Cafe da tarde

4 1 0
                                    

Acredito que possa passar anos e anos, eu nunca me acostumarei com o que sinto quando perco um paciente. Uma pequena voz na minha cabeça que fica gritando que eu poderia fazer mais pelo senhor Ernest, mas eu fiz tudo, eu segui o protocolo e não consigo salvá-lo. O olhar de cada ente querido que ele deixou sobre mim, o choro compulsivo da filha única, que perdeu o único que sobrou de seus progenitores, eu jamais irei me acostumar com isso. Sempre que perder um paciente vou pensar que sou insuficiente, que devo ter esquecido de algo que poderia fazer a diferença, de que não fiz valer os anos de faculdade de medicina, mas a verdade é que eu dou sim tudo de mim, porque salvar vidas é o que eu escolhi para mim, até o meu fim. Pelo meu pai, que morreu quando eu tinha apenas um ano de idade.
Pego meu celular e olho o horário, 15:00 da tarde, após acabar meu plantão vim para casa com Chloe, ela tentou me animar, e não me deixou sozinha nem por um segundo, como sempre, ela nunca me abandona. Posso esperar de qualquer um isto, ser abandonada e esquecida, mas jamais cogitarei que Chloe faça tal coisa, ela é com certeza a melhor amiga que alguém poderia ter.
Me levanto de minha cama e começo a arrumar meu quarto que ela conseguiu bagunçar em segundos, levo os copos e pratos para a cozinha, e retorno para o meu quarto indo tomar um banho quente e relaxante, lavo meus longos cabelos castanho que devem ser cortados e seco assim que termino o banho. Entro no meu closet e pego uma roupa interior e visto, escolhi para usar uma calça preta, blusa de manga branca, jaqueta preta de couro por cima e bota de cano curto preta de salto médio. Me perfumo, passo um batom rosa claro, pego meu celular, chave de casa e do carro e saio. Dirijo meu Land Rover pelas suas movimentadas de Nova York e estaciono ele na porta do Starbucks, desço do carro, tranco e entro. Logo uma onda de calor me atinge e o cheiro de café faz meu estômago roncar, passo uma vista de olhos pelo lugar até achar o olhar que procuro. Caminho calmamente até Zayn e quando estou bem próxima ele se levanta para me dar um beijo no rosto e um meio abraço. Reparo na sua roupa, calça preta, blusa cinza, jaqueta preta, coturno preto.

- Boa tarde, como está?

Digo enquanto me sento a sua frente.

- Bem, e você?

- Levando..

Dou um meio sorriso ao me lembrar do episódio de ontem.

- O que aconteceu?

- Perdi aquele paciente.

- Óh, sinto muito.

Diz e sorrio como agradecimento.

- Tomei liberdade e já fiz nossos pedidos.

Diz assim que a garçonete deixa um pedaço de bolo de chocolate e um capuccino para cada um. Odeio bolo de chocolate! Não me julguem, apenas Chloe pode.

- Humm, obrigada.

Digo bebericando meu capuccino.

- Então, quanto tempo faz que está ali no hospital?

- Especializada na minha área três anos. Fora os seis nos de faculdade.

- Interessante! E você sempre soube que queria ser médica?

- Sim, quando eu tinha três anos de idade minha mãe estava fazendo a faculdade dela de medicina e eu acompanhava ela, já que não tinha com quem ficar, a partir daí adquiri esse amor pela medicina.

- Filha única?

- Não, tenho um irmão, Louis.

- E ele mora aqui?

- Sim.

Ri, isto tá parecendo um interrogatório.

- Desculpe, faço muita pergunta.

- Estou vendo, enfim, me fala sobre você!

- Bom, tenho 26 anos, sou dono de uma empresa revendedora de eletrônicos, tinha planos de me casar este ano mas minha noiva me deixou.

Solta uma risada nasalada e fico sem saber o que dizer.

- Sinto muito..

- Não, tudo bem. Pelo menos ela foi realista comigo, ela me traia e ficou grávida.

- Que barra, Zayn.

Como ele aguentou? Eu teria me acabado.

- Tudo de ruim que vem é para nos ensinar algo.

- Não, eu pelo menos não aprendi nada com a morte do meu pai.

- Sinto muito.

- Não sinta.

Sorrio levemente.

- Você é bem legal, Louise. Achei que seria uma médica careta e chata.

- Óh, obrigada, acho eu. Tudo bem que os plantão me matam mas eu amo aquilo lá, amo a adrenalina, amo salvar vidas.

- Sempre quis ter uma amiga que fosse médica.

Diz piscando o olho. Amiga!?

- Bom, agora você tem.

- Sorte no amor?

⁃ Não tenho tempo para isso, Zayn.

⁃ Mas é claro que tem, é só saber se organizar melhor.

⁃ Você está querendo dizer que não sou organizada?

Faço uma careta para ele que arregala os olhos.

⁃ É brincadeira, Zayn.

Gargalho e ele sorri.

⁃ Seu sorriso é uma dos mais bonitos que já vi.

Ele diz e baixo a cabeça envergonhada.

In the name of love. Onde histórias criam vida. Descubra agora