Sleepy Circus

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Uma canção de ninar enfraquecida ecoa pelas ruas escuras, passos silenciosos vibram no solo que nos engole em meio à escuridão. A respiração que pode ser vista marca o cenário como nuvens que logo se dissipam em meio à frieza desta perseguição, as luzes das casas passam a se apagar como velas de aniversário sopradas deixando para trás apenas um perseguidor e o vazio daqueles consumidos pelas trevas.

A misteriosa bengala que derrubara o pobre garoto nas trevas teria o salvo daquele estranho perseguidor? Ou apenas o derrubado no inferno de seus pensamentos, onde jamais seria encontrado? Quando as luzes tomaram conta do ambiente em que se encontrava o jovem se deparou com a decoração de um circo, papeis de paredes coloridos carregavam imagens do espaço e oceano, equipamentos espalhados pelo chão chamaram a atenção do pequeno garoto ainda confuso com os acontecimentos passados.

Olhos confusos vagavam pelos arredores fazendo com que o jovem estranho se sentisse tonto, o chão que se movia deveria ser apenas uma sensação devido à imensidão de questões que afogavam sua mente, foi o que pensou e desejou ser a resposta... Mas para sua surpresa o destino parecia muito mais divertido, abrindo as cortinas da tenda uma alta figura marchou em sua direção com uma bengala de carvalho cuja empunhadura possuía ramos de Clethra Alnifolia entalhados, apreensivo com o que poderia acontecer, seu corpo se arrastou para trás até que suas costas tocaram alguém e com sua cabeça vagarosamente se inclinando para ver o rosto de quem estava em suas costas se espantava mais uma vez.

Olhos arregalados refletiam o que deveria ser um garoto, mas sua cabeça era de gato, com a mão sobre sua boca o garoto se voltava procurando alguma escapatória apenas encontrando mais daquelas criaturas curiosas, antes que pudesse fazer qualquer tipo de pergunta o homem misterioso tocou seu ombro dizendo em uma voz baixa que aquele lugar era seguro, lágrimas umedeciam os olhos da criança perdida que com certa dificuldade balbuciou palavras sem nexo. Pela primeira vez sons passavam por aqueles tímpanos esquecidos, encarando nos olhos ocultos pela grande cartola que parecia se mover na cabeça do homem que se apresentou como Eno o mágico, as emoções do garoto desconhecido eram facilmente identificadas em seu rosto expressivo.

As criaturas se aproximavam enquanto se apresentavam, o garoto que possuía cabeça de uma gato rajado atendia pelo nome de Claude e era equilibrista, o atirador de facas era de longe a criatura mais curiosa... O corpo de um urso de pelúcia, porém suas cabeças envoltas em um saco branco com o desenho de um olho e de suas costas braços de polvo saíam, atendendo pelo nome de Amon. Aqueles três eram apenas uma pequena parte do circo de sonhos que era apresentado à criança por eles resgatada, a imensidão daquele lugar que estava sempre em movimento era como o céu, brinquedos e tendas todos possuíam vida e se apresentavam um a um ao visitante, o brilho dos olhos dele se intensificava conforme conhecia a beleza dos diversos sons que poderia ouvir, porém o passado que o guiará até este local estava bloqueado pela magia de Eno.

Heike era o nome do pobre filhote perdido que agora caminhava em meio às atrações de mãos dadas com o mágico, um circo que desconhecia a noite lembrava as luzes de natal aquecendo um coração que antes não conhecia o conforto de um toque gentil, frágeis dedos se desprendia da larga mão que os protegiam para poderem alcançar a crina dos cavalos de um carrossel, a baleia azul que voava junto dos animais que deveriam apenas pertencer ao mar sorria para a criança que saboreava este novo sorvete antes que se derretesse e o sonho acabasse.

Heike estava evidentemente curioso sobre aquele paraíso onde até mesmo sua audição havia voltado e decidiu que vagaria perguntando a todos que estivessem dispostos a lhe ouvir, as atrações diziam que apenas o responderiam se ele tomasse parte das mesmas e assim lá estava ele amarrado aguardando as facas flamejantes que seriam atiradas em sua direção. Amon com todos os seus braços apontava uma a uma as facas que eram logo lançadas cortando os ventos em direção ao gato acolhido por eles, o forte som do impacto da lamina na madeira se assemelhava aos batimentos do coração apreensivo de Heike, a baixa risada aguda de Amon foi o suficiente para aliviar o nervosismo quando as facas haviam chegado ao seu fim.

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