Décima Primeira Sessão

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N
DÉCIMA PRIMEIRA SESSÃO
ão estou conseguindo me sentar quieta. Tenho de ټcar me movendo o tempo
todo, andando. Minhas pernas doem com a frustração, com a agonia
insuportável dessa espera. Isso deve estar enlouquecendo você, eu ټcar andando
por seu consultório. Você deveria me ver em casa, quando vou de janela em janela,
abrindo e fechando venezianas. Varro a sujeira, apenas para abandonar a pá
semicheia em um canto. Coloco metade das louças na máquina e então começo a
lavar roupa. Encho a boca de biscoitos de água e sal cobertos com manteiga de
amendoim e depois corro para o andar de cima para fazer pesquisas no Google.
Quando encontro algo em um site, pesquiso até meus olhos ficarem embaçados.
Depois telefono para Evan, que me diz que deveria fazer um pouco de ioga, ir
para a academia ou levar Moose para dar uma volta. Em vez disso, porém, arranjo
motivos estúpidos para brigarmos, porque isso parece ter muito mais sentido.
Faço anotações, mapas. Tenho gráټcos dos meus gráټcos. Minha escrivaninha
está cheia de bilhetinhos para mim mesma, pensamentos anotados às pressas, com
a mão trêmula. Isso não está ajudando. Ignoro e-mails de trabalho ou não lhes dou
a devida atenção, escrevendo respostas rápidas, de qualquer jeito. Tento arranjar
tempo para alguns projetos e seguir em frente, mas perco o controle sobre tudo.
v
Depois de nossa última sessão, mal eu voltara para casa, Billy e Sandy chegaram.
Quando abri a porta e vi seus rostos sérios, meu estômago se contraiu.
– O que há de errado?
– Deixe-nos entrar – disse Billy.
– Primeiro me diga o que está acontecendo. – Meus olhos examinaram os dele. –
É Ally?
– Ela está bem.
– Evan...
– Toda a sua família está bem. Vamos entrar. Você tem café?
Depois que lhes entreguei suas xícaras de café, apoiei-me no balcão, cuja beirada
dura espetava minhas costas, segurando minha caneca com as mãos frias e úmidas.
Billy tomou um gole; Sandy não tocou no dela. Ela derramara algo em sua blusa
branca e estava com os cabelos desgrenhados. Havia círculos escuros ao redor de
seus olhos.
– Ele matou alguém? – perguntei.
– Nesta manhã foi registrado o desaparecimento de uma garota que estava
acampando no parque municipal de Greenstone Mountain, perto de Kamloops. O
namorado foi encontrado morto na cena do crime.
Deixei cair minha caneca, que se espatifou, fazendo o café espirrar na calça jeans
de Sandy. Mas ela não olhou para baixo: manteve os olhos ټxos em mim. Ninguém
se moveu para limpar a sujeira.
– Ah, meu Deus! – exclamei, cobrindo o rosto com as mãos. – Vocês têm certeza?
Talvez...
– Ele é o principal suspeito – disse Sandy. – Os cartuchos são compatíveis.
– A culpa é minha.
– Não, Sara, não é – disse Billy. – A escolha foi dele.
Sandy não disse nada.
– O que vamos fazer agora? E quanto à garota? – perguntei.
Billy ficou em silêncio por alguns segundos.
– Neste momento estamos procurando o corpo da garota nos arredores do
parque.
– Vocês acham que ela está morta?
Nenhum dos dois respondeu.
– Qual é o nome dela?
– Ainda não revelamos isso à imprensa... – disse Billy.
– Eu não sou a imprensa. Diga-me o nome dela.
Billy olhou para Sandy, que se virou para mim e disse:
– Danielle Sylvan. O namorado dela era Alec Pantone.
Minha mente se encheu de imagens de uma jovem fugindo pelo mato, sendo
caçada por John, que corria atrás dela com um riٽe nas mãos. Perguntei-me se
receberia a boneca dela.
Baixei os olhos para a caneca quebrada e a poça de café.
– De que cor são os cabelos dela?
Ambos ficaram em silêncio. Ergui os olhos. O pavor tomou conta de mim.
– De que cor são os cabelos dela?
Billy pigarreou, mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, Sandy respondeu:
– Castanho-avermelhados. Longos e ondulados.
Senti a cozinha girar. Agarrei com as mãos a parte de trás do balcão. Billy se
levantou e com um grande passo estava ao meu lado, segurando meus ombros.
– Você está bem, Sara?
Balancei a cabeça.
– Quer tomar um pouco de ar?
– Não. – Respirei fundo algumas vezes. – Eu vou... vou ficar bem.
Billy se apoiou no balcão ao meu lado. Seus braços estavam cruzados na frente do
peito e ele massageava repetidamente os bíceps por cima do casaco esportivo
preto. Do outro lado da mesa, Sandy fumegava de raiva.
Virei-me para ela.
– Você acha que a culpa é minha.
– A culpa não é de ninguém – disse. – Ele é um assassino, nunca sabemos o que o
fará agir.
– Mas ele nunca matou tão cedo antes. Nunca em maio.
