Capítulo 4

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Mas esquecer Eduardo não era uma tarefa assim tão fácil, Aline admitiu, três dias depois, enquanto empurrava um carrinho de compras vazio e bisbilhotava o Facebook do rapaz. Ela resistiu o quanto pôde, foi ao samba como planejado, beijou uma boca - o movimento estava fraco - e tentou não pensar no Alfafa - até voltou a usar o antigo apelido para ver se o tesão diminuía, mas foi inútil! Era só baixar a guarda que aquele nerd se insinuava em seus pensamentos, provocando-a com aquela cara de bom moço e fazendo um calor gostoso irradiar para o seu sexo.

Deslizou o dedo pela tela do celular mais uma vez e não encontrou nada, Eduardo só curtia páginas, não havia nada de pessoal na timeline dele. Droga, ainda estava no escuro! Se continuasse assim, teria que recorrer a Suzanna - na verdade, ainda não tinha feito isso porque a amiga estava em lua-de-mel e com certeza ia tirar sarro da sua cara assim que soubesse que ela estava interessada em Eduardo. Por isso, Suzanna era a última opção.

Guardou o celular na bolsa e se concentrou na lista de compras. Estava precisando de sabão em pó e amaciante com urgência, a pilha de roupa suja tinha alcançado uma altura perigosa. Empurrou o carrinho para a sessão de produtos de limpeza e parou, esticando o corpo para pegar a caixa na última prateleira. Os dedos estavam quase alcançando o produto, quando um rapaz parou ao lado dela, pegou o sabão em pó e colocou-o em suas mãos. Ela se virou para agradecer e seu rosto se abriu em um sorriso luminoso.

Alguém lá em cima gostava muito dela!

- Sempre me ajudando, hein?

- Daqui a pouco vira um hábito.

- Eu não ia reclamar. - Ela mordeu o lábio inferior e completou: - E lhe recompensaria como da outra vez.

Eduardo ficou vermelho e engoliu em seco, fazendo o sorriso de Aline aumentar. Ele era tão fofinho!

- Tem um barzinho aqui perto que serve um filé com fritas delicioso! Você quer ir lá depois? - convidou, a experiência já tinha lhe ensinado que, se fosse esperar Eduardo tomar a iniciativa, os dois ficariam naquele corredor até o supermercado fechar. E ela estava com pressa, o seu baixo ventre já começava a esquentar só de olhar para o volume no jeans dele.

Eduardo baixou os olhos, as mãos apertando a barra do carrinho cheio de frutas, verduras e laticínios, tudo organizado com uma precisão assustadora. Aline prendeu a respiração, esperando a resposta, torcendo para que ele aceitasse.

- Papai, papai! - Uma garotinha, com um vestidinho azul estampado com pequenas flores, os cabelos escuros presos em duas marias-chiquinhas, veio saltitando e parou ao lado de Eduardo, segurando um pacote de salgadinhos. - Eu posso levar esse?

- Não, Mariana. Nós conversamos antes de sair de casa e combinamos que você não ia poder comprar besteiras. - A menina cruzou os braços na altura do peito e fechou a cara, inflando as bochechas, projetando o lábio inferior para frente, mas Eduardo não se comoveu.

Aline encarou a garotinha como se ela fosse um habitante de outro planeta e deu um passo para trás, o sabão em pó escorregando da sua mão e a embalagem se rasgando ao tocar o chão. O som de saltos se chocando contra o piso encardido do supermercado chamaram-lhe a atenção e Aline mirou a moça com dois pacotes de arroz no colo e uma caixa de cereal matinal. Ela tinha os cabelos escuros e os olhos num tom de marrom claro e quente, como a menina.

Não, não, não! Aquela semelhança tinha que ser uma coincidência.

- O papai não quer deixar eu levar o salgadinho! - a garotinha falou, assim que a mulher se aproximou do carrinho e acabou com as esperanças de Aline.

