1° Capítulo

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                KIRA SANCHEZ

Acordei sentindo o cheiro de café entrando em minhas narinas. Levantei da cama e fui à cozinha confirmar se minha mãe realmente havia acordado.

- Bom dia.- Desejei quando a vi em frente ao fogão.

- Bom dia, filha.- Beijou minha bochecha e voltou a preparar o café.

Seus cabelos escuros haviam sido presos em um coque mal feito pois ainda sim, alguns fios cacheados se soltavam a cada movimento que ela fazia.

- Acordou cedo? Milagre!- Me olhou pelo canto do olho e riu.- Vai direto pra faculdade?
- Não. Tenho que deixar algumas coisas no Tear, as atividades foram prolongadas.- Peguei minhas roupas e fui em direção ao banheiro.-Aliás, não precisa me levar hoje não, Ricardo vai me dar uma carona.

Antes de entrar no banheiro, conseguir ouvir ela gritar e em seguida, gargalhar.
- Já faz três dias que esse garoto anda te sequestrando de mim.- Riu.-Quando vai ser o casamento?-Sorri

Minha mãe ainda tinha esperanças de que eu me relacionasse com alguém após o término do meu longo e doloroso relacionamento. Ela achava que meu coração ia desabroxar e se apaixonar fácil por alguém, do mesmo jeito que ela se apaixonou pelo meu pai.

Para falar de amor com minha mãe você não poderia negar a existência dele, pois ela dizia ter certeza de que todos achariam seu amor verdadeiro.

Esse pensamento, talvez, foi pela facilidade de amar meu falecido pai. Eles eram apaixonados um pelo outro e depois de sua morte, ela não se relacionou com ninguém. Mas de qualquer forma, ter um relacionamento não era minha prioridade, pelo menos não nesse momento.

Meu primeiro e, coincidentemente, último namorado me fez desejar a morte, enquanto eu pensava  estar num paraíso.

Nós sempre fomos muitos neutros em relação ao nosso namoro. Não havia ciúmes, brigas, desconfianças ou algo do tipo. No entato, a minha entrada na faculdade o fez mudar em seu comportamento comigo. As desconfianças eram múltiplas, brigávamos todos os dias e no fim a culpada era eu. No começo, eu aceitava por desejar parar de brigar e acreditar que nada havia acontecido, mas era tanta pressão, que no fim de todas as brigas eu acabava chorando no quarto enquanto a porta batia depois dele ter ido embora.
Em uma conversa casual, eu tentei terminar, mas ele ficou irritado e me deu um tapa. Eu fiquei assustada, nunca tinha sido agredida na vida, ainda mais por quem deveria me proteger. Eu esqueci aquela situação, até porque seus pedidos de súplica e suas lágrimas falsas eram a verdade para mim naquele momento.

Eu achei que acabaria ali, mas me enganei. Meus pais sempre me deram o conselho de não pôr a mão no fogo se tivesse dúvida de que  pusessem por mim também; eu deveria ter seguido esse conselho.

As brigas ficaram violentas. Eram xingamentos, ameaças, gritos e logo me vi sendo empurrada, socada e enforcada. Só percebi que aquela não era eu  quando vi minha mãe chorar ao ver um hematoma em mim.

Terminamos indiretamente, pois nunca teve uma conversa sobre o nosso fim, e nunca mais o vi. Alguns disseram que ele foi expulso da comunidade, mas ninguém sabe ao certo.

Peguei minhas coisas dentro da bolsa, dei um abraço em minha mãe e saí de casa

- Tia Ki!- Ouvi a voz de Jean e me virei para vê-lo.
- Bom dia, meu menino.-Me agachando, lhe dei um abraço e um beijo.
-  A senhora deixa eu ir pra falulcade?- Perguntou, ainda com os braços envolta de mim. Gargalhei e olhei para baixo.

-Olha, quando você for para a faculdade eu mesma te levo, mas hoje eu vou à nossa casa.- Falei e continuei meu caminho. Aqule espaço onde nos reuníamos não era de fato a "nossa casa", era um lugar que eu havia conseguido com outros lecionadores para tirar crianças, como ele, do lugar violento onde moravam por, pelo menos, algumas horas. Chamávamos assim porque queríamos que todos eles considerassem ali como suas casas, onde eles poderiam brincar, conversar, se divertir e tudo que quisessem, sem se preocupar com o que estava lá fora.
- Ahhhhhh.- Pensou, enquanto sua expressão mudava, me fazendo rir.- E eu posso ir? Juro que não faço bagunça. Até posso te ajudar.- Ofereceu.
- Tudo bem, meu menino.- Lhe dei a mão.- Mas não pode fazer muito barulho, e depois você vai direto pra escola, tudo bem?- Concordou com a cabeça, e fomos conversando até o Tear.

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Estávamos conversando sobre a escola dele, quando ele se virou e puder ver um hematoma roxo em seu braço e arranhões em seus ombros que se estendiam até suas costa.

