Através Da Minha Lente

I

E aqui estou eu, de frente pra todas essas pessoas prestes a fazer o meu discurso. Todos estão me olhando e essas luzes que batem no meu rosto faz meu corpo tremer de um jeito que não consigo controlar, o meu medo é que as pessoas percebam o meu nervosismo. Toda minha trajetória na faculdade está passando na minha cabeça nesse momento, o quanto eu lutei e quanta situação precisei superar para chegar até aqui.

Olho mais uma vez para a multidão e encontro o rosto de mamãe que está com os olhos cheios de lágrimas e um sorriso enorme estampado no seu rosto. Penso no papai e em como ele estaria feliz de me ver aqui, concluindo o curso que eu e ele sonhamos juntos, mas, infelizmente ele não está mais aqui para comemorar comigo essa conquista. Logo me vem à lembrança do seu sorriso quando eu pratiquei fotografia pela primeira vez, e quão orgulhoso ele ficava quando eu dizia que queria ser uma grande fotógrafa feito ele.

Escuto uma voz que interrompe meus pensamentos:

­­– Sofia? Está tudo bem? – na verdade não estava tudo bem, mas eu precisava passar por isso.

– Sim... - eu digo com uma voz trêmula. Falar em público era sempre um terror pra mim. Mas aceitei ser a oradora da minha classe porque tinha um objetivo: perder de vez esse medo do público.

– Pode começar o seu discurso, por favor.

A essa altura eu já esqueci todo o discurso que tinha preparado e decorado em casa, o que me deixa ainda mais nervosa. Encarei os olhos de mamãe que estava no meio daquela multidão de pessoas, respiro fundo, tomo coragem e começo a falar:

– Boa noite a todos, gostaria de agradecer pelo privilégio de ser a oradora de nossa classe nesta noite. Em nome dos formandos gostaria de agradecer a presença de todos que estão aqui, todos aqueles que se disponibilizaram para participar desta ocasião tão especial.

Hoje concluímos mais uma etapa de nossas vidas e esta, sem dúvidas, é apenas uma das tantas vitórias que estão por vir.
Ao longo de todos esses anos na escola convivemos com muitas pessoas. Tivemos professores e colegas que vieram e se foram, e deles levamos apenas as boas lembranças conosco.

Certa vez o filósofo Olavo de Carvalho disse "Há coisas que são boas por alguns instantes, outras por algum tempo. Só algumas são para sempre" e o que poderia ser a Brigham Young se não um conjunto desses momentos que serão eternos em nossas mentes? Foi o local onde começamos a ter responsabilidades, mas acima de tudo foi o lugar onde nos tornamos quem somos.

É engraçado como durante anos, nós contávamos os dias para as férias, mas desta vez foi um pouco diferente, quando íamos pedir por férias nós tivemos uma epifania, não haverá férias. Para serem férias é necessária uma data para voltar, e desta vez não voltaremos.

Esperamos concluir a faculdade durante tanto tempo, que agora, no fim, vemos quanta falta ela nos fará. Sentiremos saudades das risadas, das brincadeiras, sentiremos saudades dos colegas, dos professores e de toda a equipe da Brigham Young University.*

E por fim não gostaríamos de apenas dizer um obrigado, é muito simples, a gratidão que sentimos não poderia ser traduzida em apenas uma palavra. Nós somos gratos a todos aqueles que passaram por nossa vida. Pais, professores, colegas, sem vocês nada disto seria possível. Mas como faltam palavras para expressar este sentimento, encerro com um obrigado, ou não, melhor, um muito obrigado, por tudo.

Todos se levantaram e aplaudiram o que me deixou muito surpresa, mamãe chorava feito criança e eu não via a hora de sair correndo dali para abraça-la. Fui em direção aos meus professores receber o meu canudo. Abracei todos eles e me despedi.

Desço as escadas e vou em direção à minha mãe que já me esperava de braços abertos para um abraço.

–Filha você estava maravilhosa!

– Obrigada mãe. - respondi ainda dentro do abraço dela.

– Tenho certeza que onde quer que seu pai esteja ele está muito orgulhoso de você!

– Sinto tanta falta dele, ainda mais em um momento como esse. Ele estaria muito feliz aqui. – sinto uma lágrima escorrer pelo e meu rosto e dou um abraço ainda mais apertado nela.

– Ele já está feliz minha filha! - ela respondeu se separando do nosso abraço e me dando um beijo na testa.

– Agora vamos comemorar! - Exclamou mamãe animada.

Despedi dos meus colegas e segui em direção ao meu carro com a minha mãe. Ela assumiu o lugar do motorista e colocou uma venda em mim, afirmando ter uma surpresa, o que me deixou muito ansiosa.

Sinto o carro parar e mamãe saiu, ouço o a porta bater e o barulho dos saltos dela que pisavam no asfalto vindo em minha direção pelo lado de fora. A porta se abriu ao meu lado e sinto as mãos dela no meu braço me ajudando a sair.

Pude ouvir um falatório de algumas vozes que me parecem familiares, e depois, uma espécie de "schh", e então o silêncio toma conta do lugar. De repente sinto uma mão atrás de mim que deveria ser da minha mãe retirando a venda dos meus olhos.

Abro os olhos lentamente e pisco algumas vezes para poder enxergar direito, quando olho pra frente e...

– SURPRESAAAA! – todos dizem em uníssono. 

N//A: Brigham Young (BYU) é uma das universidades de Provo – Utah que fica nos Estados Unidos.

Ps: O discurso que a Sofia fez na formatura, eu peguei alguns trechos de um discurso que encontrei no site Pensador, cujo autor se chama: Vinícius Becker.

Beijos e até o próximo capítulo!