Capítulo 2

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-Bora para onde? –O Tomás perguntou segurando o terço procurando não perder a calma. Dava para ver em seus olhos que estava desesperado. Se tem um lema que ele costumava usar era "Não mexe com quem está quieto e com aquilo que tem um poder mais forte que você" e, de fato, esse tal homem da meia noite parecia ser bem forte.

Às vezes, eu queria conseguir ter pena das pessoas que eu chamo de amigos, mas fazemos tão mal uns aos outros que eu só consigo pensar quão medrosos somos. Eu queria me sentir mal pelo Tomás por ele viver fazendo coisas que vão contra sua religião. Ou pela Carla que vai com a gente para todo lugar só para não voltar para casa. Mas, mais ainda pela Sabrina, minha melhor amiga, que todos acham estranha e psicopata. Eu só não tenho pena do Caíque que é um idiota porque quer. Nosso namoro, no começo, era mil maravilhas, ele era romântico e eu a namorada apaixonada. Só que o tempo nos mostrou que vivíamos uma relação de dependência e segredos, principalmente um certo segredo... Segredo esse que me mantinha e continua mantendo ao lado dele...

Eu queria contar para o mundo e me livrar do peso de guardar esse segredo para mim, queria que todos soubessem o porquê de estarmos juntos, mas não tinha coragem.

-Para o quarto da velha. –Ele levantou pegando os objetos para o ritual. Fizemos o mesmo.

Andamos até o quarto da Rosa, que ele sabia muito bem onde era, poderia ir de olhos fechados. Por onde passávamos ele apagava as luzes. A casa estava toda apagada e nossa visão não era um breu total devido à luz da rua que nos proporcionava uma leve visão do que estava a nossa frente.

Assim que entramos no quarto, o Caíque fechou a porta. Antes que tivéssemos tempo de pensar em qualquer coisa, principalmente em desistir ele disse:

-Meia noite. –E deu o sorriso mais assustador que alguém podia dar na vida. Sabia que teria pesadelos por muitos dias. Ouvi meus amigos murmurarem alguma coisa, mas não decifrei o que era. -Primeiro vão escrever o nome completo de vocês na folha. –Ao tempo que ele ia falando, ia fazendo. Nós o acompanhamos. Não era como se fosse possível desistirmos se resolvêssemos que a brincadeira seria idiota. Quando ele percebeu que todos já tinham o feito, continuou a falar. –Agora furem o dedo e deixe uma gota do sangue cair sobre o papel.

Hesitamos em fazer.

-Anda logo, merda. –Fizemos.

-E agora? –A Carla perguntou irritada.

Ele pegou os papeis das nossas mãos e mandou acendermos a vela.

Sem reclamar, fizemos.

O Caíque passou os olhos por nós conferindo se todas as velas estavam acessas.

-Um... Dois... Três... –Ele batia na porta e sussurrava o número em seguida. Senti alguém segurar a minha mão, não precisei olhar para saber que era o Tomás. Apertei sua mão tentando passar-lhe uma tranquilidade que nem eu tinha. –Vinte e dois... –Ele disse e apagou a vela. –Apaguem as suas velas. –Ele sussurrou.

Um som de chama mexendo e se apagando soou no recinto.

O Caíque abriu a porta e a fechou em seguida. A luz da rua piscou e apagou. O pouco que via agora era um breu total, estávamos completamente no escuro. Meu coração acelerou e eu obriguei-me a ficar calma. Não podia pirar igual o Tomás estava prestes a fazer.

-Que comece o jogo. –Ele sussurrou acendendo a vela.

Todos nós fizemos o mesmo, mas quando olhamos onde há um segundo estava o Caíque, não havia ninguém.

-Mas que merda! –O Tomás falou.

Fechei os olhos por um segundo e deixei minha mente viajar. Eu queria tanto estar em casa com os meus pais e meu irmão vendo um filme ou discutindo com meu amigo virtual da Irlanda porque o Brasil era um país melhor para se morar, mas ele vivia me ganhando com o argumento que no país dele não existia o Caíque. Sim, ele sabia da nossa história e eu morria de medo do meu namorado descobrir de alguma forma e me matar, mas se tem uma pessoa nesse planeta que eu conheço, essa pessoa é o meu amigo virtual.

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⏰ Última atualização: Nov 10, 2017 ⏰

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O homem da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora