V. Supercut { Isco Alarcón }

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"In your car, the radio up
We keep trying to talk about us
I'm someone you maybe might love
I'll be your quiet afternoon crush
Be your violent overnight rush
Make you crazy over my touch
But it's just a supercut of us"

(Lorde)

— Você sabe que não devia fumar assim... – o tom dele demonstrava que não era a primeira vez que entravam naquele assunto, e a forma como suspirou pesadamente antecipava a argumentação que viria a seguir. Gostaria de poder controlar a própria língua, mas não conseguia refrear-se a cada vez que a maldita acendia um cigarro na sua frente.

E não era porque o gesto a tornava menos atraente, antes fosse. Ali, com corpo coberto pela camisa social que ele próprio vestia há um par de horas, os cabelos rebeldes em fascinante desordem, aquele par de íris tão claras que ainda eram capazes de atormentá-lo se encarasse demais, e o cigarro entre os dedos, ela era provavelmente a mulher mais atraente em que ele já havia colocado os olhos.

A jovem levou o cigarro preguiçosamente até os lábios cheios antes de sorrir, soltando a fumaça como um beijo. Dolorosamente sexy.

— Por que? Porque eu sou mulher, e 'não é bonito mulher fumando'? – fez aspas com os dedos, um sorriso quase provocativo preso ao canto dos lábios – Ou porque eu sou nova demais pra estar 'estragando a minha vida com o cigarro'?

— Porque você é uma atleta, Alexandra... – ele suspirou, cansado. Não era a primeira vez que tinham aquela conversa, e se bem conhecia a menina-mulher a sua frente, não seria a última – Você é uma jogadora de futebol profissional, eu realmente não deveria precisar dizer o quanto isso é ruim pra você...

— Então não diga, Dios mio! – refutou, incomodada. A lista de defeitos de Francisco Alarcón era vergonhosamente curta, especialmente se comparada à sua, mas aquele definitivamente era um deles: o homem era o ser mais politicamente correto e irritantemente certinho que ela já conhecera em seus 20 anos de idade — Buffon fuma feito um condenado a vida inteira e eu não vejo ninguém falando nada... – a garota bufou, tragando uma última vez antes de apagar o cigarro teatralmente na mureta de concreto em que se apoiava – Pronto, pai. Eu sinto muito por ser uma menina tão má. – resmungou, a ironia pingando de cada palavra enquanto se virava de costas para o homem, ocupando-se de observar a vista privilegiada que o alto do prédio lhe concedia da cidade.

A compra daquele apartamento havia gerado o caos a família: seu pai insistira que era uma péssima forma de aplicar suas primeiras economias, a irmã insistia que comprasse algo mais perto de sua casa, e a mãe argumentava que ela nunca conseguiria tornar aquele lugar habitável. De fato, não era o mais moderno dos imóveis – foram necessárias algumas reformas e muita criatividade decorativa a fim de deixar o lugar a sua cara... Mas o que nenhum deles compreendia era o quão incrivelmente bem Ale se sentia quando estava ali em cima, naquele espaço que nomeava divertidamente como 'sua cobertura', mas que não passava do topo do prédio conectado ao apartamento por uma escadinha de madeira esquecida pelo proprietário anterior.

Não era muito, de forma alguma... Se a irmã gostava de chamar de 'pedacinho do paraíso' aquela propriedade incrível que Nacho comprara para ela, Ale se imaginava um tanto mais modesta ao pensar que sua parcela do céu estava a alguns degraus de distância: era ali, sentindo o vento frio da noite madrilenha no rosto e observando a cidade do alto, do topo de seu mundo, que ela se sentia em paz.

E não seria Isco quem tiraria dela esse sentimento.

— Não precisa ficar brava, Ale... –suspirou, aproximando-se da garota e cedendo aos seus encantos e desmandos, como de costume – Sabe, eu já tenho uma criança, não posso lidar com a birra de duas... – implicou, apertando a cintura dela com dois dedos, fazendo com que a garota se encolhesse.

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