Justificativas

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— Me conta como foi. — Deitei de lado mostrando que iria persistir.

Ele fechou o jornal e olhou para o jardim à frente, compenetrado.

— Ela e sua mãe engravidaram na mesma época, no colegial. Jaqueline se casou com nosso amigo, Octávio, mas ele era só o playboy sem futuro da escola. Fui cursar a universidade em Los Angeles e levei sua mãe. Um ano depois que o filho de Jaqueline nasceu, ela ganhou uma bolsa em Los Angeles, e a convidamos a ficar na nossa casa para ajudá-la. Ela vinha ver o filho quinzenalmente na mãe em Monterey, nas folgas da lanchonete que trabalhava à noite...

Eu o ouvi sem piscar, surpresa por serem amigos há tanto tempo.

Papai continuou: Sua mãe entrou para a companhia de dança ainda com os gêmeos pequenos e você recém-nascida. Não deu mais certo e nos separamos. Meu pai comprou um apartamento para Natacha, e Jaqueline foi morar com ela. Mesmo assim, não perdi o contato com Jaqueline, porque ela fazia Administração também, e eu estava cinco semestres a frente dela, então a ajudava com livros e orientações. Por fim, me formei e assumi uma empresa em decadência, que meu pai comprou em Los Angeles, com a missão de reerguê-la, Jaqueline se formou e perdemos o contato.— Sua voz sofreu uma inflexão. Pareceu pesar.

— E depois? — insisti. — Como ela veio trabalhar na sua empresa?

Ele esqueceu o jornal na mesa de centro.

— Foi há quatro anos, quando meu pai morreu e assumi a presidência da sede das empresas aqui em San Francisco. Ela me ligou pedindo emprego, eu a empreguei na filial da Península de Monterey. Jaqueline é muito competente, tanto que hoje é gerente local— explicou, depois olhou estranhamente para o horizonte. — Sabe que só ontem descobri que ela teve outro filho? — comentou reflexivo. — Ela deve ter amado muito Octávio e continuado se encontrando com ele, mesmo separados — completou pensativo.

— Assim como o senhor saía com minha mãe depois de separados? — comentei maliciosamente, fazendo alusão ao nascimento de Natálie mais de um ano depois de separados. Ele riu.

— Sim.

— Interessante a história de vocês. — Mundo pequeno, pensei.

— Porque o interesse especial por Jaqueline?

— Já disse, porque a achei bonita. Ela é meio exótica com aqueles cabelos negros e olhos verde-azulados — respondi sugestivamente e balancei as sobrancelhas, risonha.

— Esquece, filha. — Moveu a cabeça em negativa, torcendo os lábios numa careta. — Ela é funcionária — ressaltou. Ele tinha uma política bizarra de não se envolver com funcionárias, exigência de minha falecida avó.

— Mas que preconceito!

— Não é preconceito. Existem coisas que não dão para misturar, são mundos diferentes, histórias diferentes. Somos adultos agora. Tudo mudou. Ela é... Uma funcionária, só isso. — Levantou-se nervoso.

Eu me sentei ao meu piano de calda branco e ergui a tampa. Comecei a tocar Bach. Fechei os olhos, viajando nas notas e nas lembranças da noite anterior. Não queria que Richard ficasse com a impressão que ficou. Movi os dedos, pensando em nós, nos toques, em nossos beijos, nas sensações.

Seria inesquecível.

Olá, leitores!

Coloquei mais um pedacinho dessa conversa no passado, mas no próximo capítulo eles irão se encontrar de novo e desatar os nós desse passado dos pais. Esperam que tenham gostado. Tentarei postar um capítulo por semana, até chegar ao livro completo, Te Escolhi, a venda pela editora Chiado e pelo Amazon. Beijinhos.

Bia Braz

Te Escolhi - Entre o Amor e o PoderOnde histórias criam vida. Descubra agora