O assassino contemplou sua obra de arte.
Serene encontrava-se na igreja de Athene, seus pulsos estavam amarrados firmemente nas pontas da cruz que enfeitava o altar, assim como seus pés unidos na parte inferior.
Mãos de pedra encostavam nos cotovelos de Serene, havia alguém menor crucificado logo atrás, muito antes dela.
"Assim que ela recuperar a consciência sentirá a estátua castigando suas costas, Jesus não terá piedade dela" – pensou o assassino.
Um filete de sangue seco maquiava a parte direita do rosto da jovem desacordada. Um vitral multicolorido mostrando a imagem de um anjo com suas imensas asas, conversando com uma figura menor (provavelmente Maria), projetava-se atrás da garota amarrada à cruz. O rosto adormecido, os cabelos negros caindo em cascata pelos ombros. Uma imagem beatífica.
Uma lágrima quase escorreu dos olhos do homem pálido. Quase.
Aquela realmente seria sua obra-prima, mas ainda não estava terminada. Agora era o momento de aproveitar a dor de sua vítima. Puxou uma adaga afiada de um dos bolsos da capa negra, aproximou do pescoço da mulher. Com um movimento rápido, rasgou o vestido e a capa de cima a baixo, deixando à mostra o abdômen alvo e imaculado da inocente.
Observou seus seios fartos e arredondados, os mamilos rosados. Teve vontade de tocá-los, de lambê-los, de mordê-los, de estraçalhá-los. E era isso o que faria. Ela era dele agora. Arrancaria seus mamilos, e ela choraria lágrimas pelos olhos e sangue pelos peitos.
Aproximou a adaga do peito direito. Os olhos de Serene se abriram devagar.
― Você... você é o assassino da meia-noite.
O homem sorriu, confirmando.
― Por favor... – disse ela com a voz fraca. – Por favor, não me mate.
― Você tem que implorar, meu doce, gosto quando imploram.
― Por favor... – lágrimas vieram abundantes. – Por favor! Minha irmã precisa de mim.
― Eu também preciso de você, minha querida. Bem aqui.
―Alguém me ajude! SOCORRO! SEBASTIAN!
O assassino deu uma risada esganiçada de divertimento. Os ecos reverberaram pelo salão.
― Pode gritar o quanto quiser minha pombinha, ninguém virá. Esta noite você será toda minha.
A garota chorou e soluçou, desesperada, tentava se desvencilhar das amarras da cruz.
― Por que você ainda está aqui? – gritou Serene. – Já não matou a pobre garota no cemitério? Você não mata apenas um em cada aldeia?
― Não quando quero criar uma obra-prima. A garota do cemitério foi apenas um aperitivo. Houve arte no fim dela, mas você será ainda melhor.
E com um solavanco, terminou de rasgar as roupas de Serene, deixando suas roupas íntimas à mostra. Ela viu o volume entre as calças do homem.
― Por favor, não!
― Sim – disse o homem com um sorriso cheio de dentes amarelos.
A garota tentou se mover na cruz, em vão. Por um momento ela pareceu perder as forças.
― Por favor, deixe-me lhe dizer uma coisa antes de fazer... o que quer que queira fazer.
― Antes de fodê-la por inteiro – completou o assassino.
Tremores percorriam o corpo dela, parecia estar a ponto de perder a consciência.
"Deixe que perca, posso trazê-la de volta com uma surpresa de dentro de minha capa".
― Muito bem, então me conte – disse o homem aproximando o rosto macilento do dela e segurando seu queixo, o sorriso débil não saia de seu rosto. – O que é que minha pombinha quer me segredar antes de ser minha?
― E-eu sou... – disse a garota, gaguejando.
― Virgem? - disse o outro, babando.
― Não – disse Serene, e por um momento sua voz foi forte, sem nenhum vestígio de medo. Por um instante, o sádico vacilou, os sentimentos da garota pareciam ter mudado da água para o vinho. Tinha algo errado com ela. Aquilo nunca havia acontecido. – Você precisa saber de algo muito importante. - Sentiu a marca em seu braço esquerdo começar a coçar insuportavelmente. A marca da mordida da garota do cemitério. Os olhos negros da mulher encararam os do assassino, implacáveis, cheios de ira. – Eu sou a bruxa desta aldeia.
O cuspe voou para o olho direito do assassino da meia-noite, como o veneno de uma víbora.
― Accidae – proferiu Serene.
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O Assassino da Meia-noite
HorrorQuando uma série de doze assassinatos assombra o povo do reino de Halantis, uma jovem se vê perseguida por um estranho enquanto percorre as ruas escuras de sua aldeia, no intuito de buscar remédio para sua irmã doente. Esta noite, o décimo terceiro...