Meus olhos se abriram, ainda era noite e meus pais estavam jogados sobre o gramado e feno fedido. Eu me senti culpada, por estar escondida, por não ter ajudado enquanto podia, mas eu estava paralisada, e nenhum músculo se mexia para sair do lugar, pois eu parecia ter criado raízes na terra, me juntado ao milharal, como se eu literalmente fizesse parte dele. Mas agora eu podia ver: minha mãe totalmente nua e suja de lama em variadas partes do corpo e meu pai com a cabeça sangrando, era possível ver a cor do sangue nos seus cabelos extremamente grisalhos; E eu tive medo, medo de que ele já tivesse partido. Mas eu preferi acreditar no melhor, mesmo que tudo estivesse em caos.
- Você olhou dentro da casa, Justin? – Perguntou Freedom, e percebi que eles todos usavam uma máscara de porcelana branca, apenas com abertura para os olhos e boca. Era tão simples, mas me causava calafrios – Disseram que tem uma menininha com eles também.
- Porra, cara, por que não me avisou antes? – Questionou Justin.
- Apenas vá logo ver se ela está lá dentro da casa, garoto, talvez a menina esteja apenas dormindo. – Indagou outro, que até aquele momento não havia dito nada.
Justin fez o que o mandaram, a dor que eu estava sentindo a minutos atrás voltou, mais intensa e dolorosa. Eu estava a ponto de cair morta, com receio de que me encontrassem. Eu sentia meu coração apertar mas mesmo assim, nenhum músculo nem sequer se contorcia a favor para sair do lugar de onde eu estava. Me senti impotente, como papai, que estava apenas a implorar pela vida, mas sem capacidade de poder fazer algo. Eu precisava pensar rápido. "Pense, Holy, pense, sua idiota!" Exclamava a minha mente.
- Ela não está aqui dentro, imbecis do caralho! Ela fugiu! – Exclamou Justin colocando a cabeça para fora da janela do meu quarto para avisar os outros homens.
- Tem certeza de que ela não está escondida debaixo da cama, Justin? – Perguntou o homem mais alto e forte do grupo, dava para ver, mesmo que ele usando roupas escuras em plena noite, o volume de seus bíceps – Ela não pode ter fugido. Qual criança fugiria deixando seus pais sofrerem? Crianças são dependentes, Justin!
- Ela não está aqui, merda! – Reafirmou o garoto – Procure ela, caralho, pode estar por todo lugar, olhe o tamanho desta fazenda. Procure no milharal, Bones!
- Eu juro por Deus, que se essa garota tiver fugido e colocar nosso trabalho abaixo d'água, cada um de nós irá meter um tiro na tua cabeça antes que a polícia nos prenda, Freendom – Disse Bones, o musculoso, que já ia se dirigindo até o milharal, fazendo meu corpo tremer por completo. Eu sentia como se minha pele fosse se desgrudar da minha carne. Sentia que a gravidade não era uma boa companhia naquele momento.
Cada um havia se dirigido para um canto da fazenda. Justin desceu as escadas da minha casa numa velocidade admirável e foi até o poço de água, Freedom andou até sumir por trás da casa e o único que eu ainda não sabia o nome ainda estava na frente de casa, eu ficava mais nervosa a cada minuto enquanto Bones adentrava o milharal, apontando sua calibre 38 para frente com as duas mãos bem firmes. O que estava na frente de casa, se virou, para pegar um cigarro que aparentemente estava na sua mochila totalmente preta.
Aproveitei o momento e saí em disparada, em direção ao celeiro, como um tiro certeiro, como um animal feroz atrás de sua presa, senti meu coração pulsar tão forte, enquanto eu saia do milharal, tomando cuidado para não fazer nenhum maldito barulho que me entregasse. Eu olhei para trás para ver se Bones havia me visto e graças a Deus não tinha, mas eu tropecei em uma pedra, e caí sobre o gramado fofo, o que não resultou em nenhum barulho estrondoso. Me levantei, como na vez em que meu pai havia me dito "Levante e sacode a poeira", ele sempre dizia isso quando eu caía, eu costumava ser muito desajeitada, e ele nunca me pegou pela mão e me levantou, apenas me dizia esta frase, e eu fiz o mesmo naquele momento.
