Paralelo

Mudança

Capítulo 02

Ana

"Então Romeu beberá do veneno, pois, por sua amada Julieta, não foi suficiente em amar"

O que???

"E se deitará em sono eterno, frio e duro, com nada mais, nada menos, que o peito cheio, por um coração quebrado"

Não!!!

"Julieta, pobre e abandonada, por perder seu desejo de continuar sem um amor, beberá do mesmo frasco, verá o céu através de um filtro cinza que se apaga aos poucos, e morrerá, sepultada ao lado daquele que deveria viver para sempre ao seu lado. "

Não, não, não! Como esse livro pode acabar assim? Como esse autor se atreve a me fazer sofrer por um amor que nem é meu?!

-Ana, você está chorando mesmo? – riu minha melhor amiga.

Minha beldade particular.

Meu diamante negro da... Do Egito. É, isso.

-Sério? Por que raios me emprestou esse livro sabendo que eu iria sofrer?! – eu enxuguei minhas pequenas lágrimas – que maldade Nadja!

-Mas Ana, todo mundo conhece a história de Romeu e Julieta, como você ainda se emociona depois dos spoilers?

-Eu tenho sentimentos, tá bom? É bem diferente quando se lê a história em si!

-Tudo bem, leitora de plantão, mas concentre-se em terminar de decorar o roteiro de Robin Hood, o Nick já está completamente preparado para atuar tantas cenas, e você ainda está empacada na primeira linha.

-Eu sou profunda demais, então não consigo atuar de verdade se não me sentir a personagem, entende?

Qual o sentido de atuar superficialmente? Assim o público nunca vai se emocionar, assim como eu, ao ler a trágica história de Romeu e Julieta.

Nadja me deixou na coxia para se sentar num dos assentos do teatro. Eu encarei o palco iluminado à minha frente, e, de pé sobre ele, o meu Robin Hood. Nick estava pronto para ensaiar comigo a cena em que ele se encontra com Lady Marian, eu permanecia tranquila, afinal, era ele quem veria os meus erros em seguir o roteiro, e não uma multidão aprisionadora. Fiz o de sempre antes de pisar no palco, respirei fundo de olhos fechados, assumindo a responsabilidade de carregar comigo uma personagem que não era minha; devo honrar o meu papel numa peça, seja qual for.

Avancei sobre o palco amadeirado, e olhei para o menino de cabelos cor de mel à minha espera, e incorporamos o teatro em nosso ser.

-Como tu estás tão esbelta esta manhã! Ouvi o teu cantar, tão logo, descobri quem era a dona de bela voz...

Calma Ana...

Ele não é Nick, é Robin Hood.

Pareci surpresa e fingi me esconder atrás de uma árvore.

-Que fazes aqui? És proibido de entrar nestas milícias! O rei deseja tua cabeça numa forca!

Ele se aproximou da árvore imaginária, e a "segurou", esticando o pescoço inclinado para me ver de perto.

-Ora! Minha Marian, eu vim para ver teu belo rosto. Pois me perdi em quimeras ao imaginar-te cantando esta sua canção, para mim, especialmente.

Quem foi o infeliz que escreveu esse roteiro? Para que tanta aproximação? Droga, eu fico vermelha muito fácil. Tive dificuldade em prosseguir sem me perder. Dei uma vacilada.