- Jean, que marcas são essas?- Falei, quase gritando. Ele se virou com as pupilas diltadas, as sombrancelhas exageradamente erguidas e com a boca entre-aberta.- Calma, calma.- Falei baixo e inspirei. A última coisa que eu queria causar nele era medo e insegurança.-Senta aqui no meu colo, quero conversar um pouco com você .- Seus olhos se suavizaram, mas ainda sim seu olhar transmitia misturas de sentimentos ruins.- Quer se acalmar um pouco ou falar para mim agora?- Acariciei seu rosto e dei um beijo em sua testa.

- É difícil, tia.-Falou coçando a cabeça.- Eu falo, mais só se me protemer que não vai falar para ninguém.- Fizemos uma rápida promessa com os dedos e me preparei para saber sua história.- Eu tava brincando com o Léo, o meu primo, sabe?- Balancei a cabeça, afirmado.- Ai nós fomos brincar no quarto do meu pai. É muito grande e meus carrinhos podem voar.-Sorriu rápido, mas logo se entristeceu de novo.- O meu carro quebrou e eu pedi o Léo pra ajeitar.- Parou para limpar a lágrima que cairá de seus olhos.- Eu fiquei muito feliz quando ele concertou meu carrinho, dei um abração nele.- Sorriu.- Mas meu pai ficou muito triste quando eu abracei o Léo.- Seus olhos ja estava marejados e suas bochechas, coradas.- Ele me bateu muito, tia. Falou que eu tinha que virar homem e não um viadinho e, também, que era para a minha mãe ter me atorbado....-Deu uma pausa com a testa franzida.- o que é atorbado, tia?- Perguntou enxugando as lágrimas.

- Uau.- As lágrimas ja transbordavam de meus olhos, enquanto o soluço não parava.-Eu quero te ajudar, por favor, me deixa te ajudar.- O abracei forte enquanto seus soluços infantis faziam meu coração pulsar mais forte. Envolvi-o com meus braços e ficámos ali ate nossas almas se acalmarem, algo que não foi rapido.

Ouvimos um barulho alto e olhamos em direção à porta. Um policial agachado pegando um dos intrumentos se revelou. Olhou para nós com as bochechas rosadas e tossiu.

João estremeceu e me puxou para me dar um beijo carinhoso na bochecha.
- Tenho que ir para escola.- Apontou para o relógio, relativamente, pequeno em minha sala.
-Tudo bem, pode ir.- Falei.- Eu te amo, Jean.- Esclareci e seus olhos abaixaram de vergonha.
-Eu sei o que é amar e eu também te amo.- Falou baixo e em seguida saiu, me deixando com o policial e meus pensamentos.
- Há alguém me chamando?- Perguntei, continunando à arrumar minha sala.
- Não.- Olhou em volta. Ele parecia firme de suas observações.- Sou novo aqui e me mandaram conhecer um pouco, então é aqui que começo.- Sorriu de lado, e por incrível que pareça, meu sorriso de volta foi automático, tal qual a pulsação em minha veia.
- Hum...- Resmunguei constragida.- Estou preparando algumas coisas para a atividade, quer me ajudar?
- Sim.-Confirmou se aproximando. Sua feição ainda poderia ser mais bonita de perto.- Quem ele é?- Perguntou, e me lembrei da conversa com Jean.
- O quanto você ouviu?- Perguntei, me virando para encará-lo
- O bastante, apenas.- Respondeu firme.- Quem ele é?
- Não deveria se esconder atrás da porta para ouvir a conversa dos outros.
- E você deveria me dizer quem ele é.- Falou. Uau, quanta bipolaridade.
- Não tenho obrigação de contar nada à você. - Vi seus olhos pegarem fogo e sua mandíbula se contrair.
- Eu sou um policial: a segurança de tudo isso aqui. É por causa de mim que você ainda está viva.-Falou com a sobrancelha erguida e com os ombros rígidos.
- Ufa, ainda bem que você chegou. Já não aguentava mais ser vítima de toda a violência do mundo.- Debochei, e logo em seguida dei uma risada falsa.- Bom dia pra você também.- Cumprimentei com um sorriso no rosto.- Meu amor, querido, coisa linda, ou sei lá que porra você queira ser chamado: Não opine em situações em que você não é bem-vindo, chamado, solicitado. Se você realmemte quer ter uma conversa casual com a madame aqui, tenha educação, antes de qualquer coisa, porque, provavelmemte, tem dias que você chegou.- Pausei.- Eu estou aqui há 5 anos.- Dei uma piscadela e virei, voltando à arrumar as coisas.

Ouvi ele bufar e em seguida seus passos firmes e duros despreencheram o lugar.

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• Tear: Instituto de Arte Tear é uma organização que abrange as culturas  em formas de atividades e diversão. Atualmente se encontra em uma rua da Vila Isabel, no Rio se Janeiro.

Obs: Eu frequento e indico à vocês.  É um lugar super acolhedor, você nunca vai se sentir desnorteado por lá.

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⏰ Última atualização: Dec 12, 2017 ⏰

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