Já estava cansada de esperar a Gabi sair da lanchonete da escola quando Ele chegou. Eu gostava dele a três anos, e o máximo que tinha falado com
ele era "eai, você quer fazer a parte escrita ou apresentar o trabalho para a turma?" uma vez que fizemos o trabalho de português juntos, e eu só dei essa sorte por ele ter chegado atrasado e eu ser a única que sobrou.
Quando a Gabi saiu da lanchonete ele entrou. Fiquei com raiva. Poxa, se ela já tinha demorado todo aquele tempo lá dentro, podia demorar mais um pouco para eu poder ficar perto dele. Como isso não aconteceu saímos andando e sentamos em uma mesa mais para longe do que para perto da lanchonete. Aquele lugar estava cheio aquele dia, mas também, além de estarmos na semana de planejamento para a feira de ciências, era segunda-feira, e segunda é dia de arroz doce (muito muito muito muuuito doce) na escola, e quando o lanche é ruim, todos correm para a lanchonete paga da escola. Logo que sentamos a Gabi começou a falar.
-Eai, como vai seu amor platônico?
-Não enche o saco.
-Qualé Manu, você já gosta dele a três anos e o máximo que falou com ele foi quando fizeram o trabalho de português. Você não acha que tá na hora de ir falar com ele?
-NÃO.
-Nossa, desse jeito você com certeza vai conseguir se aproximar dele. O que você acha? Que ele vai aparecer aqui e pedir a sua mão em casamento sem nem saber o seu nome?! E você nem se esforça para ele saber. Você realmente acha que vai conseguir alguma coisa assim?
-Sim - falei, e logo depois mostrei a língua para ela, que só revirou os olhos e deu uma risadinha.
Saímos andando até o pátio e antes mesmo de nos sentar o sinal bateu. Eu realmente acho que a cada dia eles diminuem mais o tempo do recreio. Fomos para a sala de aula caminhando lentamente pela escada, com esperança de que quando chegássemos lá em cima o sinal da próxima aula já batesse.
