Capítulo II

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Estamos em março, e daqui a dois meses finalmente completo 18 anos. A única vantagem que vejo nisso, é poder doar sangue sem a permissão dos meus pais, de resto, por mim tanto faz. É só mais uma idade, que não diz nada sobre mim, ou pior, é a idade do
"O que você vai fazer agora?"
 É engraçado como, quando uma criança já entende das coisas, as pessoas começam a nos perguntar o que queremos ser quando crescer. Todos esperam a resposta ansiosamente, crente que irão ouvir "médico", "advogado", "veterinário", "jornalista". Seria surpreendente mesmo se uma criança de 7 anos abrisse a boca e dissesse:
 Eu quero ser Gari! 
Os queixos iriam cair, e quem ouvisse esta resposta de imediato mostraria os contras da profissão. Mas é a lógica humana. Mesmo que a criança falasse o que a pessoa deseja, por exemplo, "médico", com toda certeza iriam dizer que... bom, para medicina, se estuda muito, muito mesmo. Tudo bem que para uma criança, a maioria não diria isso, se orgulhariam. Mas basta ter mais de 10, que as coisas estreitam. Advogados só ganham bem se defenderem "bandidos", médicos ganham bem, mas não têm tempo, veterinário ganha pouco, de jornalistas o mundo está cheio, por fim, tudo gira em torno do dinheiro que se ganha. Quase nunca é sobre realizações pessoais, bem-estar pessoal e psicológico ou sonho de ser tal coisa. E por isso, essa fase se torna estressante demais para nós, futuro da nação.
Porque é isso que os adultos vêem em nós.
O FUTURO DA NAÇÃO, nos deixam de mão, segurando esse mundo cheio de dilemas, tabus, problemas, e injustiças.
"O futuro é dessa geração"
E no mesmo discurso dizem:

"Não sei o que esperar dessa geração!"
 Estanho como jogam a responsabilidade para nós sem ao menos confiar.
Afinal, essa frase já não estava na boca dos mais velhos há algumas gerações passadas? E até agora, estamos bem. Cheios de problemas, mas conseguindo sobreviver a eles, respirando fundo e lutando por melhorias. E é verdade, hoje, o jovem tem ganhado sua voz, apesar de bem baixinha. As minorias, ainda injustiçadas, estão começando a ser vistas, começando a ser entendidas e ajudadas. E ainda têm medo do domínio da nossa geração... 



Tenho medo é da mesmice de quem acha que coisas imutáveis são verdades absolutas. 


Esses dias tenho dormido cedo, acordado cedo, e correndo numa ladeira que tem perto da minha casa. Ela não é muito inclinada, e como é ao lado de um condomínio luxuoso, toda a via é cheia de guaritas com seguranças de plantão. É seguro, e relaxante, pois há muitas arvores e passarinhos cantarolando. Penso muito durante a caminhada, na verdade, penso muito durante o dia. Eu tentava pensar o mais positivo possível. Porém, era quase inevitável não pensar no que a sociedade quer que eu pense...
Profissão?

O que eu quero fazer da minha vida?
Ás vezes eu começava a cantar músicas da minha adolescência para me esquecer desses assuntos chatos e perturbadores. 
A verdade é que todos nós, jovens, depois dos massantes anos de ensino médio merece um tempo de descanso. Para não pegar em livros, e mesmo que pegue, que seja pra estudar algo que realmente interesse a esse jovem, mas não como uma obrigação ou um fardo. 
Hoje em dia o sistema estudantil, principalmente nos colégios particulares, cobram tanto dos alunos, sem ao menos pensar no psicológico daquele ser humano. Os vêem como máquinas de notas, notas que trazem mais máquinas de notas, máquinas de notas que dão dinheiro. 

E nas escolas públicas, nem se fala, o governo não investe nesses alunos, porque não lhe é interessante investir em pessoas que vão ocupar cargos pequenos. 
É azedo reparar nesse tipo coisa, mas é o que acontece na maioria dos estados do nosso Brasilzão.  

Esse é o meu ano de descanso. 

De paz.

O ano onde posso me perder e me achar em mim mesma. 

O ano em que eu vou poder olhar para mim mesma, por fora e por dentro, e me redescobrir.




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