UMA SEGUNDA CHANCE
Na manhã de segunda-feira começo a pôr em prática meu plano. Vou à academia, faço meu treino. Retorno, tomo banho e me preparo para o início de semana. Quase passo da minha estação por estar tão concentrada nos meus planos. Ao atravessar as portas de vidro, dou de cara com a recepcionista.
- Bom dia Andréia, tudo bem?
- Tudo bem Cristina, como foi o fim de semana? O que houve com seu rosto? Me parece um pouco inchado! – Levo a mão ao rosto. Droga! Esse é o momento em que saberei se posso ou não contar com o André.
- Ela foi assaltada, assim como eu na saída do pub daqui da frente.
André responde antes que eu tenha a oportunidade de falar. Está super gato, usando um terno cinza chumbo e camisa branca sem gravata. Ele raramente usa gravatas e quando o faz identificamos rapidamente que se trata de um executivo de criação. Ele usa óculos de aro grande e estiloso, combinam muito com ele, mas ele prefere usar lentes de contato a maior parte do tempo, exatamente como agora. Costumam dizer que o óculos é um termômetro, quando ele os usa é porque está irritado, estressado ou cansado, em outras palavras, não é bom vacilar com ele nestes dias! Hum! Ele fica tão lindo de óculos! Concentre-se Cristina Batista! Me repreendo mais uma vez.
- Nossa André! Seu rosto está muito machucado, tadinho! Você estavam juntos?
- Sim! Encontrei a Cristina na saída, e como imaginamos que o pessoal estivesse no pub resolvemos ir pra lá, mas não tinha ninguém quando chegamos, então desistimos e demos meia-volta, e praticamente na porta do bar fomos abordados por dois bandidinhos, eles nos agrediram gratuitamente e depois de nos roubar acabaram fugindo.
- Conte a história direito, André! Porque você me salvou, se o olho dele está roxo desse jeito foi porque me protegeu.
- Eu não fiz nada demais. Tomar a frente de alguém mais frágil para protegê-lo é instintivo, não é mesmo?
- Isso não deixa de ser nobre André, você é uma pessoa muito nobre e sou grata.
Ele está sendo irônico e estou devolvendo na mesma moeda enquanto Andréia nos observa com curiosidade.
- Não foi nada, Cristina. Espero que mesmo com esse incidente o seu fim de semana tenha sido... agradável... Tenha um bom dia! Bom dia Andréia. – E sai.
- Uau! Eu juro que vi faíscas! Rolou algo mais? – Pergunta Andréia.
- Claro que rolou! Rolou mais umas 4 horas de delegacia pra dar uma queixa, agora entendo porque as pessoas não dão queixas. É um absurdo!
- Ah, nem me fale! É assim mesmo! Uma vez fui assaltada chegando em casa, cheguei na delegacia mais ou menos 23h e eles estavam atendendo um BO. Eu aguardei umas 2 ou 3 horas pra ser atendida e depois ficaram comigo por um tempo infinito, cheguei em casa quase 6h da manhã no dia seguinte.
- Nossa! Que horror! Mas tenhamos fé! Dias melhores virão!
- Bom dia meninas. Tudo bem contigo, Cristina? – Diz Roberto observando meu rosto, mas tentando ser discreto.
- Bom dia Roberto. Sim, agora estou bem. Obrigada!
- Se precisar de algo. É só falar!
- Ok! Obrigada! Bom dia para vocês! - E saio da recepção. Sei que a Andréia é a atual “peguete” do Roberto. Ele cada hora está com uma, mas nunca deu bola pra mim. Agora eu sei o motivo.
Ao entrar na sala do atendimento percebo que meu chefe já chegou, o Caio está em sua sala com a porta aberta. Digo bom dia e entro na minha sala que fica de frente para dele. Sou uma das quatro garotas que cuidam do atendimento e geralmente sou a primeira a chegar.