ADVERTÊNCIA AO LEITOR

184 3 0
                                    


Para poupar ao presente trabalho a censura de uma crítica exagerada, julgo de utilidade esclarecer algumas proposições que nele se acham. Poderiam elas parecer a muitos como temerárias ou obscuras. Aqui aponto algumas. Se o leitor encontrar outras semelhantes, peço-lhe acreditar que foram emitidas e hão de ser interpretadas de acordo com uma verdadeira e sólida teologia, e segundo a Santa Igreja Católica Romana, cujo filho obedientíssimo protesto ser.

Na introdução, referindo-me ao capítulo quinto, disse que Deus quer que pelas mãos de Maria nos cheguem todas as graças. Ora, essa verdade é muito consoladora para as almas, ternamente afeiçoadas à Santíssima Virgem, e para os pecadores desejosos da conversão. A ninguém isso pareça contrário à sã teologia. Pois, S. Agostinho, autor dessa proposição, estabelece como sentença, geralmente aceita, que Maria tem cooperado por sua caridade para o nascimento espiritual de todos os membros da Igreja. E um afamado autor, nada suspeito como exagerado ou como inclinado à falsa devoção, acrescenta: "Como foi propriamente no Calvário que Jesus Cristo formou sua Igreja, claro está que a Santíssima Virgem cooperou de um modo excelente e singular nessa formação. Por isso dizer se pode que Maria, sem padecer dores, deu à luz Jesus Cristo, cabeça da Igreja. Mas não lhe aconteceu o mesmo com o corpo místico dessa cabeça, isto é, com os fiéis. No Calvário começou, portanto, de um modo particular, a ser Mãe de toda a Igreja". Em poucas palavras, Deus, para glorificar a Mãe do Redentor, determinou e dispôs que, em sua grande caridade, ela intercederia em favor daqueles por quem seu divino Filho satisfez e ofereceu o preço superabundante de seu precioso sangue, "no qual unicamente está nossa salvação, vida e ressurreição". Baseado nesta doutrina e em outras mais que com ela concordam, estabeleci eu minhas proposições, e os Santos enunciaram-nas sem hesitação em seus afetuosos colóquios e inflamados discursos em honra de Maria. Assim escreve um antigo autor, citado pelo célebre Contenson: A plenitude da graça estava em Cristo como sendo nossa cabeça; estava em Maria por ser ela medianeira entre Cristo e nós, tal como o pescoço transmite ao corpo a vida que vem da cabeça. O mesmo encontramos claramente ensinado pelo autor angélico, S. Tomás. Eis como ele resume tudo: "A Santíssima Virgem é chamada cheia de graça em tríplice sentido... Terceiro, porque comunica a todos os homens a graça. Já é grandeza possuir um santo tanta graça que possa reparti-la com muitos; se a tivesse, porém, tão grande que pudesse distribuí-la ao mundo inteiro, seria coisa extraordinária. Mas este é o caso de Cristo e sua bendita Mãe. Pois em todo perigo podemos obter salvação por meio da gloriosa Virgem Maria. Dela por conseguinte valem as palavras: Mil escudos, isto é, meios de defesa nos perigos, ela oferece (Ct 4,4). Igualmente podemos tê-la como auxiliar em toda e qualquer prática da virtude, pois está escrito: Em mim está a esperança da vida e da virtude (Eclo 24,25)".

Glórias de MariaOnde histórias criam vida. Descubra agora