CAPÍTULO • 09 (Degustação)

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CAPÍTULO 09

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CAPÍTULO 09

IVAN

MESMO COM MINHAS diversas tentativas, Lara continua reclusa demais. Talvez ela confiasse um pouco mais em mim se eu não tivesse agido de maneira tão impassível. Mas não, mais uma vez eu deixei o ódio me dominar e atingir as pessoas que me cercam.

Tem alguma coisa nessa história que ninguém sabe e eu preciso começar a fazer perguntas, investigar e revirar o passado. Dentro de mim existe uma angústia, um desespero vibrante que alerta sobre os buracos envolvendo aquela noite há cinco anos, que me faz duvidar se todo esse sentimento negativo foi sempre raiva, se não era uma necessidade camuflada de confrontar Lara.

Inconscientemente, talvez eu sempre tenha desejado ouvir a verdade dos lábios dela.

Bebo mais um pouco do drinque de frutas cítricas, o sabor ajuda a me concentrar. Lara quase não tocou no dela, apenas o suficiente para experimentar, e agora o copo repousa sobre a mesa como um lembrete de seu desespero. A forma como saiu correndo com a desculpa de precisar ir à toalete foi semelhante a um soco no meu ego.

É pertinente tentar consertar aquilo que quebrei com tanto empenho? Eu fui o primeiro a lhe dar motivos para não confiar em mim, o primeiro a apontar o dedo e virar as costas sem olhar para trás.

Pensando no passado, tudo é uma bagunça de lembranças e sentimentos desordenados. Lembro da conversa que tive com Lara ao telefone, do pavor que preencheu minha alma quando as duas começaram a me ligar ao mesmo tempo.

De um lado, Lara era um misto de descontrole e soluços, ordenava que Petrova fosse embora. Do outro lado, Petrova me implorava desesperadamente para chegar até lá depressa, que eu tentasse conversar com Lara para convencê-la a se acalmar. No meio daquela bagunça, Andrei ligava sem parar, assim como Roman e Svetlana, que já tinham chegado na chácara de Mikhail para aproveitarmos as férias daquele ano.

Eu e Vladimir tentamos chegar a tempo, mas não foi o suficiente. A mesma tempestade que levou Petrova nos impediu de seguir viagem. Ficamos hospedados na beira da estrada e, quando meu telefone tocou pela última vez, o mundo se desfez em catástrofes. Petrova estava morta, seu carro havia colidido com outro no meio daquela madrugada chuvosa, e tudo se transformou em tristeza e lamentação.

Pedi para Lara inúmeras vezes que se acalmasse. Avisei que era perigoso para Petrova dirigir na chuva, mas ela não me deu ouvidos. Não se importou.

Faz tanto tempo...

Até quatro dias atrás, quando reencontrei Lara, não pensava nesses detalhes. Agora, no entanto, a dúvida sobre o que originou aquela briga não sai da minha cabeça.

As comemorações ao meu redor parecem fazer parte de um mundo paralelo em que eu e Lara podemos conviver. Ergo os olhos a sua procura, afinal ela não pode fugir para sempre desse assunto, mas percebo a aproximação de Serguei, todo risonho e com o caminhar malandro.

Entre Perdas e Ganhos | LIVRO 1 | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora