O amor que eu te dei

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Você já, em algum momento, sentiu que não poderia ser o bastante, por mais fortemente que tentasse?
Era duro ter que encarar essa realidade. Eu fiz o que pude, mas o meu máximo era o teu ralo. Você queria mais, muito, inconstante, exagerado, loucamente sem freio e sem medo.
Mas eu tenho os meus medos.
Eu tentei fazer desde o seu quarto até o mais bonito campo que existia perto de nossas casas, do melhor lugar do mundo. Me esforcei para que se sentisse mais do que em casa, se sentisse vivo e livre, grande e forte, poderoso como o rei que era nos jogos que tanto amava e passava horas neles.
Entretanto, pensei se estaria certo me doar ao ponto de não me sobrar mais para mim. Digamos que, se fosse recíproco, o amor que eu sempre doei para você voltaria para mim quando me alimentasse do seu melhor. Mas na vida e nos dias reais, eu não recebia mais que descaso.
Num segundo, eu era tudo o que você poderia querer, e me desejava como se mais nenhuma mulher pudesse fazê-lo se sentir infinito. E no instante seguinte, não passava eu de uma forte dor de cabeça no final da noite e irritação ao pensar em mim antes de dormir.

Fiz um café da tarde para que pudéssemos aproveitar aquele fim de dia nublado, juntos.
Eu dizia para mim mesma que o seu problema comigo não era realmente comigo, e sim que você tinha medo de se apaixonar por mim. Mas acredito que em algum lugar lá no fundo eu sabia que eu não significava nada para você, mas aceitar isso seria me render, e eu não queria.
Te chamei para nos vermos e conversarmos, nos beijarmos muito e depois nos despedirmos.
No telefone, sua voz não parecia animada. Pessoalmente, menos ainda.
Você me olhava e segundos depois desviava o olhar, como se não pudesse me encarar. Eu tentei me aproximar, acariciar suas mãos e colocar no meu celular músicas que eu sabia que você gostava para tocar. Isso tudo pareceu te deixar ainda mais incomodado.
Perguntei se não estava gostando do café ou do bolo, se as bolachas estavam murchas ou se preferia chá. Você só negava. Negava e me afastava.
Lembro-me com clareza de levantar com raiva expelindo pelo meu corpo, e você nada disse pois sabia o motivo. Eu repousava as mãos sobre a minha própria cabeça e me questionava o que havia feito de errado... tantas vezes errando.
Com ira, comecei a gritar todas as verdades que me esgotaram por tanto tempo, cuspi os piores adjetivos que passaram pela minha cabeça sem culpa e te xinguei o mais alto que pude.
Você se levantou, me olhou com desdém e disse "por isso que não damos certo, você é patética e eu jamais poderia ficar com alguém assim, vê se cresce", e saiu andando, sem nenhuma empatia, dor, ansiedade, confusão, arrependimento.

E então eu entendi um dos ensinamentos de se tornar mais velho, ano após ano. É aprender a lidar com as situações mais improváveis e dolorosas e tirar proveito delas. Nunca deixar de ser você, mesmo que isso te faça parecer tola. Mude, mas para o melhor, e por você.
No fim, eles não se importam com nada que não faça parte dos seus próprios sentimentos, e se dependermos deles, todos passam a se isolar como se fosse perigoso se aproximar do próximo.
As pessoas não são tóxicas, mas escolhem ser.

Crônicas que choram e que amamOnde histórias criam vida. Descubra agora