Persistente

Capítulo 2 - O nascimento

No oitavo mês de gestação, minha mãe precisou ser internada devido a alguns sangramentos e perda do líquido amniótico. Coitada! Já tinha enfrentado um início de gravidez bem difícil e agora, estava com risco de perder o bebê.

Mas Deus já havia movido o milagre.

Deitada naquela cama do hospital, ela sussurrava lentamente:

Meu Senhor,
Hoje eu quero agradecer pela oportunidade de gerar filhos. Mas em especial, quero apresentar essa criança a Ti. Há alguns meses recebi um diagnóstico e hoje, os médicos me disseram que meu estado é um pouco grave, pois posso perder a minha filha. Mas Deus, eu não confiei essa palavra em meu coração. Eu cresci na Tua palavra e sei que não existe impossibilidade para Ti. Então, não! Eu não aceito nenhuma palavra que não venha de Ti. Me perdoe por muitas vezes desacreditar da sua operosidade, mas por favor, preserve a vida da minha filha. Por favor, Pai. Eu preciso desse milagre.

Naquele mesmo dia, minha mãe precisou entrar em trabalho de parto, já que não conseguiu reter o líquido amniótico. Os médicos induziram o parto natural através dos medicamentos, no entanto, ela não tinha passagem por ausência de dilatação apta à concepção. 

Às vinte e três horas, ela foi submetida à uma cesariana e deu a luz. 

SURPRESA!

Eu nasci no dia 22 de julho do ano de 1998, pesando 2,998Kg e medindo 44cm. Não existia malformação, eu era perfeita. Os médicos diziam que, mais tarde, eu iria desenvolver algum tipo de deficiência pois foi detectado a presença de um retardo encefálico. Contudo, não havia teoria ou ciência, que explicasse o motivo pelo qual nasci sem nenhuma incapacidade ou limitação física. Deus havia feito um milagre. E não adiantaria negar. 

Deus faz coisas inexplicáveis. Já dizia Paulo, "Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias"

 Apesar de todas as opiniões de especialistas, meus pais permaneciam convictos quanto a grandeza do poder de Deus. Em nenhum momento, permitiram que as palavras dadas pelo homem, entrassem e contaminassem o seu coração.

Cresci e estudei nas escolas periféricas ao longo de toda minha jornada.

Com 13 anos de idade, entrei na minha fase de conturbações juvenil. Sem saber, eu acabara de iniciar uma das "piores" fases emocionais da minha vida.

Rebeca narra:

Meus pais, Christine Barreto Toledo e Josias Toledo, são pastores da Igreja Assembleia de Deus Ministério Estrela da Manhã desde 1992 - seis anos antes do meu nascimento.
Faço parte de uma família cheia de pastores, missionários e presbíteros da casa de Deus, então, você já imagina a responsabilidade que precisei carregar desde a minha infância.

Quando minha mãe estava grávida de mim, Deus usou um missionário para dizer que eu teria o dom de louvar e seria muito usada pelo Senhor.

Às vezes, quando estou desanimada, minha mãe sempre me lembra dessa ocasião. E para falar a verdade, eu nem acredito muito nisso.

Com 18 anos, quase na vida adulta, eu "morro" de vergonha só de pensar em ter oportunidade, imagina ser então uma cantora muito usada por Deus 😆.

Graças a Deus, eu nasci sem problema algum e nunca desenvolvi nenhuma doença ao longo da minha infância.

Na escola, eu era aquele modelo de aluno "exemplar". Sempre tirava notas boas e me destacava, principalmente, nas disciplinas de ciências.

Foi nesse contexto que descobri minha paixão por ciências biológicas. E desde o primeiro ano do ensino médio, tenho lutado contra os pensamentos discriminatórios da minha família extrema e tradicional.

Faz 2 meses que concluí o ensino médio, e após, longas e incansáveis discussões, meus pais me permitiram estudar Ciências Biológicas sob a condição de estudar as baboseiras da Teologia após finalizar o curso. Além disso, eles me disseram:" Se quer estudar outra coisa, então estude para conseguir uma bolsa. Nós não seremos os responsáveis em desviar os planos de Deus da sua vida."

Ah tá. Grande coisa. Como alguém pode pensar que vai desviar os planos de Deus na minha vida, sendo que nem mesmo eu, os quis seguir...

Ignorei tudo o que minha família disse e iniciei um curso pré-vestibular para ingressar na Faculdade Federal da minha cidade. Apesar de que meus pais me dizem que esse não é o caminho traçado por Deus para que eu siga, eu não ligo. Vou correr atrás dos meus sonhos. Afinal, ficar na igreja e viver "o chamado de Deus", não vai me proporcionar dinheiro para pagar minhas contas. Como vi em um filme: Igreja não enche barriga. 😉

Tudo é tão monótono e chato na igreja. A verdade é que não gosto de ir. E se eu não vou, meus pais falam tantas coisas na minha cabeça. 😖 então o que faço, é ir aos cultos para zelar com a vidinha de "imagem" que eles precisam ter.

Às vezes, me pego pensando nos meus pais quando eram jovens. Será que eles tiveram que passar pelo que "tô" passando? Como um jovem pode viver uma vida comum sem experimentar e conhecer o mundo?

São tantas perguntas que às vezes questiono: será que não fui trocada no hospital quando era bebê? Sou tão diferente da minha família.

Tudo no mundo é tão divertido. As pessoas parecem ser mais felizes e têm muitos amigos, as famílias são mais unidas...
Porque eles não precisam seguir um monte de regras que o sistema religioso impõe.
Por quê tudo se intitula como pecado?

E aí galerinha, me digam o que estão achando da história 😊