TRABALHO EM GRUPO

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        No final da aula como sempre foi uma muvuca, todo mundo desesperado para sair da escola e sentir o gostinho de liberdade, porque pelo menos eu acho que as escolas são como prisões, você tem horário para ir ao banheiro, para beber água, alguns poucos minutos de ar livre e fica preso dentro de uma cela, opa, sala. A única diferença é que a comida da prisão é um pouco melhor. Eu e a Gabi saímos juntas como de costume, mas na bagunça da saída algum babaca derrubou minha mochila e alguns papéis que estavam na minha mão no chão. Nessa hora você pensa que o garoto mais lindo da escola vai aparecer e te ajudar a pegar suas coisas, vocês vão se olhar, se apaixonar e já sair dali casados de véu e grinalda. Mas não. Vem um outro babaca e chuta a suas coisas. Mas isso são coisas da vida. Da vida REAL, não da vida perfeita de uma garota linda em um filme. Quando eu e a Gabi estávamos juntando as coisas, vi alguém se aproximando de nós, ele parou na nossa frente, e eu só vi os tênis dele, por um momento achei que poderia ser ele, mas era só o ajudante da bibliotecária oferecendo ajuda. Eu agradeci, falei que não precisava e a Gabi e eu saímos.

        Normalmente ele sempre ia pelo mesmo caminho, mas não nesse dia. Eu já sabia que ele morava relativamente perto de mim, no mesmo bairro, mas nós íamos por caminhos diferentes. Esse dia ele foi pelo mesmo caminho que eu. Só isso já me deixou animada. Eu não achava realmente que poderia acontecer alguma coisa, mas tinha um fio de esperança. Fomos andando, ele estava um pouco mais a frente de mim. Quando chegamos na Rua da Gabi, que era atrás da minha, deixei ela lá e segui caminho como de costume. Apressei o passo para não perdê-lo de vista. Ao chegar na minha rua constatei que não ia conseguir nada, pois ele seguiu caminho. Pelo visto não era naquele dia que o destino me apresentaria a ele.

        Cheguei em casa, almocei, tomei um banho e fui fazer os deveres, logo que peguei meu primeiro caderno vi uma folha solta com uma anotação, de um trabalho em grupo em que o professor de matemática tinha sorteado os alunos. No grupo estávamos eu, o Pedro, a Luiza e... ELE. Aquilo não parecia ser sério. E eu estava com o número do telefone de todos os integrantes do grupo. Estava tão ocupada com a feira de ciências que tinha me esquecido completamente desse trabalho. Imediatamente liguei para ele, era um número fixo. Chamou três vezes e eu desliguei, pensei que ele não estava em casa. Depois de cinco minutos encarando o telefone eu resolvi ligar de novo. Logo na segunda vez que chamou uma mulher atendeu. Desliguei. Liguei de novo e dessa vez ele atendeu. Tivemos um diálogo muito produtivo:

        -Alô.

        -Oi, Leonardo?

        -Sim.

        -É a Manuela, da escola. Eu to ligando por causa do trabalho de matemática.

        -Ah tá.

        Um silêncio constrangedor ficou por um longo tempo, mais ou menos por uns três segundos.

        -Aaan... eu pensei que a gente podia marcar de se encontrar, com o resto do grupo, o Pedro e a Luiza, amanhã depois da aula.

        -Amanhã eu não posso, foi mal...

        Aquele fio de esperança foi embora nesse instante.

        -Mas eu posso hoje. A gente pode se encontrar com o pessoal daqui a uma hora na casa de um de nós. No Pedro de preferência, pode ser?

        Opa, o fio de esperança voltou.

        -Pra mim tá ótimo. Eu vou ligar para o Pedro e a Luiza agora e ver se eles podem.

        -Beleza.

        -Beleza.

        Assim pode parecer simplesmente que a gente tinha marcado uma reunião para fazer um trabalho chato de escola, mas na minha cabeça eu tinha um encontro a luz de velas marcado com ele em uma hora.

Meu melhor namoramigoOnde histórias criam vida. Descubra agora