Ela olhou para mim com os olhos injetados e as pupilas dilatadas, tornando o
azul frio de sua íris quase preto. Sua pele parecia irritada pelo vento.
– Você acha que John saiu e matou porque não atendi os telefonemas.
– Não sabemos o que...
– Apenas ponha para fora, Sandy. Admita que acha que a culpa é minha.
– Sim, acho que os telefonemas ignorados serviram de gatilho – respondeu ela,
olhando-me fixamente. – E não, não acho que a culpa seja sua.
Por um momento eu me senti vitoriosa, porque a tinha obrigado a admitir o que
realmente pensava. Mas então senti de novo o horror da situação. Virei-me para
Billy e perguntei:
– Qual era a idade deles?
– Alec tinha 24 anos e Danielle, 21.
Tão jovens. Pensei nos pais daqueles jovens recebendo a notícia e pressionei com
força as mãos contra o rosto.
Bloqueie isso. Bloqueie isso.
– O que faremos agora?
– Não estamos obtendo sinal do celular de John, mas, por via das dúvidas,
gostaríamos que você tentasse ligar para ele de novo – pediu Billy. – E então tirou
meu celular do carregador sobre o balcão e o entregou a mim.
Antes de começar a discar, perguntei:
– Como devo agir?
– Boa pergunta – respondeu Billy. – Você deveria ter um plano antes de...
– Apenas comece expressando quanto você está arrependida – orientou Sandy. –
Demonstre muito remorso e depois avalie a reação dele. Espere e veja se ele irá
falar alguma coisa, mas não diga que sabe sobre a mulher. Isso só estará nos
noticiários à noite.
Olhei de relance para Billy, em busca de conټrmação, e ele concordou com a
cabeça, mas seu pescoço estava vermelho. Ele não olhou para Sandy e me
perguntei se estaria chateado com o fato de ter sido interrompido por ela.
Enquanto eu discava o número de John, a mão de Sandy se fechou sobre a mesa.
Suas unhas estavam roídas até o sabugo. O telefone de John estava desligado.
Balancei a cabeça.
Sandy se levantou.
– Vamos voar para Kamloops hoje à tarde. Continue tentando falar com ele.
Telefonaremos se soubermos de mais alguma coisa sobre a cena do crime.
Eu os levei até a porta.
– É possível que ela ainda esteja viva?
Ao responder à minha pergunta, a fisionomia de Billy revelava tensão:
– É claro, e faremos o possível para encontrá-la.
Mas vi nos olhos de ambos que eles estavam indo para Kamloops procurar um
corpo.
v
Naquela noite, ټquei me revirando na cama durante horas, pensando em tudo o
que Sandy dissera. Minha culpa se transformou em raiva quando reٽeti sobre a
conduta da polícia. Por que eles não tinham vasculhado todos os parques? Sabiam
que John estava na área. Mas quando por ټm resolvi me levantar e buscar
informações no Google, ټquei sabendo que o parque tinha 124 hectares. Como
iriam encontrá-la? Como encontrariam John?
Tentei falar com John várias vezes, mas o telefone dele estava desligado. Pensei
no que diria se ele atendesse. Por que você fez isso? Ela morreu rápido? Era essa
segunda pergunta que mais me assombrava. Eu podia sentir o medo de Danielle.
Ele corroía minha pele, atravessava meus músculos e gritava na minha cabeça:
Você fez isso!
Evan telefonou naquela noite depois que Ally estava na cama e chorei durante
toda a nossa conversa. Tentei ao máximo não parecer que o estivesse acusando de
alguma coisa, mas isso transpareceu quando disse:
– Você reclamou que eu ټcava checando meu telefone o tempo todo, por isso só estava tentando relaxar e me divertir como você disse e...
– Eu não sabia que ele iria...
– Eu lhe disse, mas você ټcou falando que eu estava me preocupando demais... e
agora duas pessoas estão mortas.
– Sara, eu só estava tentando ajudá-la. Você é minha prioridade, não ele. E foi
horripilante o que ele fez, mas você não é a culpada. Você sabe disso, não é?
– Se eu tivesse atendido o telefone, eles ainda estariam vivos.
– E se você tivesse voltado no tempo e matado Hitler, milhões de...
– Não é a mesma coisa. Não tenho nenhum controle sobre o que aconteceu
naquela época, mas poderia ter impedido o que aconteceu a esses jovens.
– Tudo isso está fora do seu controle, mas de qualquer modo você irá se culpar.
– Eu gostaria que você entendesse por que estou tão perturbada.
– Eu entendo. O que aconteceu foi horrível e você está tornando as coisas ainda
mais difíceis porque se envolve muito em tudo. Mas eu ټco estressado vendo que
você está assim tão transtornada. Você tem que tentar se desligar um pouco.
– Isso não é simples assim, Evan. Não posso simplesmente fechar os olhos para
tudo, como você faz.
Hesitei ao me dar conta do tom áspero de minha voz. Então esperei o silêncio
que se seguiu. Finalmente Evan o quebrou:
– Eu não sou o vilão aqui.
– Desculpe-me – gemi. – É que isso tudo é medonho e sinto falta de você.
– Também sinto sua falta. Voltarei para casa neste fim de semana, está bem?
– Achei que você estivesse com um grupo grande.
– Vou chamar Jason. Você precisa de mim neste momento.
– Deus do céu, Evan! Queria lhe dizer que ټcasse, mas realmente preciso de você
aqui. – Esfreguei o nariz na manga da camisa. – Sabe, ټco vendo o rosto dela,
vendo-a alegre com o namorado. Então, de repente, John está lá, com uma arma
na mão, e ela o vê atirando em seu namorado, depois foge e...
Eu estava chorando de novo e tentando respirar.
– Querida... – Evan parecia sem ação. – Você tem que parar de pensar nesse tipo
de coisa, por favor.
– Não posso evitar. Fico pensando: e se fosse você? Então apenas...
– Mãe? – Era Ally, que estava no alto da escada.
Pigarreei e tentei manter a voz agradável.
– O que foi, meu bem?
– Não consigo dormir.
– Subirei em um minuto.
Depois que Evan e eu nos despedimos, lavei o rosto com água fria antes de subir,
esperando que Ally não notasse meus olhos inchados. Quando nos aconchegamos
na cama, com Moose a nossos pés, acariciei os cabelos de minha ټlha e cocei
suavemente suas costas. Então pensei em outra mãe lá fora que acabara de
descobrir que a ټlha estava desaparecida. Perguntei-me o que aquela mulher
pensaria se soubesse que sua ټlha se fora porque meu celular estava no modo de
vibração.
v
Quando Ally dormiu, saí de sua cama. Moose levantou a cabeça, mas ټz um sinal
para que ele ټcasse onde estava, então ele a deitou novamente sobre o edredom
estampado da Barbie. No escritório, entrei no Google e digitei “Danielle Sylvan”.
Não esperava que houvesse nada, mas encontrei uma matéria do jornal no qual ela
trabalhava como voluntária em um programa de literatura. Quase morri ao ver a
imagem de seu rosto radiante na foto: Danielle entregava vários livros a algumas
crianças. O vermelho profundo de seus cabelos contrastava com a pele pálida.
Imaginei aquela pele ainda mais pálida na morte, e meu estômago se contraiu.
Enviei a matéria a Billy, sabendo que ele tinha um BlackBerry e que a receberia
imediatamente. Minha mensagem dizia: Você a encontrou? Esperei e esperei –
apertando a tecla enviar/receber a cada segundo. Finalmente, dez minutos depois,
ele respondeu: Ainda não.
Desliguei o computador e fui dormir, com o celular na mesa de cabeceira. E me
revirei na cama durante horas.
A culpa é minha, toda minha.
v
Na manhã seguinte, Ally estava de mau humor: “Não quero usar minha capa de
chuva.” “Quero usar as meias azuis, não as amarelas.” “Quando Evan vai voltar para
casa?” “Por que Moose não pode ir?” “Não aguento mais comer cereal.”
Finalmente consegui que ela se vestisse e saímos. Estávamos a um quilômetro e
meio da escola quando o celular tocou em minha bolsa. Ally, que cantava
balançando a cabeça de um lado para o outro, ao ritmo dos limpadores de para-
brisa, elevou a voz. Estendi a mão para o console e peguei o celular. Assim que vi o
número de John, entrei em pânico.
– Gatinha, é um cliente importante, você tem de ficar quieta, está bem?
Ela continuou a cantar.
Levantei a voz quando o telefone tocou de novo.
– Ally, já chega.
Ela olhou para mim.
– Você não deve atender o telefone quando está dirigindo, mãe. Não é seguro.
– Tem razão, querida. É por isso que a mamãe vai parar. – Fui rapidamente para o
acostamento e parei o carro. – Ele realmente precisa da minha ajuda, por isso você
tem que ficar muito quietinha, está certo?
A chuva desabou sobre o carro enquanto Ally olhava pela janela, desenhando
formas no vidro embaçado. Tinha ټcado irritada comigo, mas ao menos estava
quieta. Atendi o telefone apressadamente.
– Alô?
– Sara. – A voz dele estava baixa e rouca. Como se tivesse gritado recentemente.
– Realmente sinto muito pelo que aconteceu – adiantei-me. – Cometi um erro,
mas não vai acontecer de novo, está bem? Prometo.
Prendi a respiração e me preparei para uma bronca, mas ele ټcou em silêncio.
Para que Ally não ouvisse, virei-me para a janela e perguntei baixinho:
– John, você ouviu algo no noticiário da noite passada sobre uma mulher
desaparecida?
Ele continuou em silêncio. Ao fundo, pude ouvir som de trânsito, mas havia
outro, como uma batida surda e constante. Esforcei-me para ouvir. Ao meu lado,
os pés de Ally começaram a chutar. Ainda esperando John responder, abri o
porta-luvas e encontrei um bloco e uma caneta. Entreguei-os para Ally, fazendo-
lhe um sinal para que desenhasse algo para mim. Ela ignorou o bloco e cruzou os
braços sobre o peito. Eu lhe dei um olhar de aviso e ela voltou a olhar pela janela.
