O velhote quase todo desdentado fica em frente ao muquifo daquela pequena rua em aclive olhando para o mundo. Sua boca permanece entreaberta, e ele percebe claramente como quase todos desconsideram sua presença. Ele permanece sentado naquele banquinho de plástico vermelho e praticamente não se mexe.
É um velhote feio. Quase negro, na verdade cafuso - negro com índio -, com rosto inchado quase deformado, tronco amolecido e pernas finas e fracas. Com cabelos esparsos, braços bambos e peito afundado, o velhote é quase uma paródia daquilo que ele foi. Hoje permanece ali parado, olhando com aquela boca boba para a rua, desprezado por todos os que passam.
Enquanto o velhote permanece ali parado, o mundo avança. Alguns carros sobem e descem a rua, alguns mais apressados, e pessoas passar por ele em direção ao pequeno mercado ali ao lado. É fim de dia, quem tinha trabalho a fazer já se prepara para tomar uma cerveja na lanchonete preferida, e o clima é de bonança.
O velhote permanece ali parado, e ninguém diria que ele pensa em alguma coisa (como ninguém diria que o cachorro ali ao lado também está pensando). Mas a mente do velhote está a todo vapor. Pois, por detrás de seu olhar mortiço, passam imagens de algo que já foi, assim como de peripécias que ainda hão de vir. O velhote faz contas. Pensa no passado, e no futuro próximo, sendo que seu olhar bobo parece exalar até mesmo alguma esperança.