A moça pegou o pacote de salgadinhos e atirou no carrinho, junto com o arroz e o cereal.

- Vitória! - Eduardo exclamou.

A mulher ignorou Eduardo, voltando os olhos para Aline e ela sentiu o rosto queimar. A vergonha embrulhou-lhe o estômago e o gosto da bile amargou-lhe a boca. Com as pernas trêmulas, deu meia volta e entrou no corredor de descartáveis, tentando se orientar e achar a saída, enquanto lutava para respirar, a raiva oprimindo-lhe os pulmões. Aquilo não podia estar acontecendo! Não podia ter dormido com um homem casado! Era um pesadelo e ela ia acordar a qualquer minuto, de preferência agora!

Esbarrou no funcionário que arrumava os rolos de papel-toalha, murmurou um pedido de desculpas e seguiu, passando pelas pessoas organizadas em fila indiana em frente aos caixas, chegando à porta automática que levava ao estacionamento.

No pátio lotado de carros, o ar frio da noite refrescou-lhe a pele suada e ela enfiou a mão na max bolsa de tecido, procurando a chave do carro. O coração batia acelerado e lágrimas de ódio nublavam-lhe a visão, a imagem da mulher e da filha de Eduardo gravada em seu cérebro.

Estava furiosa por ter quebrado uma das suas regras mais vitais: ela nunca, em hipótese alguma, ficava com caras comprometidos! Podia ser aberta a muitas práticas e não ter muitas inibições sexuais, mas não compactuava com o adultério! E agora, ela estava dando voltas no estacionamento, tentando achar o seu carro e sentindo-se imunda por ter dormido com um homem casado!

Aline queria gritar, sair correndo dali, voltar lá e esmurrar o peito daquele duas-caras dos infernos, tudo ao mesmo tempo! Por que Eduardo não disse que era casado assim que ela se sentou na mesa dele? Ela teria levantado no segundo seguinte e nunca mais olhado para ele! Mas não, aquele hipócrita traidor tinha lhe secado a noite inteira e feito ela acreditar que era um homem livre e desimpedido!

Depois de mais duas voltas, ela encontrou o carro, entrou no veículo e respirou, tentando controlar a raiva. Não ia sair por ai, dirigindo como uma louca e colocando a vida em risco só porque Eduardo era um idiota.

Muitas respirações depois, ela ligou o carro e saiu do estacionamento, dando a volta no quarteirão e entrando no drivre-thru do McDonald's, precisava de açúcar e gordura em doses cavalares! Munida com um milk-shake de Ovomaltine, batatas-fritas e um hambúrguer, ela pegou o caminho para a casa e ligou o rádio, mas desistiu da música assim que a voz de Marília Mendonça entoou Infiel.

Reconsiderou, alguém lá em cima não gostava dela e tinha tirado a noite para curtir com a sua cara. Era a única explicação!

Quando estacionou em frente ao seu apartamento, o saco de batatas-fritas estava vazio e o copo de milk-shake, pela metade. Estava um pouco mais calma, tinha aceitado que não havia mais o que fazer, não podia mandar uma cesta de frutas para a mulher de Eduardo com um cartão: Me desculpe por foder com o seu marido. Agora era seguir com a vida e evitar o supermercado perto do salão para não cruzar com ele outra vez.

Pegou a bolsa no banco do passageiro e o saco de papel com o lanche, trancando o carro em seguida. Estava no seu ritual de se as portas estavam travadas, quando ouviu passos na calçada e ergueu os olhos, prendendo a respiração.

Merda!

E agora gente? A Aline tava toda feliz e levou uma rasteira! Tou com pena dela! Mas será que ela tá certa e o Eduardo não vale um real ou a nossa amiga somou dois com dois e deu cinco? Não perca, nós vamos descobrir no próximo capítulo de Love Loading!!!!

Love Loading [Apenas Degustação - Em Dezembro na Amazon]Onde histórias criam vida. Descubra agora