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O líquido gelado escorreu pelos meus cabelos e o cheiro de álcool me atingiu com força.

Ouvi risadas.

— Não volte a flertar com o meu namorado. Nunca. Ele não faz caridade, querida... Então, nem se incomode em tentar.

As risadas ficaram mais altas.

Passei a mão pelo rosto, limpando a bebida dos meus olhos.

Eu não estava flertando com o namorado dela. Eu era nova na faculdade, era a minha primeira vez em uma festa de fraternidade, eu apenas queria saber onde estavam as bebidas. Fui perguntar e ele e nós conversamos por um instante.

E o idiota do namorado dela não se importou em intervir e explicar a situação. Inclusive, ele sorria enquanto observava a cena, adorando o fato de haver duas garotas discutindo por sua causa.

De qualquer forma, a ideia de ele querer alguma coisa comigo era ridícula. A garota à minha frente era de tirar o fôlego. Longos cabelos escuros, olhos azuis quase transparentes, magra e alta.

Ela parecia uma modelo.

Já eu, bem... Eu era tudo o que ela não era.

E era exatamente por isso que ela estava fazendo aquilo comigo.

Eu era um alvo fácil.

A novata completamente deslocada.

Eu era a presa perfeita para uma garota popular e linda como ela. Ela estava adorando a atenção que estava recebendo ao me humilhar, exibindo todo o seu poder e relevância sobre mim. Mas o que ela não sabia era que eu não me quebrava tão fácil.

Aquela não era a minha primeira vez tendo que me defender de pessoas como ela.

Meu rosto estava corado com a vergonha e eu só queria sair dali correndo, mas, ao invés disso, eu retruquei:

— Não se preocupe, eu não tentaria transar com o seu namorado por nada nesse mundo. Deus me livre pegar as doenças que ele contraiu fodendo você e todas as outras.

O sorriso sumiu do rosto dela. Há alguns segundos ela se divertia com a ideia de me ridicularizar, achando que eu sairia correndo.

Surpresa.

Primeiro, veio o silêncio, e então, gargalhadas explodiram ao redor. O rosto dela ficou vermelho ao ouvir as risadas.

Ela me encarou com raiva, seus olhos eram puro ódio. Ela não esperava por essa, e definitivamente não deixaria barato.

— Você perdeu a cabeça? — perguntou. — Você tem ideia de com quem está falando?

Eu tinha uma vaga noção de quem ela era. Eu estava na faculdade havia pouco mais de uma semana e já tinha a visto algumas vezes. Ela chamava atenção, não era o tipo de garota que passava despercebida.

— Não faço ideia — menti.

— Bem, eu vou te explicar então: eu sou a garota que vai acabar com você, se você não voltar para a sua vidinha patética e der o fora daqui! — Ela indicou ao redor. — Não vê que ninguém faz questão de você aqui?

Olhei para as pessoas à minha volta. Vários garotos e garotas espalhados pela sala, alguns sentados nos sofás e com bebidas nas mãos, outros em pé e com olhares entretidos.

Rostos completamente desconhecidos, a maioria rindo.

Rindo de mim.

Eu me senti ridícula. A minha vontade era de correr e dar o fora dali, mas meu orgulho me impediu. Eu não sairia só porque ela estava me intimidando, eu não podia lhe dar essa satisfação.

Menos Que Nada (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora