Escadas que Rangem

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     N sabia porquê, mas sentia um aperto na barriga. Seria possível ter entrado em casa com aquela chave completamente desconhecida? Não, definitivamente que não era possível..... mas no entanto os factos apontavam para que assim fosse. Estava ele a pensar nisto, abismado, quando sentiu movimento atrás de si.
   
     -Olá filho, então, como correu a escola?- perguntou a sua mãe. Era uma mulher de cerca de quarenta anos, uns quinze centímetros mais baixa que ele, mas mesmo assim, considerava-a uma grande mulher.

     -Correu bem...- respondeu sem grande entusiasmo, ainda um pouco abalado.

     -Que se passa? Estás muito pálido, sentes-te bem?- a sua mãe era perita a ver quando ele não estava bem, e como aquele dia só era excecional em relação á pequena chave que segurava na mão, ela reparara.

     - Estou bem mãe, só um pouco molhado - respondeu - Vou trocar de roupa- disse muito rápido, dando um beijo na mãe e subindo as escadas a correr. Quando chegou ao andar de cima, em vez de entrar para o seu quarto, seguiu por outro caminho, por um que lhe agradava muito mais. Abriu a porta que dava para o sótão e subiu o lanço de escadas que rangia e iam dar a um espaço amplo e cheio de tralha que era o sótão de sua casa. O ranger familiar das escadas fez desaparecer um pouco da ansiedade que sentia, trazendo-lhe algum conforto. Sentou-se no mesmo sítio de sempre, ao topo das escadas, encostado ao postezinho do corrimão onde começou a examinar melhor a chavezinha. Era sem dúvida de metal, mas qual? Não se parecia com nada que já tivesse visto. E permanecia o mistério de não ter bem a certeza de como entrara em casa.

     Sabia que destrancara a porta porque ouvira o *click* da fechadura, mas não se lembrava ao certo se tinha usado as suas chaves ou aquela. As provas apontavam para que tivesse usado a chave que agora fitava, mas elas deviam estar sem dúvida erradas. "Mas e se....não estiverem?" pensou enquanto sentia aquele aperto na barriga voltar. Não podia explicar, mas essa possibilidade assustava-o e não era pouco. Começou então a travar-se una batalha no seu interior. Parte dele queria experimentar para ter a certeza que não sonhara, voltar á porta de casa e ver se de facto a chave serviria. Mas outra parte de si, a prudência, dizia-lhe para ter cuidado com o objeto que tinha na mão e que lhe provocava tamanho receio. "Será mesmo possível?" virava e revirava a chave na mão, sem lhe tirar a vista de cima e sem saber bem o que fazer. Assim ficou por um bocado, a pensar. Ouvia a sua mãe dois andares abaixo, dum lado para o outro na azáfama da lida da casa e acabou por desistir da ideia de ir lá abaixo experimentar a chave. E se fosse visto? Que poderia dizer á sua mãe que justificasse estar a tentar abrir a porta de casa com uma chave que encontrara na rua? Soaria a loucura, para alem de que levaria um raspanete por estar a inventar histórias. Decididamente não valia a pena. "Mas e se.....não, se ter aberto a porta da rua com esta chave soa a loucura, esta ideia rebenta a escala!.... Mas no entanto, porque não?"

    Levantou-se, fitou a chave de novo, tentando ganhar coragem. Porque? Nem ele sabia, porque raio é que aquilo o assustava tanto? Desceu as escadas devagar, fazendo-as chiar. Quando chegou á ultima parou, pensando em atirar a chave para dento do sótão e nunca mais lhe pôr a vista em cima, mas em vez disso fechou a porta de acesso ao sótão, e trancou-a com a chave da porta. Em seguida tirou-a da fechadura e, com a mão a tremer, enfiou lá a chave que tinha encontrado. Entrou na fechadura como se fosse feita para ela e fez um *click*.

  Olá, se conseguiu ler até aqui sem vomitar, merece o meu mais sincero agradecimento, portanto "obrigado".
  Se gostou daquilo que leu espero poder voltar a escrever algo que o faça feliz. =) vemo-nos por

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⏰ Última atualização: Nov 04, 2017 ⏰

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