ONZE

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Naqueles últimos dias papai havia me mandado outra carta por Megan, e ela não estava muito diferente da primeira. A única diferença era que ele não citava Daniel.

Eu queria escrever algo para ele, mas não sabia exatamente o que dizer.

Eu poderia dizer que descobrira que era uma pessoa totalmente sozinha, que não tinha amigos, já que ninguém que tinha o meu número de telefone tinha me ligado naquele período de tempo.

Claro, a fofoca de que Patrick Maddox tinha falido deve ter se espalhado mais rápido que fogo em gasolina, pelos lugares que frequentávamos, ninguém estava mais interessado na gente. Eu fazia planos para quando papai voltasse com nossa fortuna.

Eu daria uma festa e convidaria todos eles, esfregaria na cara de todos que os Maddox nunca seriam inferiores a eles.

Eu via como Angie era próxima dos amigos do irmão dela, eles não eram apenas isso, eram amigos dela também. Várias noites eu fiquei sozinha em casa imaginando como seria se estivesse em Paris ou Veneza, enquanto os dois estavam na casa de algum amigo. Angie sempre me convidava, mas eu não me sentia à vontade em ir.

Eu poderia dizer que não me sentia à vontade porque eles eram inferiores, mas essa não era a verdade. Ok, talvez não a verdade toda.

Me incomodava os assuntos totalmente baixa renda que eles tinham durante o almoço no colégio, eu nunca me encaixava. Eu nunca tinha algo para falar ou para contar.

Eles nunca haviam estado nos lugares onde eu estive, não conheciam as pessoas das quais eu tinha fofocas para contar, todos os meus assuntos os deixavam totalmente de fora e isso fazia com que eles só ouvissem quando eu falava e ficassem com aquela expressão de: nossa, ela realmente acha isso interessante?

Por serem pobres, nunca que os últimos lançamentos da Chanel, Versace, Prada, Miu Miu, Dior, seriam um assunto interessante.

Mas era isso que eu gostava de conversar e, no mundo que estava acostumada, as pessoas se entretinham falando sobre isso, porque não havia mais nada de interessante para ser conversado.

Ninguém estava interessado se os pais de alguém estavam se separando, ninguém convidava ninguém para ir ver filmes em sua casa a menos que a sala de cinema tivesse sido reformada.

E o que eu faria no meio deles? Se eu não tinha paciência nem de ouvir que o castigo de Tom havia sido injusto, que a mesada era dele e ele podia torrar ela toda em um par de tênis? Ou então escutar Dougie reclamar que não sabia para qual faculdade ir. Realmente eu não tinha paciência para dramas de adolescentes pobres, simplesmente porque esses dramas nunca existiram na minha realidade.

Não sabe que universidade cursar? Vai viajar, curtir a juventude.

Seus pais reclamam de como você gasta sua mesada?

Para começar, o que é uma mesada? Eu nem sabia o significado dessa palavra até Angie me explicar e ainda me perguntar por que meu pai não me dava uma.

E para que eu precisaria de uma, se eu tinha um American Express Black Centurion*? E quando dei essa resposta na mesa do almoço na escola, todos que estavam nela ficaram me olhando em silêncio como se eu fosse um ET.

Era por isso que eu não queria ir nas reuniões deles, eu me sentia deslocada, sem contar que, mesmo sendo as mesmas pessoas, eles estavam juntos, guardavam segredos um dos outros e não espalhavam para o primeiro que passava e eu não tinha nenhum amigo assim em Belgravia.

Talvez fosse a junção de todas essas coisas que tenham me levado a fazer o que fiz aquela tarde.

Não me sentia só solitária, me sentia uma pessoa rejeitada por tudo e todos e isso incluía papai. E eu sabia exatamente que uma maratona de compras me faria esquecer de tudo aquilo. E foi exatamente o que eu tentei.

From Prada To NadaOnde histórias criam vida. Descubra agora