Chad e Gabe ainda esperavam as crianças no mesmo local, enfadados. O primeiro segurava uma trouxa cheinha de doces que roubara dos meninos, enquanto o segundo andava em círculos.
— Ei, Chad, será que não aconteceu alguma coisa com eles? — Gabe perguntou.
— E eu sei lá. — Chad deu de ombros. — Não vai me dizer que está preocupado com aqueles bebês!
— Não! — Negou o menino com veemência. — Só estou dizendo...
Naquele momento, o grito das três crianças rompeu do alto da colina, e Alice, Han Solo e Drácula desceram o caminho tortuoso às pressas, sem parar de gritar.
Chad e Gabe se entreolharam, e sorriram de escárnio, cruzando os braços até os pequenos pararem a frente deles.
— A casa é assombrada! Vocês tinham razão! — Disse Faith.
— Oh, não diga! — Chad riu. — Então não conseguiram achar os doces?
— Você não entendeu? — Retorquiu Louis. — Nós vimos o fantasma do Sr. Farrel! Ele quase me matou!
— Deixem de idiotice — Resmungou Chad. — Parece que vamos ficar com seus doces.
— Não queremos saber dos doces, só sei que nunca, jamais piso lá de novo! — Esbravejou Louis, e Peter passou as mãos nos olhos, como se estivesse chorando.
Gabe olhou preocupado para Chad.
— Como era o... fantasma? — Perguntou o menino, recebendo um cutucão do amigo.
— Parecia uma sombra...
—... E brilhava
— ...sem rosto!
— ... Louis e um monstro...
— CHEGA! — Gritou Chad, encerrando a balbúrdia. — Não quero saber se a casa é assombrada.
— Diz isso porque você tem medo de entrar lá! — Retorquiu Peter. Os outros assentiram.
— Quê? Mas é lógico que não tenho. Poderia entrar lá agora. Não é, Gabe? — Chad virou a cabeça para o amigo, que negou com veemência. — Que idiota!
— Então entra agora. — Disse Louis.
— Não. — Sibilou o garoto encabulado. — Posso entrar quando eu quiser. Agora eu não quero.
— Medroso. — Murmurou Peter, e Chad fez cara feia.
— Cuidado Chad. — Avisou Faith, em uma voz fúnebre e ao mesmo tempo infantil. — Não brinque com a lembrança dos mortos. Ele está lá naquela casa, e pode vir atrás de você.
Chad sentiu um calafrio correr pelo corpo.
— Cala a boca menina boba, nenhum fantasma de um velho caduco vai me assustar.
— Ele achou que você ia dizer isso também. — Disse Peter serenamente.
Uma sombra negra cresceu por trás dos garotos maiores. Duas mãos magras e geladas se esticaram até eles, e pousaram sobre seus ombros.
— Boo. — Disse uma voz arrepiante, perto de seus ouvidos.
Os meninos se viraram aos berros e tropeçaram ao correr, deixando a trouxa de doces cair. A metros de distância, viraram o rosto e ainda viram a sombra grande e negra parada perto dos arbustos.
Chad e Gabe desapareceram na rua cheia de crianças, e o Sr. Farrel retirou o cobertor negro, rindo com vontade, junto com Faith, Peter e Louis.
— Mas que bebê! — Riu Louis.
— Deve ter borrado as calças! — Peter acrescentou. Faith se abaixou para pegar a trouxa de doces, e a checou antes de dizer:
— Eles não comeram nada. E ainda é cedo.
— Podemos ir ao Park Slope. — Comentou Louis e as três crianças olharam para o Sr. Farrel.
— Mas é claro! — Disse o velho, retirando uma cartola amassada de algum lugar na roupa, e após a abrir, pôs na cabeça elegantemente. — Será Dia das Bruxas até que a noite acabe! E os doces também!
As crianças se entreolharam e sorriram, começando a rumar para o fim da rua. Faith olhou para o Sr. Farrel, que a encarou de volta com um sorriso.
Ele tinha muita gratidão por aquela carinha branca de Alice por ter gritado com ele; por aquele Jedi anti-herói por ter o ensinado uma importante lição; e por aquele pequeno Drácula o qual ensinaria a ler algum dia dali para a frente.
O vento dançou alegremente entre os portões enferrujados das casas de St. Ground, levantado as folhas laranjas caídas no chão. Borboletas, piratas, múmias e bruxas tomavam todas as calçadas, e todos os doces estavam garantidos em suas cestas. Nem parecia que para aqueles quatro, a noite havia sido a mais assombrada de suas vidas.
Mas o que fazer, se aquele era o espirito do Halloween!
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A Mansão Farrel (Conto) ✔
FantasyNa maioria do tempo, a Mansão dos Farrel parece desabitada. Ninguém a visita, ninguém pergunta sobre seu morador. Aliás, os habitantes de Littleville nem sabem se há alguém vivo lá dentro. Boatos e lendas assustadoras rolam entre a boca do povo, sob...