Capítulo 3

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Depois de chegar em casa, almocei com a minha mãe e vim para o meu quarto, usar a internet e ver alguns vídeos no Youtube. Nesse meio tempo, acabei pensando no moço que me vendeu a agenda e lembrando do quanto ele era gato. Um sapão - nunca usei esse termo com ninguém, perdoe-me se soei antiquada... Depois disso, acabei tornando o rapaz parte de minha realidade virtual momentânea.

Stalker: era o que eu estava tentando ser agora. 

Ele tem que ter uma conta no Facebook!

Bem, eu não sou muito boa com internet, mas tenho quase certeza de que para encontrar alguém numa rede social é necessário saber o nome da pessoa, no mínimo.

Não sei qual o nome dele, mas, indo ao Google-todo-poderoso, descobri que, para encontrar alguém no Facebook, eu posso ter informações além do nome, como o lugar em que trabalha, familiares, escola e cidade onde mora.

É uma pena que eu não lembre do nome da papelaria em que paramos. Que droga!

Sabe, olhando um pouco para a situação em que estou, cheguei à seguinte pergunta: que diabos estou fazendo?

O garoto é só uma pessoa bonita com quem eu encontrei, por puro acaso, numa papelaria. Não dá para sair nada dali. Relacionamentos sempre começam de algum jeito notável: nunca é do nada. Sempre há algo que vai envolver as duas pessoas em um só mundo, algo que vai juntar dois corações desconhecidos numa vida próspera de amor e felicidade.

O.K, talvez eu ande lendo muito romance adolescente. Afinal, seguindo a lógica dos romances a lá John Green, eu deveria me relacionar com um dos meninos do hospital. A questão é que não há meninos interessantes no hospital – aliás, quase não há ninguém com a minha idade. Quem está nos hospitais, seja internado, seja em filas de atendimento, não está lá para encontrar um amor. Essas pessoas, normalmente, têm esperanças de sair das consultas com, no mínimo, um medicamento novo para minimizar alguma dor, e isso nada tem a ver com relacionamentos amorosos.

A realidade hospitalar é triste, e não sei bem se John Green sabia disso, ou se tentou deixar as coisas menos "pesadas" em "A Culpa é das Estrelas". Penso que a segunda opção seja mais provável, porque aquele cara é genial, e acho que li em algum lugar sobre ele ter trabalhado em hospitais de câncer quando estava escrevendo a história da Hazel e do Augustus.

De qualquer maneira, deve haver algo que una duas pessoas em algum instante de suas vidas, de alguma forma. Nada surge de forma unilateral, não quando se fala de relacionamento.

Eu só tive uma quedinha pelo rapaz da papelaria. Nada mais que isso.

A todo o momento, eu tenho certeza, as pessoas arranjam paixonites – elas até chamam de "crush" (é o que eu vejo no Twitter). O cara bonito do metrô, a moça maravilhosa do ônibus... E é isto que estou tendo: um crush.

Um crush que eu quero ter como amigo nas minhas redes sociais.

***

Daniel Antônio.

Eu encontrei seu nome depois de pesquisar "Papelaria Líbano" no campo de pesquisas do Facebook e reconhecer a foto do único perfil que apareceu de alguém que morasse em Brasília. Sendo assim, se ele não for o dono da papelaria, toma conta dela pra alguém. É o único funcionário.

Descobri o nome do estabelecimento de uma maneira muito simples: peguei a agenda da minha mãe, que estava ainda embalada numa sacola plástica branca, encima da mesa de centro da sala, e procurei por algo que dissesse de onde ela havia saído. Catchau! Lá estava, na contracapa do caderninho verde estrelado, um selo com o nome do estabelecimento.

Pensei em fazer isso enquanto lia Crepúsculo e notei o adesivo da Saraiva na minha edição. Sempre há adesivos quando se compra em papelarias, e isso acabou sendo positivo para mim porque me ajudou com o crush.

Enviei convite para ele e ainda não obtive resposta da solicitação de amizade. Não dava para stalkear, porque todas as fotos dele deviam estar abertas apenas para amigos. É claro que não sei se ele me aceitaria ou não como amiga no Facebook, afinal, eu sou só mais uma das pessoas completamente normais que foram atendidas pelo Daniel hoje.

Anyway, o boy eu já tinha encontrado, agora era só ele me aceitar e, quem sabe, poderei ser uma das amigas dele.

- Alice – minha mãe me chama na porta do quarto. – A equipe da mudança já chegou, vamos começar a descer com os móveis.

Ah, é. Havia esquecido que sou uma doente do coração e que meus dias descendo e subindo escadas estão contados.

Dou uma última olhada nos posts recentes do Twitter, fecho o notebook, ponho-o debaixo do braço e desço para receber a galera que vai levar com minhas coisas para a sala.

Ainda quando estávamos voltando para casa, a minha mãe ligou para uma dessas empresas que fazem mudanças e perguntou se poderiam fazer o que Dr. Alex havia sugerido. Eles disseram que sim, e acho que cobraram um valor menor - só precisavam descer escadas com uns móveis e coloca-los em qualquer lugar aqui embaixo.

Descer escadas começou a ficar complicado novamente. Deveria ter tomado o medicamento, que fora suspendido, há duas horas e, como não o tenho mais me ajudando a controlar meu ritmo cardíaco, fiquei cansada muito rápido. Não chegou a incomodar tanto, só foi exaustivo.

Cumprimentei as pessoas que vieram fazer a mudança e me sentei na cozinha, colocando o computador encima da mesa de jantar. A minha mãe ficou acompanhando-os para cima e para baixo, do meu quarto à sala, todo o tempo, e eu continuei vendo coisas aleatórias nas minhas redes sociais. O tédio é a pior parte das sextas para mim, porque depois da consulta, que normalmente acaba ao meio-dia, eu volto para casa, almoço e passo a tarde toda sem nada para fazer. Penso se não seria uma boa começar uma série nova na Netflix, todas das quais gosto estão em pausa e não tem nada para ser acompanhado... Se ao menos eu tivesse sugestões...

Uma notificação na janela de amigos do Facebook aparece e eu ignoro-a por um tempo. Quem estaria me enviando convites de amizade? Todos os que conheço já me têm como amiga...

Ah! Eu havia esquecido!

Engraçado eu não ter ficado pensando no tal Daniel esse tempo todo, e isso me leva à conclusão previsível de que ele só é mais um desses crushes corriqueiros que nós temos todos os dias.

Ao abrir a notificação, lá está ele: a foto frontal de seu rosto rindo, um sorriso confortável de orelha a orelha, sobre um fundo que me parece um parque ou qualquer lugar de lazer com árvores. Ele está de óculos escuros, e não dá para ver seus olhos que me chamaram atenção quando o vi pessoalmente, mas isso não o deixa menos contente na imagem. A sensação que eu tenho ao vê-lo sorrindo daquela forma é que a foto foi espontânea – o que é pouquíssimo provável, porque está com uma qualidade e om um ângulo muito favoráveis, e isso jamais seria espontâneo.

Na frente da foto, a notificação diz: "Daniel Antônio aceitou a sua solicitação de amizade".

Que bom, acho que ele me reconheceu, agora já dá para stalkear o rapaz e encontrar suas melhores e piores fotos.

Estou com o coração batendo acelerado, e sinceramente não sei se ainda é cansaço por ter descido as escadas ou se isso foi causado pelo moço da papelaria.    

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⏰ Última atualização: Nov 22, 2017 ⏰

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