite. Até amanhã e boa noite." A música de fechamento tocou e eu voltei a olhar para o estranho em minha frente.

Ele também encarava a TV com um copo de bebida na mão, virou o resto é bateu o copo na mesa, se virando para mim:

-E então já se decidiu?

"Bem..." eu penso "Já que eu não tenho opção, ou eu morro nas ruas por causa de um orgulho que nem sei da onde veio, ou vivo quase como gente...se for ele o responsável por mim de agora em diante" Quando abro a boca para aceitar a oferta, seu telefone toca.

-Hm? -ele responde para a pessoa na linha com um palito de dentes pendurado na boca -Agora? Eu nem fui pra casa ainda... ok, ok, tá bom, eu estou indo, espera.... só um minuto...

Ele tira o celular do ouvido e me pergunta novamente:

-É agora ou nunca Sr. meio termo. Eu preciso ir embora. Ou você vêm ou você fica.

-Rude... - eu murmurei irritado mais para mim mesmo. Então respirei fundo e o respondi baixinho. -...eu... vou...

-O quê você disse?

-Eu disse que vou! - Ele sorri vitorioso e volta a falar no telefone.

-Em meia hora estou aí, preciso fazer uma coisa antes. - Ele diz a última frase me encarando com aquele risinho bobo ainda presente.

Ele desliga o telefone.

-Little Fucker... - murmuro irritado, ciente de que ele talvez possa entender o quê eu disse mas esperando que não. Por quê afinal quem é o trouxa que abrigaria um estranho sem memória? Um velho pervertido de 40 anos? A tal da tia gorda dos gatos? (deus que me livre) Não nada disso, um garoto atraente de aparentemente 20 anos.
  Enfim ele se levantou e foi até a tia garçonete de mais cedo pagar a conta. Quando fui me levantar senti uma tontura leve. Afinal não toquei naquela sopa trasbordada de cálcio em matéria mole. Olhei novamente para o caixa e vi que ele ainda estava de costas, então furtei umas folhas de alface e enfiei na boca junto com um cubo de nabo que sobraram de seu acompanhamento. Virei de costas e mastiguei o mais rápido que pude.
  Quando me virei novamente ele me olhava confuso na entrada esperando que o acompanha-se. Me virei para pegar seu casaco na cadeira e engoli o que sobrava na minha boca. Fui a seu encontro.

-Tentando roubar uma comida já paga, agora sim está parecendo um louco - Ele riu se divertindo com a minha cara - Já não bastava a roupa de hospital.

  Senti minhas orelhas esquentarem com o comentário, e fechei o casaco que usava no ombro, percebendo os olhares das pessoas que passavam sobre mim.

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*Wang: Rei em coreano -> O líder manifestante fez uma "brincadeira" com a palavra rei e o sobrenome do vice presidente.

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