– Você ainda está aí? – perguntei a John.
A batida ao fundo estava mais alta.
– Você não deveria ter me ignorado. Eu precisava de você.
– Desculpe-me. Mas estou aqui agora. Pode me dizer onde ela está?
– Está comigo – respondeu, e sua voz soou desanimada.
Tive esperança. Mas John não dissera que ela estava viva.
– Ela está bem?
Ao meu lado, Ally chutou o painel do carro. Agarrei seu pé e lhe dei outro olhar
de aviso. Ela puxou o pé e começou a pular no banco. Coloquei a mão sobre o
microfone do celular e disse:
– Ally, pare com isso agora mesmo ou... ou não vai dormir na casa da Meghan no
domingo.
Ally suspirou, chocada, e se sentou de novo no banco.
– Não sei o que fazer – disse John.
Eu tinha de dizer alguma coisa rápido. Pense, Sara, pense. Ele as despersonaliza.
Não quer pensar nelas como pessoas. Torne-a real.
– O noticiário disse que o nome dela é Danielle. Há pessoas que se importam
com ela, John. Os pais dela só a querem em casa e...
– Eu queria você. O barulho estava me incomodando. Nada estava funcionando.
Não pude esperar mais.
Olhei de relance para Ally, que estava desenhando na janela de novo.
– Você pode falar comigo agora, e então poderá levá-la para casa, está bem?
A voz dele foi desanimada.
– Isso não é simples assim.
Encolhi-me de medo ao lembrar que dissera a mesma coisa a Evan.
– É, sim. Você pode tornar isso simples. Sei que pode. Só precisa dar um passo
atrás e pensar por um minuto.
A batida ao fundo parou de repente. Será que era Danielle? Teria morrido?
A chuva diminuíra. Ally ainda estava desenhando na janela. Cobri o microfone
do celular mais uma vez e disse:
– Só vou sair por um minuto, querida.
Ela arregalou os olhos.
– Mãe, não. Não me deixe...
– Estarei bem aqui. – Abri a porta e ټquei ao lado da estrada, sorrindo para Ally
pela janela enquanto dizia para John: – Você pode vendar os olhos dela, depois
dirigir para algum lugar e simplesmente deixá-la na beira da estrada.
Ally, no carro, estava com o rosto aٽito. Desenhei pequenos rostos no vidro. Ela
desaټvelou seu cinto e pulou para meu banco. Começou a sorrir enquanto
desenhava dentes no meu rosto feliz.
– Isso não vai dar certo – disse John.
Começara a chover mais forte de novo. Eu estava ټcando ensopada enquanto os
carros passavam por mim.
– Vai, sim. Quando a encontrarem, você já estará longe. Nunca o pegarão.
– Não era assim que isso deveria acontecer.
Ouvi um som alto – Pou! –, como se ele tivesse socado uma parede.
– Você está bem? – Tudo o que conseguia ouvir era sua respiração pesada. Tentei uma tática diferente. – Sei que você não quer realmente machucar Danielle. Vi
fotos dela na tevê e ela se parece comigo. Danielle é filha de alguém. Você precisa
deixá-la ir.
Silêncio.
– John?
Um clique e depois um sinal de discagem.
v
Voltei para o carro e liguei o aquecedor enquanto observava os limpadores de
para-brisa indo de um lado para o outro. O telefone estava quente em minha mão.
Ao meu lado, Ally dizia algo, mas eu não conseguia pensar direito. Ele a estaria
matando agora? Eu dissera algo errado? Deveria ter...
– Mãe! Vou me atrasar para a escola.
O telefone estava tocando de novo.
– Eu sei, querida, sinto muito. Mamãe só precisa fazer isso, e depois iremos, está
bem?
Ela gemeu ao meu lado. Dei-lhe um pequeno sorriso, mas meu coração estava
disparado quando olhei para o visor do aparelho. Era Billy. Suspirei. Ally estava
chutando o painel e cantando de novo, mas dessa vez não tentei pará-la.
– Billy, graças a Deus!
– Obtivemos um bom sinal do telefonema. – As palavras chegavam cortadas. – Ele
está em Kamloops e providenciamos uma varredura da área. Todos os policiais
disponíveis estão na estrada. Mas não quero lhe dar esperanças.
– Ela está viva. Sei disso.
Ouvi vozes ao fundo, e depois Sandy pegou o telefone.
– Se John ligar de novo, tente mantê-lo o máximo de tempo possível na linha.
Deixe que ele fale. Se por acaso ele não a tiver matado, queremos que isso
continue assim.
– Mas o que eu digo? Estou morrendo de medo de dizer algo errado e ele...
– Apenas continue, com cautela.
– O que isso significa? Eu pergunto sobre ela ou não?
Sandy suspirou.
– Apenas permaneça calma enquanto estiver falando com ele. John precisa ouvir
que você se importa com ele, que está interessada nele e que sente muito.
Provavelmente se sentiu rejeitado quando você ignorou os telefonemas...
– Eu não ignorei.
– Sara, você realmente quer discutir semântica? A vida de uma mulher pode
depender desse próximo telefonema. O que você está fazendo agora?
Cerrei os dentes para não lhe dizer tudo o que tinha vontade de dizer e respondi
apenas:
– Tenho de levar Ally para a escola.
– Ela está com você? – A voz de Sandy se tornou mais alta.
– Eu a estava levando para a escola, mas John não a ouviu.
– Se ele descobrir que você nunca lhe disse que tem uma filha...
– Também não quero isso, Sandy. Ela é minha principal preocupação. E neste
momento está atrasada para a escola.
– Deixe-a lá e depois nos ligue.
– Sim – grunhi.
Quando voltei para a estrada, Ally perguntou:
– A mulher está bem, mãe?
Ainda com o telefonema de Sandy na cabeça, falei:
– Que mulher, querida?
– Aquela de quem você estava falando com seu cliente. Você disse que ela estava
desaparecida.
Droga! Droga! Droga!
Tentei imaginar o que Ally poderia ter ouvido.
– Ah, ela só ټcou um pouco perdida quando estava voltando para casa. Mas a
polícia vai encontrá-la logo.
– Eu não gosto quando você fica tanto tempo no telefone.
– Eu sei, querida. E realmente fico grata por você ter sido tão boazinha.
Ela voltou a olhar pela janela.
v
Na frente da escola, saí do carro e dei um abraço e um beijo em Ally. Ela estava
com os ombros abaixados e o pequeno rosto emburrado. Puxei-a de volta e olhei-a
nos olhos.
– Gatinha, sei que nos últimos tempos não tenho sido a melhor mãe do mundo,
mas prometo que me esforçarei mais, está bem? Nesta semana, Evan virá para casa
e faremos algo em família.
– Com Moose também?
– É claro!
Fiquei aliviada por merecer ao menos um pequeno sorriso. Começando a correr para as portas da escola, Ally parou e se virou.
– Espero que a polícia encontre a mulher que está perdida, mãe.
Eu também.
Assim que entrei em casa telefonei para Billy.
– O que você quer que eu faça?
– Se ele ligar de novo, apenas se lembre do que Sandy disse: ټque calma e o deixe
falar. Não se esqueça de que ele está tentando estabelecer um vínculo com você.
Seu estado emocional está fragilizado e ele parece achar que você é a única pessoa
que pode ajudá-lo. É provável que telefone em breve.
Mas John não ligou. Fiquei andando de um lado para outro e depois tentei
trabalhar, mas não conseguia me concentrar. Então tomei várias canecas de café –
o que obviamente não me ajudou a ټcar mais calma – e passei horas pesquisando
no Google sobre assassinos em série e negociações de reféns e pensando no que
poderia estar acontecendo a Danielle. Enviei e-mails a Billy com endereços de
vários sites, e me sentia mais calma sempre que ele respondia a algum, mesmo que
fosse apenas com uma mensagem rápida: Você está se saindo muito bem. Continue a
me enviar os links. Então pensei em John, em como ele dissera que não poderia
mais esperar, que a pressão ia aumentando até ele ter de fazer alguma coisa. A
súbita percepção de que eu entendia exatamente como ele se sentia me assustou
mais que tudo.
v
Mais tarde naquela noite, Ally e eu estávamos nos sentando para jantar quando
meu celular tocou. Era John. Ally fez uma careta quando me levantei.
– Só vai levar um minuto, querida. Se você terminar todo o seu jantar, depois
assistiremos a um ټlme juntas, está bem? Mas você tem de me prometer que ټcará
quietinha aqui.
Ela suspirou, porém ټz um sinal aټrmativo com a cabeça e enټei sua colher no
purê de batata. Corri para a outra sala e atendi o telefone.
– John, estou realmente feliz por você ter ligado. Fiquei preocupada. – Ainda
estava preocupada, porque não sabia se ele tinha telefonado para obter ajuda ou
para me dizer que era tarde demais. Como ele ټcou em silêncio, continuei: –
Danielle está bem?
– Ela não para de chorar. – A frustração na voz dele me apavorou.
– Não é tarde demais. Você pode deixá-la ir. Por mim, por favor. Ela não fez nada
de errado. Fui eu que fiz.
Prendi a respiração.
John ficou quieto.
– Posso falar com ela? – perguntei.
– Isso não seria bom para você.
O tom dele era o de um pai dizendo à ټlha que ela não poderia comer mais
biscoitos.
– O que você vai fazer?
– Não sei. – Ele pareceu novamente frustrado.
– Você não tem de fazer nada imediatamente. Quer conversar um pouco?
Naquele dia você me perguntou o que eu gostava de comer. Eu gostaria de saber
de que tipo de comida você gosta. Você é alérgico a alguma coisa?
– Não, mas não gosto de azeitonas. – No final da frase a voz dele se elevou.
– Também não sou muito fã delas, nem de fígado.
Ele fez um som de nojo.
– O fígado é o filtro do corpo.
