Prólogo

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No reino de Halantis, existem rumores de que em cada aldeia há uma bruxa.

Que em cada floresta há um lobisomem.

Que em cada cemitério há um poltergeist.

E que na costa litorânea da capital pode-se avistar sereias sobre os rochedos ao longe.

E como a maioria dos rumores, alguns continham resquícios de verdade.

Mas na aldeia de Athene, nos últimos tempos, as inquietações dos aldeões se voltavam para um terror muito mais mundano: um assassino. Há um ano e meio, quando a cabeça intacta de uma meretriz foi encontrada sobre seu corpo queimado no altar da igreja do povoado de Mentis, a milhas de distância de Athene, ninguém suspeitou que um dia aquele horror chegaria até ali.

A trilha de sangue percorreu sinuosa e lentamente pelas aldeias de Halantis, uma a uma, deixando um rastro de corpos de mulheres mutilados para trás. Uma senhora idosa foi encontrada pendurada de ponta cabeça em Lunis. Também na igreja da aldeia. Quando foi encontrada, sua garganta cortada ainda pingava sangue sobre a taça que o padre servia vinho todos os domingos durante a eucaristia.

Talvez a vítima mais jovem tenha sido uma garota com não mais que 7 anos, em Salin. Também encontrada morta na igreja, teve suas mãos e pés amputados e costurados um no lugar do outro, seus olhos foram arrancados e no lugar foram preenchidos por duas hóstias para tapar os buracos vazios.

A população amedrontada exigiu de seu rei que alguma providência fosse tomada. O monarca não mediu esforços e expediu uma tropa de guardas reais para a maior parte das aldeias do reino, com a missão de guardar as igrejas e ruas.

Os assassinatos, no entanto, continuaram. Desta vez em lugares diferentes: o cadáver de outra mulher foi encontrado girando junto com a roda do moinho de água da aldeia de Holf. Estava nua, um buraco tão redondo quanto a roda do moinho havia sido aberto em suas entranhas.

Das 11 mortes, apenas duas vítimas eram do sexo masculino. Dois meninos. Gêmeos. Costurados um ao outro. Foram encontrados ainda vivos durante uma noite festiva da aldeia de Loome. Tudo que conseguiram dizer com suas bocas costuradas uma a outra foi que o assassino era um homem pálido como a luz da lua.

O ânimo da população de Halantis estava em seu limite, qualquer viajante pálido o bastante era atacado e hostilizado. Um mendigo com tais características foi preso e molestado na mesma aldeia dos meninos gêmeos. O toque de recolher foi instaurado no reino, sob pena de prisão e tortura.

O assassino parecia ser invisível e intangível. As mortes continuaram, uma mais brutal que a outra, apenas uma morte em cada aldeia. O mendigo da aldeia de Loome foi solto e nunca mais foi visto.

Todo o trabalho do ladino parecia ter acontecido à noite, e assim o criminoso ganhou seu nome, comprado e pago com sangue: o assassino da meia-noite.

Conforme o tempo passava, cada morte aproximava-se cada vez mais de Athene. Como uma serpente vermelha rastejando na direção da pequena aldeia próxima da capital.

O bote da serpente veio mais uma vez na calada da noite, e antes que o sol raiasse o corpo de uma jovem donzela foi encontrado no cemitério de Athene, seu rosto esfolado sorria com a brancura dos dentes, deitada nos braços de um anjo de pedra que enfeitava uma das capelas.

Ninguém sabia por que a jovem havia saído durante a noite de sua casa. 

Grande parte dos guardas voltaram para a capital onde o rei vivia, para patrulharem as ruas e todos os locais suspeitos, todos os becos escuros. Pois, ao que tudo indicava, as presas da serpente se direcionavam para a capital. O assassino prometia sua décima terceira carnificina para a terra real. A ponte que permitia a entrada na cidade foi levantada. E o rei se recolheu em quarentena.

Ninguém suspeitou que a próxima morte seria ceifada ainda em Athene, e quando ela ocorreu foi pior do que todas as outras. Chocando todo o reino, e mudando a vida de todos para sempre.

O Assassino da Meia-noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora