Todos sempre me disseram que antes de morrer sua vida passa sobre seus olhos, como um vídeo curto e rápido que em segundos se acaba, mas não é bem assim. Pelo menos comigo não foi.
Sua vida não passa pelos seus olhos.
Sua mente não projeta um filme de curta duração sobre suas lembranças.
Meu cérebro não programou um vídeo de curta metragem com acontecimentos e lembranças sobre os meus 18 anos e meio de vida, vergonhas ou humilhações, tristeza ou felicidades.
Simplesmente antes de descobrir que iria morrer um longo vídeo foi passado por várias vezes em minha mente, não com lembranças do passado mas sim com coisas que NÃO tinha feito. Sonhos e desejos que foram enterrados e deixados pra lá, viagens e aventuras que deveria ter sido programadas e que no final não fiz, histórias e amores que poderia ter vivido, mas, eu não fiz.
A vida em si não passou pelos meus olhos mas sim as coisas que deixei passar.Eu deixei a minha vida passar...
A idéia de que iria partir sem ao menos realizar alguns dos meus maiores sonhos e desejos de infância me perturbava mais do que a seguinte notícia: estava com Lúpus. Uma doença que a cura e a prevenção estava sendo motivos de grandes pesquisas e aumentando cada vez mais a porcentagem de pessoas diagnósticada com Lúpus.
A doença não havia cura ou tratamento eficaz, causando uma morte lenta e dolorosa.
O doutor que falava com a minha mãe tentava achar palavras corretas para poder explicar de uma forma clara e objetiva sobre o que estava acontecendo comigo e com meus sistema imunológico, escrevendo algumas anotações e dicas em um folha qualquer de um caderno pequeno verde.
A forma desesperada de como o doutor procurava palavras certas para usar com a pobre mãe a sua frente era humilhante.
Balancei minha cabeça na expectativa de afastar certos pensamentos, tentando com todas as forças colocar meu cérebro para raciocinar e deduzir as palavras que o homem a minha frente pronunciava.-Lívia está me ouvindo?- a voz grossa e rouca do dr. Silva ecoava pela sala, o mesmo se levantava e vinha em minha direção.
Concordando com a cabeça como um silencioso "sim".
- O risco de morte é em grande porcentagem pois seu sistema imunológico atacou seus rins, prejudicando a função necessária dos rins para seu corpo. Os pesquisadores não sabe exatamente como é causado ou o por que desse sistema atacar células boas, e por conta de não saberem como e o por quê ainda não foram descobertas formas adequadas para a cura ou prevenção. Mas por outro lado, a medicina e a ciência avançou mais alguns passos para essa maligna doença, cirurgias e outros meios podem funcionar. No seu caso, a doença está localizada nos seus rins, seu nome já foi enviado para a lista de doações de órgãos e assim que encontrarmos faremos a cirurgia. As consultas devem ser semanais ao consultório de nefrologista, passagens mensais para o médico é necessária.
Meus pensamentos voltaram a vagar por aí e por mais perturbador que seja as palavras do médico o meu desejo não era de chorar, gritar ou quebrar qualquer objeto a minha frente. Não pensava em como contaria para amigos, familiares e conhecidos que estava sendo diagnósticada com uma doença maligna e sem cura. Minha mente pensava em tudo o que eu havia perdido, todos os meu sonhos, conquistas e vitórias que nunca irei o prazer de ter.
O médico continuava falando sobre a doença para a mulher que estava a frente dele. Lágrimas formava nos olhos da minha mãe, suas mãos trêmulas e suadas segurava meu braço com força, o rosto branco e corado se tornava um semblante pálido e feio, coisa que nunca tinha visto minha mãe passar.
As frases como "vai ficar tudo bem", "tenha fé e tudo se resolverá" saía da boca do doutor, palavras que eram usada para consolar a mim e a minha mãe. Talvez para minha mãe ainda existia uma esperança nas palavras positiva e encorajadoras do médico mas pra mim não, aquelas palavras me machucavam de forma cruel.
Na multidão de humanos eu me tornava pequena e frágil, uma moça comum de quase 19 anos rodeada de pessoas bem sucedidas e fortes, coisa que agora não poderia me tornar por conta de uma maldita doença.
Nunca quis sentimentos de dó ao meu redor, mas, agora, sentada nessa poltrona sinto dó de mim mesma.A dor não me incomodava mais, sabia que estava ali pois podia sentir em meu corpo, mas, por incrível que pareça a dor não era minha maior preocupação, nem minha doença, Lúpus não era o meu maior medo, mesmo que devesse ser.
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Olá meus amores esse é o primeiro capítulo e espero que tenha gostado kkkk não se esquece de deixar a estrelinha kkkk bjjjs de luz amores