– Exatamente. – Eu ri, mas aquilo pareceu oco. – John, no outro dia você falou
que o barulho o estava incomodando. O que quis dizer? Está incomodando você
agora?
Se eu conseguisse descobrir qual era o problema, talvez pudesse usar aquilo para
convencê-lo a deixar Danielle ir.
– Não quero falar sobre isso.
– Está bem, não tem problema. Só estava querendo saber se isso é uma coisa para
a qual se pode obter ajuda.
– Não preciso de ajuda.
– Eu não quis dizer isso. Só achei que talvez eu pudesse ajudar.
– Esta conversa não está levando a lugar nenhum. – Ele pareceu exasperado. –
Telefonarei em alguma outra hora.
– Espere, e quanto à Danielle...
Mas ele já havia desligado.
v
Joguei o celular no sofá e coloquei a cabeça entre as mãos. Um minuto depois o
telefone tocou. Olhei para o visor. Era Billy.
– Bom trabalho, Sara. John ainda está em Kamloops, mas obtivemos uma
localização melhor dele, por isso estamos erguendo algumas barreiras na rodovia principal.
– Mas se ele vir uma barreira pouco tempo depois de falar comigo não irá
suspeitar de mim?
– Temos veículos de contra-ataque a postos, de modo que vai parecer que
estamos apenas atrás de motoristas bêbados. Acho que estamos chegando perto,
Sara. Não creio que ele queira machucá-la, mas também não sabe o que fazer com
ela. Há uma chance de você conseguir convencê-lo a deixá-la ir embora.
– Você realmente acha isso, Billy? Algum dia um assassino já deixou uma vítima
ir embora?
– Depende do risco que ele acha que ela representa. Mas as probabilidades estão
a nosso favor. Só temos de explorar o estado de espírito do inimigo para obter a
vitória.
– Que diabos isso quer dizer?
– Que você precisa bajulá-lo, convencê-lo de que acha que ele é um bom sujeito,
de que sabe que ele fará a coisa certa. Ele quer ser seu pai. Trate-o como se fosse.
Meu estômago se revirou e minhas vísceras se contraíram.
– Vou tentar. Preciso ir...
Consegui chegar a tempo ao banheiro.
v
Mas não voltei a ter notícias de John naquela noite. Mais tarde, Billy telefonou e
disse que as barreiras não tinham revelado nada além de alguns motoristas sem
condições de dirigir. Na manhã seguinte, Evan veio para casa. Era sábado. Mal ele
passou pela porta, eu já o estava abraçando com tanta força que ele praticamente
teve de me afastar. Enquanto desarrumava as malas, eu o segui de cômodo em
cômodo, contando-lhe tudo o que tinha acontecido, todas as conversas que tivera
com Billy ou Sandy. Eu estava tensa, sobressaltava-me a todo barulho e falava
muito rápido, mas saber que Evan estava em casa e que poderia distrair Ally
quando John ligasse era um grande alívio.
Ally não esquecera minha promessa de fazermos um passeio em família naquele
fim de semana e disse isso a Evan enquanto ele preparava sopa de tomate e queijos-
quentes para nós. Eu já tinha lhe garantido, assim que acordamos, que à tarde
iríamos ao parque, mas ela me olhara com desconټança. Não ajudou o fato de eu
ter passado a manhã inteira ao telefone – primeiro com Billy, depois com Lauren
–, até Evan chegar. Como eu não falava com minha irmã desde o dia em que fomos
às compras, tive de estender a conversa um pouco mais, para que nada parecesse estranho. Mas agir normalmente exigiu tanta energia de mim que me sentia
exausta quando desliguei.
Depois do almoço, fomos para o calçadão e o Maffeo Sutton Park. Ally adora os
brinquedos de lá e geralmente a levamos à sorveteria depois. Fiz o possível para
aproveitar o tempo precioso com minha família, mas tirava o celular do bolso a
cada segundo, querendo me certiټcar de que estava programado para tocar, e não
para vibrar.
Quando chegamos à sorveteria, pedimos chocolate quente e uma pequena tigela
de sorvete para Ally, que insistiu em que pedíssemos uma também para Moose.
Estávamos sentados perto da marina, a uma mesa ao ar livre, observando as
pessoas que passeavam pelo píer com seus carrinhos de bebê e cachorrinhos de
estimação, quando meu celular tocou. Evan ټcou paralisado e meu estômago se
contraiu, mas, quando constatamos que era Billy, Evan fez um sinal aټrmativo
com a cabeça e aproveitou para ir ao banheiro.
Billy me disse que estavam indo a todos os acampamentos e motéis,
supermercados e postos de gasolina que podiam levando o retrato falado de John
e examinando as câmeras de segurança. Desligamos bem a tempo de eu ver Ally
derramar chocolate quente em seu casaco. Ao entrar na sorveteria para pegar um
guardanapo, ouvi meu celular tocar sobre a mesa.
Virei-me a tempo de ver Ally levar o celular ao ouvido.
– Ally, não! Não atenda!
Disparei em direção à mesa. Estava quase lá, com as mãos estendidas para o
telefone, quando Ally disse com uma voz monótona:
– Minha mãe não pode atender agora porque está passando um tempo comigo.
E desligou. Ela me estendeu o telefone e depois continuou a tomar seu sorvete.
Agarrei seus ombros e virei-a para mim. Ela deixou cair a colher.
– Ally, você nunca deve tocar no meu telefone.
Seus olhos se encheram de lágrimas.
– Mas você está sempre ocupada com ele.
A mulher que estava na outra mesa me olhou com cara feia e cochichou com a
amiga. Deixei Ally de lado e abri o telefone. Evan saiu correndo da sorveteria.
– Ouvi seu grito. O que está acontecendo?
Examinei as chamadas recebidas. Por favor, por favor, por favor, faça com que tenha
sido Bill!
A última ligação tinha sido do número de John.
– Sara, diga o que aconteceu? – insistiu Evan.
Tentei responder, mas estava paralisada. Ally soluçou.
– Eu disse ao homem que mamãe estava ocupada.
O rosto de Evan estava pálido quando ele olhou para mim. Cobrindo a boca com
a mão, ټz um sinal aټrmativo com a cabeça. Ele pôs o braço ao meu redor, mas o
afastei.
– Preciso pensar.
Pare. Respire. Ele poderia não ter desligado o celular imediatamente. Poderia
estar tão chocado quanto eu. Afastei-me alguns passos de Evan e Ally e disquei o
número de John. Tive de recomeçar duas vezes. Ele atendeu no primeiro toque.
– John, sinto muito, mas...
– Você mentiu – disse ele. E em seguida desligou.
Eu me virei e olhei para Evan. Ele estava sentado ao lado de Ally com o braço ao
redor dos ombros dela. Nossos olhos se encontraram e balancei a cabeça. Ele se
levantou e começou a limpar a mesa enquanto dizia algo a minha ټlha. Eles
caminharam até a grade na qual eu estava apoiada, agarrando o metal frio. Ally
não me olhou nos olhos.
– Vamos voltar para o carro, Ally. Sua mãe está ficando azul de frio.
Sorri para ela e ټngi tremer enquanto esfregava as mãos. Mas ainda assim ela não
me olhou. A caminho do estacionamento, Evan pegou minha mão e a apertou com
força. Ficamos olhando um para o outro enquanto Ally caminhava à nossa frente,
segurando a coleira de Moose. Eu só conseguia pensar em Danielle. Será que tinha
acabado de sentenciá-la à morte?
– Billy e Sandy provavelmente irão...
Meu celular tocou, fazendo meu coração parar. Olhei para o visor e suspirei.
– É Billy.
– Vou na frente com Ally – disse Evan.
Ele a alcançou e a segurou pela mão. Seguindo atrás, atendi o telefone.
– Meu Deus, Billy! O que vamos fazer agora?
Era Sandy.
– Billy está na outra linha. O que aconteceu? Como Ally pegou o telefone?
– Estava sobre a mesa, só saí por um segundo.
– Sara, nós falamos sobre isso: você sabia que se ele a pegasse em uma mentira
provavelmente mataria Danielle.
– Eu não sabia que Ally atenderia o telefone. Ela não tem permissão para fazer
isso, mas tenho estado tão envolvida com toda essa situação que ela apenas...
– O telefone não deveria ter ficado fora de suas mãos nem por um segundo.
– Se você continuar falando comigo desse jeito, vou desligar – ameacei,
levantando a voz.
Ela ټcou em silêncio por um momento e quando voltou a falar parecia mais
calma.
– Os telefonemas vieram de Clearwater, que ټca ao norte de Kamloops. Mas uma
viatura ficará na sua rua amanhã e faremos com que alguém a siga sempre que sair.
– Você acha que ele está vindo nesta direção?
– Não sabemos para onde ele está indo.
Meu coração pulava loucamente no peito.
– E quanto à minha filha? Ela tem escola e...
– Falaremos com as professoras, diremos que há um problema relacionado com a
guarda de Ally. Deixe claro na escola que ela não poderá sair com ninguém. Leve-a
direto para a sala de aula e diga-lhe que espere junto com a professora até que
você chegue para buscá-la. Não a perca de vista.
– Você não acha... ele não machucaria Ally, não é?
– Tudo o que sabemos é que ele está muito zangado. E por causa disso é possível
que a esta altura uma mulher esteja morta.
– Pare de me culpar, Sandy. Se tivessem feito o trabalho de vocês, talvez ele não
estivesse me telefonando. Por que não há mais homens trabalhando nisso?
– Agora todos os policiais da Unidade de Crimes Hediondos estão trabalhando
nesse caso, mas esse é um processo...
– Bem, o processo de vocês não está funcionando.
Desliguei o telefone e andei a passos largos em direção ao carro, movida por uma
raiva incontestável. Mas então pensei em Danielle e minha mente se encheu de
imagens dela morrendo no chão de uma ٽoresta, agarrando montes de terra,
implorando pela vida. E a verdade queimou minhas entranhas como ácido. A
culpa era minha.
v
A volta para casa foi silenciosa. O rosto de Evan estava tenso enquanto ele
segurava minha mão. Grata por seu afeto, ټquei apenas olhando através do para-
brisa, piscando para conter as lágrimas.
– Você acha que deveria contar à sua família? – perguntou ele.
Neguei com a cabeça.
– Sandy ټcaria uma fera, e de qualquer modo não quero arrastar mais ninguém
para isso.
– Eles podem começar a se perguntar por que você anda tão distraída.
– Eles estão bastante acostumados a me ver obcecada com alguma coisa. Direi
apenas que estou ocupada com o casamento e o trabalho, o que é verdade.
Fui inundada por outra onda de ansiedade quando pensei em todos os e-mails
que andava ignorando.
– Talvez você devesse considerar tirar umas férias.
– Passei anos desenvolvendo meu negócio. Não posso simplesmente abandonar
tudo.
– Você pode construí-lo de novo depois.
– Estou um pouco atrasada, só isso. Posso lidar com a situação.
Mas eu estava muito mais do que apenas um pouco atrasada.
– Então talvez você e Ally devessem passar um tempo comigo na pousada.
– Ally já está tendo diټculdades na escola. Não posso tirá-la de lá agora. E a
pousada é tão isolada! Se algo acontecesse lá...
Eu costumava adorar ir para a pousada de Evan e passear em Toټno: o estilo de
vida hippie da costa oeste mesclado com resorts cinco estrelas, cafeterias que
vendem café orgânico e muffins com sementes de cânhamo, galerias de arte rústica
e lojas de caiaques. Mas tudo em que eu podia pensar agora era na pequena
delegacia de polícia e nas horas que teríamos de dirigir na estrada sinuosa através
das montanhas, sem cobertura de celular.
– Então eu vou tirar umas férias.
Olhei para ele.
– E como pretende fazer isso? Ontem você disse que a pousada tem reservas para
todo o verão.
– Odeio não estar aqui com você. Eu deveria cuidar de você e de Ally.
Embora Ally estivesse no banco de trás ouvindo o iPod de Evan, baixei a voz.
– Nós ټcaremos bem. A polícia está vigiando a casa e temos um alarme. Além
disso, você voltará nos próximos dias. Mas não posso imaginar John vindo para a
ilha. Ele sempre me ignora quando está chateado.
– Quero que você tome ainda mais cuidado.
– Não brinca!
Ficamos em silêncio. Depois de algum tempo, eu disse:
– Talvez ele já a tivesse deixado ir. Você sabe, antes de telefonar.
– Talvez.
Evan apertou minha mão. Mas não me olhou nos olhos.
v
Foi por isso que eu não quis esperar até quarta-feira para ver você. Não pude
esperar. Tudo o que tenho feito é esperar. Durante o ټm de semana eu e Evan
assistimos ao noticiário religiosamente. Nós nos sobressaltamos a cada toque do
telefone ټxo, mas meu celular não deu sinal de vida, exceto quando Billy
ټnalmente ligou e me disse as mesmas coisas que Sandy, exceto a parte em que ela
fez com que me sentisse como se eu tivesse acabado de assinar a sentença de morte
de Danielle. Quando comentei que tudo parecia totalmente fora de controle, ele
repetiu a recomendação de que eu comprasse um exemplar daquele livro que ele
estava sempre citando. Disse: “Isso é a única coisa que me ajuda quando estou
preocupado com a investigação. Revejo os arquivos e me concentro nas estratégias.
‘O guerreiro habilidoso nunca se ټa em que o inimigo não virá, mas na própria
preparação.’ Penso em todos os cenários possíveis ou rumos que o caso possa
tomar e então me preparo para cada um deles.” Então eu perguntei, admirada:
“Uau! E quando você dorme?” “Não durmo”, ele respondeu, rindo.
Fiquei surpresa, porque imaginava que ele fosse do tipo que se deita na cama e
dorme noventa segundos depois, como Evan. Foi bom saber que não sou a única
obcecada que não consegue dormir. Quando lhe contei que Evan passaria o ټm de
semana em casa, Billy pareceu aliviado e me pediu que eu não saísse. Perguntei-lhe
quando voltaria para a ilha e ele respondeu que na segunda-feira – portanto, hoje.
Por isso sei que em breve receberei notícias. Sandy irá continuar lá, acho que até
que encontrem Danielle...
Evan ټcou o máximo que pôde, até mesmo na noite de domingo, que é quando
costuma ir embora. O pobre coitado teve de acordar às quatro da manhã para ir
para a pousada. Nós nos abraçamos na porta durante um longo tempo. Depois que
ele saiu, fui para a cama de Ally e me aconcheguei a ela até a hora de levantar para
levá-la para a escola.
Vi os pais de Danielle na televisão algumas vezes. Evan me disse que parasse de
olhar, mas não consegui. A mãe dela não parece ser muito velha. Talvez tenha tido
Danielle com a mesma idade que tive Ally. Perguntei-me se antes de a ټlha sair
para acampar ela a prevenira de que tomasse cuidado ou lhe dissera que sedivertisse.

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