Capítulo I

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Esperando meu pai do lado de fora da emergência do Hospital do plano, meu coração está a mil, mamãe caiu da escada e fraturou alguns ossos. Eu não gosto muito de hospitais, apesar de já ter cogitado ser médica. O que 12 temporadas de Grey's Anatomy não fazem com a pessoa, não é mesmo?
Voltando para a vida real, peguei ranço de hospital, depois que meu pai bateu o carro em 2013, eu estava no banco de trás, meu rosto colidiu com o banco da frente, por sorte eu estava de cinto, e algo pior não aconteceu. Porém passei alguns longos dias no hospital. Ninguém passou por pré-morte, mas os ferimentos foram terríveis. 

Estou sentada nos bancos de concreto, olhando o outro lado da rua, há uma lanchonete, desejo profundamente uma coxinha, mas não posso sair daqui até meu pai dar notícias.
Com alguns minutos de espera, Mabele apareceu do outro lado da rua. Desceu do carro para ir a lanchonete. Mabele era uma colega de classe minha, estudamos juntas no terceiro ano do ensino médio, não nos falávamos muito, ela era novata, e se enturmou no grupinho das fofoqueiras logo no primeiro dia, não fiz muita questão de me aproximar dela.
Ela de longe, fingiu não me ver, mas eu a olhei bem e diretamente por alguns segundos, até que ela fingiu me notar e acenou dando um sorriso forçado. Sorri de volta, e ela atravessou vindo em minha direção.
—Ester! Quanto tempo! —diz como se estivesse mesmo feliz por me ver.

—Oi, Mabele. Tudo bem? —pergunto educadamente. 

—Melhor do que nunca, sabe? Nossa, a vida está um furacão, não sei se sabe, estou cursando publicidade, e já consegui um estágio numa das empresas de publicidade mais famosas da cidade, não sei se conhece... —A garota engata a falar de sua vida. —Estou namorando o Kauã, aquele que estudava na nossa sala.

"O idiota que colava figurinhas de caderno nas costas dos outros e ficava rindo da própria idiotice? É, eu me lembro." —penso.
—Pois é, estamos juntos faz três meses. Ele é um amor de pessoa, e a família dele também é maravilhosa.

"E rica."

—Eles são gente boa demais, melhores sogros do mundo.

"Será que é por que são ricos?"

—Vamos passar esse fim de semana na casa de praia deles na Barra.
"Como eu ia dizendo, ricos."
—Se ainda tivesse vaga no carro, você poderia ir com a gente.
"Dispenso."
—É que minha mãe está doente, então, esse fim de semana será como qualquer outro. Em casa assistindo série. —enfim digo algo em vez de pensar.

—Que pena. —responde nem um pouco interessada. —Mas, e você? Namorando? Estudando? Trabalhando? O que está fazendo por ai?

Chegamos na parte que eu detesto. Por que os outros querem saber das vidas alheias? Só há três motivos:
1. Estão preocupados com você. 1%
2. Querem saber se você está tão mal quanto eles mesmos. 2%
3. Querem ver se você está "abaixo" deles na "tabela da felicidade". 97%

Pressuponho que ela esteja nos 97% da lista.

—Resolvi me dar um ano de folga, sabe? Um tempo para me decidir, para me encontrar e tentar achar algo que eu goste de fazer.

—Nossa, você é corajosa. Perder um ano da sua vida sem fazer absolutamente nada? É muita coragem.

Acho que ela não ouviu a parte de "Me encontrar e tentar achar algo que eu gosto de fazer"

—Não é tão ruim quanto parece, prefiro perder um ano pensando, do que quatro anos fazendo uma graduação que não desejo para agradar a sociedade e não à mim mesma.

A garota engole seco e solta um riso meio debochado.

O resto do dia, passo pensando sobre o que realmente sou e o que quero fazer no próximo ano. Meus pais têm me pressionado muito com relação a esse ano sem nenhuma utilidade periférica para o meu futuro. Isso me cansa muito, pois meus pensamentos se revertem, no fim me pego em pensamentos pessimistas e que me desvalorizam por completo, choro horrores desejando voltar à época em que eu ouvia One Direction e Justin Bieber, não faz tanto tempo, mas era tão bom, não ter que me preocupar em tomar decisões grandes em pouco tempo. É agoniante saber que o caminho para o erro é mais certeiro que para o acerto. Temo muito de um dia, me pegar aos 40 anos, dependente dos meus pais, sem nem se quer saber viver sem eles. Eu sei que sou mais que isso, mas às vezes duvido de mim mesma, e do pouco que já aprendi nessa vida.

Tem dias que acordamos, e pensamos com o passar dar horas: Era melhor ter dormido o dia inteiro.
Nos sentimos como o Meme João Paulo, na merda.

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