"Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós " engraçado. Pudesse eu ter lido o futuro. Pudesse eu mudar o passado. É uma angústia, uma frustração imensa que corrói por dentro querer pedir desculpa e ser tarde demais. Hoje é só mais um dia que passa, mais um dia que passa e calha esta data esmagadora. Queria ter dito que por mais vezes que eu fizesse birras, no fundo eu só queria atenção. Eu sei que não era a filha perfeita, mas vocês também não eram os pais perfeitos.
Tudo virou rotina, a comida mal passada da minha tia, os pães quentinhos do meu tio. Admirava bastante a minha tia, era de facto uma mulher de valores. Esbelta, nos seus 30 e poucos anos, cabelo comprido, até demais para a idade dela diria eu. Cada vez que se chateava comigo e abria aqueles olhos castanhos e esbugalhados eu encolhia-me imediatamente, metia respeito. Surpreendentemente metia mais respeito que o meu tio, era ela que vestia as calças da relação completamente. Ao contrário da minha tia, ele não tinha uma personalidade muito marcante, era o típico pãozinho sem sal. Até eu sabia que quando precisava de autorização para algo tinha de lhe pedir a ela, pois se lhe pedisse algo a resposta era de certeza: " pergunta à tia!".
Enfim, habituei-me a tudo. Viver com a tia Bia e o tio Heitor, não ter mãe nem pai.