Finalmente eu havia entrado no celeiro, ensopada de suor frio, com as mãos tremendo e meus tornozelos quase que não suportando o peso do meu corpo; eu sentia como se pudesse desabar a qualquer momento, mas eu precisava continuar forte, eu precisava pela mamãe e pelo papai.
Eu ouvi barulhos, barulhos de passos, andando pelo gramado fofo, e novamente me vi perdida, mas agora sem ter para onde correr, os cavalos estavam todos alvoroçados com a minha presença, eles ficavam assim comigo e com a mamãe, a única pessoa que tocava neles era meu pai. Não quero que ele morra, ele não pode morrer.
"Pense rápido" minha mente dizia. Peguei um bastão encostado na parede de madeira mofada e fiquei nas pontas dos pés, para alcançar a lâmpada, minha sorte era o teto ser baixo, o que facilitou, e assim bati o bastão contra a lâmpada, o que causou um barulho alto. Eu precisava me esconder rápido. "Rápido, vadia", aquela era uma palavra nova, uma palavra que aqueles malditos homens haviam me ensinado e por mais que eu não soubesse o que significava, eu sentia que ela era um "palavrão bem feio" como dizia minha mãe.
Avistei a "montanha de merda" do Efésios, estava dentro de um balde fundo, o cheiro era tão ruim, e eu não entendia, pois, Efésios comia apenas ração de cavalo. Os passos se aproximavam cada vez mais. "Entre nesse balde, vadia" minha mente ordenava, e eu não queria, eu não podia, era tão nojento, a cor e o cheiro, me faziam ter dor de cabeça e extrema ânsia. "Entre ou você terá uma bala cravada no meio do teu crânio, garota idiota" minha mente insistia cada vez mais. Tampei meu nariz com meus dedos da mão esquerda e entrei no balde, colocando um pé primeiro e depois o outro, entrando aos poucos e afundando aos poucos. "Montanha de merda" era a única coisa que se passava na minha cabeça, "você está se afundando na montanha de merda do cavalo Efésios" apenas.
Estava apenas com a cabeça para fora, quando ouvi a porta do celeiro ranger. Bones estava entrando. Entrei por completa, nenhuma parte para fora. O cheiro já não incomodava tanto, agora eu só queria que Bones saísse do celeiro logo, pois eu estava me forçando a ficar ali dentro a cada segundo. "Seria melhor ter morrido" pensei, mas minha mente contradisse, "Você não é idiota o suficiente para acreditar que morrer é melhor do que se atolar em um pouco de cocô, então cale-se", as vezes minha mente lembrava minha mãe, e como ela era exigente.
Ouvi gritos, bufadas, e talvez madeira sendo arrebentada ao meio. Parecia estar acontecendo um apocalipse para fora do balde, então ergui a cabeça aos poucos para fora, senti o cheiro invadir abruptamente minhas narinas, mas ignorei para observar o que se passava no celeiro. Avistei as paredes de madeira totalmente destruídas, os cavalos não estavam mais dentro do celeiro, e Bones estava jogado sobre o chão, ensanguentado e cheio de cortes e feridas, o seu rosto estava completamente esmagado, não dava para identificar se eu já o via visto alguma vez na vida, e isso me preencheu do sentimento de decepção. Mas eu não poderia estar mais grata pela ajuda que os cavalos haviam me dado. Graças a Deus pelos cavalos selvagens da minha fazenda!
- Garota, vo-vo-você vai morrer! – Balbuciava ele em meio aos litros de sangue que saiam de sua boca. Eu me agachei e o olhei nos olhos, pelo menos o que havia restado deles. Abri a boca dele com a minhas duas mãos, peguei um pouco de merda do cavalo Efésios que estava acumulada no meu vestido e fiz ele engolir tudo. Abri novamente, enquanto ele com todos os ossos quebrados se contorcia para me fazer parar, mas eu coloquei ainda mais merda dentro de sua boca.
- Engula, assassino! – exclamei – Engula!
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NOTURNO
HorrorHoly mora com os seus pais em uma fazenda, a fazenda mais respeitada da cidade de Joursey, porém, em uma noite, sua família corre sério perigo, quando estranhos invadem o local e prometem fazer eles sofrerem até o amanhecer. Holy terá que ser uma me...