Capítulo 1

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-Eu já sei o que vamos fazer hoje! –O Caíque falou batendo a porta do armário, após pegar os livros importantes paras as aulas e um sobre demonologia que carregava para todo lugar. Ele não conseguia conter um sorriso orgulhoso e ansioso. Eu sabia que ele tinha passado meses pensando no que estava prestes a falar

-O que? –Quis saber a Sabrina.

Ao fundo, tocava o sinal que indicava o começo das aulas.

-Vamos invadir a casa da Senhora Rosa. –Olhei para ele de olhos arregalados, mas não surpresa com a ideia do louco do meu namorado, não havia uma coisa que ele não fizesse para descobrir ou provar a existência de algo sobrenatural. –Para jogar o jogo do homem da meia noite. –Ele falou com uma voz sombria que, juntamente, com seu sorriso psicopático, fez com que eu me arrepiasse.

-Fiquei sabendo que ela foi para a Bulgária. –A Sabrina de uma risada, se divertindo com a animação dele e sem perceber que eu hesitei. Caminhamos até a sala de aula no final do corredor e, ao entrar na sala, fomos de encontro aos nossos dois amigos: Tomás e Carla.

De todos os grupinhos de amigos da escola, o nosso era o mais aleatório e heterogêneo que, em outro mundo real, nunca daria certo e, embasado nos estereótipos impostos por Hollywood, deveríamos nos odiar. Eu era cheia de amigos e que apenas ao direcionar um sorrisinho para alguém, fazia a pessoa suspirar e sorrir. Caíque jogava pelo time de futebol da escola e foi o responsável, junto com seus amiguinhos famosinhos, por todos os jogos ganhos e os troféus que a escola recebeu, além dele ter um amor descomunal por qualquer coisa que os ateus julguem inexistentes, principalmente espíritos. Nos dois juntos, formávamos o casal mais cobiçado da escola. A Sabrina tinha uma postura de cética perante a qualquer coisa que o Caíque julgava ser real e, em filmes de adolescente americano, seria rotulada de gótica e que alimenta um rato em sua mochila na hora do almoço. O Tomás rezava por tudo e qualquer coisa que acontecia de bom em sua vida, resultava em um breve, ou longo, agradecimento a Deus. E, por último, a Carla que corrigia todos os amigos todas as vezes que falavam algo errado e que sabia de tudo um pouco, com ela, era possível estar conversando sobre Marx em um segundo e no outro estar falando de métodos para diminuir os sintomas da gripe H1N1.

Todavia, apesar de nossas qualidades singulares em relação aos outros, segredos e defeitos permeavam as relações e mantinham nós cinco unidos. O medo de brigar e alguém expor o outro era grande e costumava servir como chantagem para nos convencermos a seguir ou ajudar uns aos outros, o que só aumenta a quantidade de coisas que escondíamos do mundo. Resumindo, a relação tinha como principais alimentos o interesse e o medo.

-Hoje vamos invadir uma casa. –O Caíque soltou as palavras como se falasse "bom dia". Ele colocou os livros sobre a mesa e sentou na cadeira. Diferente do mal-educado do meu namorado, eu cumprimentei os dois e a Sabrina também.

-Eu não posso fazer isso! –O Tomás colocou as palavras para fora mais alto do que pretendia e levou um olhar torto da Sabrina. Antes que o Caíque pudesse começar a chantageá-lo, ele completou na esperança que fosse mudar alguma coisa. –Meus pais vão ficar muito irritados se descobrirem, sem falar que vou ter que rezar infinitamente.

-Tem que ser nós cinco. –Ele disse. Foram tantos dias que ele passou sem dormir e ignorando minhas mensagens, só idealizando a noite para nada dar errado e estava decidido a não deixar ninguém dar um bolo nele. Não ia jogar horas de pesquisa e anotações no lixo porque o Carlos era um seguidor fiel de Deus e Jesus Cristo. –Não me faça apelar, Tomás. Tenho certeza que tem coisas bem piores para confessar para o padre. –Ele lançou um olhar assassino para o Tomás que resistia a entregar-se ao medo.

O homem da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora