Doce Alice

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Mais um dia me perdendo e perdendo meu tempo no labirinto de pensamentos que não me leva a lugar nenhum...

Mesmo vivendo rodeada de pessoas, por que nós sempre nos sentimos sozinhos? O que fazer quando as coisas passam a não fazer mais sentindo? Ou quando perdemos pessoas tão importantes pra gente de uma hora pra outra?

...

— Será que eu posso fazer companhia a uma moça tristinha em plena terça-feira?

Ouvi uma voz masculina e despertei do meu transe. Era o Eduardo. Mais conhecido como Edu ou Dudu, por mim, apenas.

Eu e o Dudu somos melhores amigos, desde sempre. Nossas famílias são amigas e consequentemente fomos criados juntos e criamos um laço muito forte. Sempre estudamos juntos e acabamos entrando para a faculdade no mesmo ano. Ele é o meu porto seguro, o irmão mais velho que eu nunca tive.

No ensino fundamental, nos afastamos involuntariamente. O pai dele havia ganho uma promoção da empresa e eles precisaram sair de São Paulo e se mudarem para Curitiba. Ele, os pais e a irmã. Alice.

Meu coração aperta só de lembrar da minha menina. Sempre fomos um trio inseparável. Um por todos e todos por um, literalmente. Mas uma doença levou a minha doce Alice, em um prazo curto de tempo. Ninguém nunca irá substituir o lugar que ela tem no meu coração e na minha vida.

Ela estava comigo em TODOS os momentos. Mesmo eu sendo toda errada, maluca e às vezes grossa, ela permanecia ali. E permaneceu até seu último segundo em vida. Hoje fazem exatos 3 anos que ela se foi. Exatos 3 anos que o câncer tirou de mim um dos meus bens mais preciosos.

Éramos tão grudadas que achavam que nós éramos namoradas. "Que loucura!", pensávamos todas as vezes que insinuavam isso. Mas com o passar do tempo eu realmente percebi que sim, nós nos amávamos além do laço de amizade que havia sido construído. Só que reparei isso tarde demais e ela já não estava mais entre nós para que eu pudesse dizer o quanto eu a amava e ainda a amo.

...

— Oi, Dudu! - O olhei com a expressão cabisbaixa e lágrimas nos olhos.

Três anos hoje né, pequena... - Falou passando a mão sobre o meu cabelo e eu não resisti e me permiti chorar.

Ele tirou a bolsa das costas, a apoiando na mesa e sentou-se ao meu lado me abraçando de lado.

— Eu sei o quanto deve estar sendo difícil pra você, Mô. Pra mim, que sou irmão, a dor é ainda pior. Eu te entendo, mas estou aqui com você, viu?

— Ai, Du! Por que que levaram a nossa menina? Sempre fomos um trio e aquela doença maldita nos separou. - Eu chorava incansavelmente e pude ver as lágrimas rolando em seus olhos e ele as limpando com a manga da blusa de frio.

— A gente nunca sabe quando alguém vai embora. É inevitável. Mas a gente procura cuidar do coração. Que a ausência de alguém não seja forte o suficiente para nos destruir. Você sabe que ela odiava nos ver triste, não sabe? - Ele perguntou e eu apenas assenti limpando as lágrimas. — Ela te amava muito, tanto quanto eu te amo.

— Ela sempre fazia questão de me dizer isso repetidas vezes, né? - Falei e sorri ao lembrar dos nossos passeios e das declarações dela.

— Eu sei que parece que eu já estou curado, mas só eu sei a dor que eu também estou sentindo. É um escudo para conseguir superar os dias ruins. Mas você não precisa disso, viu? - Disse e depositou um beijo na minha testa. — Sempre que você quiser chorar, chore. Vai te fazer bem...

O olhei e permaneci assim por alguns minutos.

— E por que você também não pode se desfazer desse escudo? Você não precisa ser forte o tempo todo.

LeoaOnde histórias criam vida. Descubra agora