Parte 2

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O assassino contemplou sua obra de arte.

Serene encontrava-se na igreja de Athene, seus pulsos estavam amarrados firmemente nas pontas da cruz que enfeitava o altar, assim como seus pés unidos na parte inferior.

Mãos de pedra encostavam nos cotovelos de Serene, havia alguém menor crucificado logo atrás, muito antes dela.

"Assim que ela recuperar a consciência sentirá a estátua castigando suas costas, Jesus não terá piedade dela" – pensou o assassino.

Um filete de sangue seco maquiava a parte direita do rosto da jovem desacordada. Um vitral multicolorido mostrando a imagem de um anjo com suas imensas asas, conversando com uma figura menor (provavelmente Maria), projetava-se atrás da garota amarrada à cruz. O rosto adormecido, os cabelos negros caindo em cascata pelos ombros. Uma imagem beatífica.

Uma lágrima quase escorreu dos olhos do homem pálido. Quase.

Aquela realmente seria sua obra-prima, mas ainda não estava terminada. Agora era o momento de aproveitar a dor de sua vítima. Puxou uma adaga afiada de um dos bolsos da capa negra, aproximou do pescoço da mulher. Com um movimento rápido, rasgou o vestido e a capa de cima a baixo, deixando à mostra o abdômen alvo e imaculado da inocente.

Observou seus seios fartos e arredondados, os mamilos rosados. Teve vontade de tocá-los, de lambê-los, de mordê-los, de estraçalhá-los. E era isso o que faria. Ela era dele agora. Arrancaria seus mamilos, e ela choraria lágrimas pelos olhos e sangue pelos peitos.

Aproximou a adaga do peito direito. Os olhos de Serene se abriram devagar.

― Você... você é o assassino da meia-noite.

O homem sorriu, confirmando.

― Por favor... – disse ela com a voz fraca. – Por favor, não me mate.

― Você tem que implorar, meu doce, gosto quando imploram.

― Por favor... – lágrimas vieram abundantes. – Por favor! Minha irmã precisa de mim.

― Eu também preciso de você, minha querida. Bem aqui.

―Alguém me ajude! SOCORRO! SEBASTIAN!

O assassino deu uma risada esganiçada de divertimento. Os ecos reverberaram pelo salão.

― Pode gritar o quanto quiser minha pombinha, ninguém virá. Esta noite você será toda minha.

A garota chorou e soluçou, desesperada, tentava se desvencilhar das amarras da cruz.

― Por que você ainda está aqui? – gritou Serene. – Já não matou a pobre garota no cemitério? Você não mata apenas um em cada aldeia?

― Não quando quero criar uma obra-prima. A garota do cemitério foi apenas um aperitivo. Houve arte no fim dela, mas você será ainda melhor.

E com um solavanco, terminou de rasgar as roupas de Serene, deixando suas roupas íntimas à mostra. Ela viu o volume entre as calças do homem.

― Por favor, não!

― Sim – disse o homem com um sorriso cheio de dentes amarelos.

A garota tentou se mover na cruz, em vão. Por um momento ela pareceu perder as forças.

― Por favor, deixe-me lhe dizer uma coisa antes de fazer... o que quer que queira fazer.

― Antes de fodê-la por inteiro – completou o assassino.

Tremores percorriam o corpo dela, parecia estar a ponto de perder a consciência.

"Deixe que perca, posso trazê-la de volta com uma surpresa de dentro de minha capa".

― Muito bem, então me conte – disse o homem aproximando o rosto macilento do dela e segurando seu queixo, o sorriso débil não saia de seu rosto. – O que é que minha pombinha quer me segredar antes de ser minha?

― E-eu sou... – disse a garota, gaguejando.

― Virgem? - disse o outro, babando.

― Não – disse Serene, e por um momento sua voz foi forte, sem nenhum vestígio de medo. Por um instante, o sádico vacilou, os sentimentos da garota pareciam ter mudado da água para o vinho. Tinha algo errado com ela. Aquilo nunca havia acontecido. – Você precisa saber de algo muito importante. - Sentiu a marca em seu braço esquerdo começar a coçar insuportavelmente. A marca da mordida da garota do cemitério. Os olhos negros da mulher encararam os do assassino, implacáveis, cheios de ira. – Eu sou a bruxa desta aldeia.

O cuspe voou para o olho direito do assassino da meia-noite, como o veneno de uma víbora.

Accidae – proferiu Serene.

O Assassino da Meia-noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora