t r ê s

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Meu maior pesadelo estava parado bem na minha frente e eu simplesmente não conseguia me mover.

— Quanto tempo, Arsen.

Seus penetrantes olhos castanhos, que me assombraram por tanto tempo e que eu conhecia tão bem, estavam fixados nos meus.

— Sentiu minha falta? — perguntou ele, com o rosto sério e o olhar gelado.

Seu cabelo estava um pouco mais curto e seu corpo em geral parecia maior. Quase dez centímetros mais alto e músculos mais bem definidos. E mais tatuagens. Antes ele tinha apenas algumas pequenas, agora elas estavam por toda parte em seus braços.

Mas era ele.

Callum Trenton.

Bem na minha frente.

E eu não podia acreditar. Eu não queria acreditar.

— O que foi, Arsen, o gato comeu sua língua? — provocou, o sorriso malvado que eu conhecia tão bem brincando em seus lábios.

— O que você está fazendo aqui? — perguntei, me esforçando para que a minha voz não saísse de forma patética.

— Eu estudo aqui.

Não.

Não.

Respira.

— Você também? — indagou ele, erguendo as sobrancelhas.

Eu queria vomitar.

— Parece que eu não consigo me livrar de você, não é? — O sorriso ainda brincava em seus lábios, mas seus olhos eram puro ódio.

Ele parecia quase tão enojado quanto eu com a notícia.

Ele se aproximou, eu conseguia sentir a raiva reverberando pelo seu corpo. Ficou extremamente perto, e com a boca próxima ao meu ouvido, disse:

— Bem, então seja bem-vinda aos piores cinco anos da sua vida, porque eu vou assegurar que seja o inferno na Terra para você, Arsen.

Então ele passou por mim e se afastou.

Eu conseguia literalmente ouvir as batidas do meu coração.

Olhei ao redor, havia me esquecido completamente das pessoas que estavam ali. Todas elas me observavam, provavelmente curiosas para saber sobre o que estávamos falando.

Engoli em seco e me obriguei a respirar. Eu precisava manter o controle. Eu não podia quebrar, não ali, na frente daquelas pessoas. Fui para o meu apartamento, que se encontrava a apenas alguns minutos da faculdade. Meu corpo estava gelado e minha garganta parecia prestes a fechar.

Eu conhecia tão bem aquela sensação...

A ansiedade tomando conta de cada célula do meu corpo, o choro entalado na garganta, o coração disparado e o desespero crescente.

Eu estava prestes a ter um ataque de pânico.

No segundo em que entrei no meu apartamento, quebrei. Liguei o chuveiro e me sentei no piso enquanto a água quente caía sobre mim. Eu não conseguia me mover, meus membros pareciam congelados, as lágrimas caíam sem parar.

Fazia quase um ano que isso não acontecia.

Como eu não o tinha visto esse tempo todo? Eu já estava na faculdade há pouco mais de uma semana, como eu não o tinha visto?

Eu sempre o via. Meu Deus, eu conseguia literalmente sentir a sua presença.

Então, como eu tinha deixado passar?

Eu odiava ser pega de surpresa. Odiava estar despreparada.

De todas as faculdades no mundo, por que a minha?

Aquilo só podia ser um pesadelo. Tudo ia se repetir. Todo o sofrimento, a dor, tudo ia voltar.

Mais cinco anos.

Eu não poderia suportar. Eu não conseguiria.

É só pedir transferência para outro lugar.

Vai ficar tudo bem.

Você não precisará vê-lo nunca mais.

Os acontecimentos da última hora se repetiam na minha cabeça. A forma como eu me senti protegida quando ele entrou na minha frente.

Quanta ironia.

Eu achando que estava segura quando, na verdade, nunca estive em tanto perigo.

Ele havia feito aquilo para me lembrar do quanto tinha poder sobre a minha vida. Eu era o brinquedo que ele torturava, e ele odiava dividir seus brinquedos.

Depois de quase meia hora no chuveiro, eu me levantei e me enrolei na toalha. O ataque havia passado e eu finalmente consegui pensar e me mover com mais clareza.

O espelho estava embaçado, e quando passei a mão nele para poder enxergar melhor, me deparei com a garota do outro lado.

Seu rosto estava vermelho devido ao choro, seus olhos e lábios estavam inchados.

Patética.

Insignificante.

Nada.

Menos que nada.

Eu a odiei.

Odiei sua fraqueza, seu medo, sua dor. Odiei absolutamente tudo nela.

Ele não pode mais fazer isso com você.

Eu não ia mais fugir.

Eu ia encará-lo.

Ia encarar o passado.

Eu nunca abaixei a cabeça para ele, mas eu também nunca lutei à altura.

Callum Trenton estava na cidade. Mais perverso, sádico e perigoso do que nunca.

Acontece que eu também não era mais a mesma. Era mais determinada, corajosa e vingativa.

E eu estava finalmente pronta para jogar.

Sorri para a garota no espelho.

Menos Que Nada (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora