CAPÍTULO • 03 (Degustação)

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CAPÍTULO 03

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CAPÍTULO 03

IVAN

O CÉU GOSTA de pregar peças de mau gosto na gente, é a única explicação. Estou preso em um minuto que parece eterno, vislumbrando a personificação de um sonho. A mulher vai descendo as escadas sem perceber a minha presença; usa um longo vestido cravejado com pedras cintilantes, e eu tenho certeza, por um breve momento, de que é Petrova.

Meu coração bate audivelmente contra a caixa torácica, mas a minha mente age de forma rápida, elucidando a visão e trazendo lentamente o reconhecimento de que não é ela.

Nunca poderia ser.

Não é ela.

Uma brisa suave faz seus cabelos dançarem e a mulher finalmente percebe a minha presença. Seus olhos lucilam com um acúmulo repentino de lágrimas, mas ela tenta disfarçar abaixando o rosto e virando de costas outra vez. Os cabelos longos tocam o corte do vestido e deslizam pelas costas nuas, exatamente iguais aos de Petrova. Provavelmente foi isso que me fez confundi-la.

Obrigo minhas pernas a se moverem, caminhando com cautela em sua direção, como um animal selvagem se aproximando da presa. Tenho curiosidade, quero ver mais do seu rosto. Entender que tipo de pessoa é essa que conseguiu reviver lembranças há muito abrandadas pelo tempo.

— Desculpe — ela murmura, girando sobre os saltos para me encarar.

A voz, os traços finos, o nariz delicado no meio do rosto anguloso, tudo me faz reconhecê-la imediatamente. Há cinco anos ela usava o cabelo bem curto, repicado na altura das orelhas. Todo o sangue do meu corpo começa a circular mais depressa, desenfreado e destrutivo.

Por que decidiu ficar parecida com Petrova agora? É irritante, inaceitável.

Algo na minha feição deve entregar a ira crescente, pois Lara recua e coloca uma distância considerável entre nós.

— Não sabia que você viria — diz como um ratinho assustado.

— E deixar que algum dos meus irmãos se casasse com você? — desdenho. Não posso controlar minhas palavras e nem a educação. Estou aqui com o único objetivo de acabar com essa palhaçada.

Espero por uma resposta afiada que não chega. Lara era o tipo de pessoa que não aceitava um desaforo, que não se calava quando o assunto envolvia as próprias vontades e sonhos, que não recusava um desafio. Ela era o desafio e gostava de ser. Mas a resposta não vem, apenas um sorriso constrangido.

— Desculpe — repete com o rosto corado.

Suas mãos se contorcem na frente do corpo, deixando-me confuso. Minhas lembranças de sua personalidade não fazem jus à mulher que está na minha frente agora. Aos dezenove anos, Lara era uma jovem bonita, espevitada, com o cabelinho desordenado e o pescoço longo sempre em evidência. Mas esta pessoa é diferente, as curvas do seu corpo estão definidas, seu semblante é menos confiante, como se alguma coisa estivesse faltando.

Entre Perdas e Ganhos | LIVRO 1 | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora