domingo.

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eu gosto de escovar os dentes enquanto eu tomo banho. gosto de bochechar com a água irregular do chuveiro que molha todo meu rosto e enxágua minhas lágrimas.

eu gosto de ouvir música no banho, lembrar dele, e chorar mais um pouco, fingindo que ninguém vai ver porque a água está limpando toda minha tristeza. gosto de ligar e ligar e ligar pra ele, sabendo que ele não vai atender. sabendo que vou cancelar a ligação cinquenta vezes antes de completa-la para ouvir a caixa postal.

no banho posso ser quem eu quiser ser, mas sempre me escolho como personagem principal do filme que não vai pro ar. sempre sou a mulher que chora por um coração que não tem mais, e que escova os dentes dentro do chuveiro por ser mais divertido.

sempre que saio do banho acendo alguns cigarros, e depois que acabo de fumar eu lembro que já escovei os dentes e me sinto culpada, deito na cama com um cheiro péssimo e acordo algumas horas mais tarde só para encher um copo de vodka ou whisky, e lembrar que eu ter escovado os dentes não valeu de nada. sento no sofá da casa vazia e coloco jazz. todos os cantores que morreram por usar drogas. bebo alguns copos.

choro no sofá depois de ficar meio bêbada, e fumo mais cigarros, geralmente é quando meu maço acaba. vou até a banca, compro dois. no próximo domingo voltarei lá praticamente na mesma hora. no meio do caminho me pergunto porque não comprei mais maços, mas não volto.

chegando em casa, tomo banho. eu gosto de escovar os dentes enquanto tomo banho.

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