Chapter One - New Year's Day

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Prendo lentamente metade do meu cabelo em um messy bun. Passo pela espelho e inclino-me, aproveitando para verificar se estou mesmo pronta. Hoje é ano novo e vou até um bar com uns amigos que conheci à uns dias... Quem é que eu estou a tentar enganar? Não são mesmo meus amigos...conheci-os à dois dias apenas, numa tentativa inútil de melhorar a minha insignificante vida. Está tudo uma confusão e tenho tentado meter-me em conflitos, de modo a não me lembrar do facto de estar completamente sozinha. Lá estou eu a ser dramática outra vez! Faz parte da minha personalidade, a verdade é que faço sempre uma tempestade num copo de água.

O meu namorado deixou-me. Fazíamos tudo juntos, éramos inseparáveis, e apesar de nos termos conhecido à quatro meses, ingénua como eu sou, pensava que duraria para sempre. Esforcei-me de mais para tudo dar certo e, principalmente, esforcei-me demasiado na pessoa errada.

Mas chega de me lembrar de tudo isto. Outra das minhas características é fingir-me de forte. Quando tudo acabou, fingi que estava bem, levantei a cabeça e dei meia volta como se nada me tivesse afetado.

Corro até à porta de saída porque, como sempre, já estou atrasada. Oiço a chuva a tilintar enquanto desço as escadas do apartamento. A minha vida está virada do avesso e para cumulo ainda chove. Se há algo que mais odeio em todo o mundo é chuva! Apanho um táxi rapidamente para a festa. Nunca costumo apanhar táxis. Alias nunca andei num até hoje. O meu ex namorado costumava-me levar a todo o lado, assim como os meus pais. Mas desde que ele me deixou, me distanciei de toda a minha família. Bem sei que não é culpa deles, mas ele era o meu mundo e quando o mundo de alguém desaparece de um dia para o outro, esse alguém precisa de estar sozinho. Para além disso, nunca os meus pais me levariam de boa vontade a uma festa destas, pelo que no inicio da tarde descartei logo a hipótese de lhes ligar.

Tanta gente! Ok, acho que nunca vi tanta gente na vida. Festas definitivamente não estão na lista de coisas que costumo fazer. Bem, aliás, nunca vim a uma. Mas hoje preciso disto. Ou é o que me quero fazer acreditar. Passo pela quantidade gigantesca de gente a travar a passagem de entrada e olho por cima de todos os ombros à procura dos meus amigos. Avisto, por fim, o cabelo vermelho de uma delas, que sinceramente não sei o nome. Dirigi-me até o grupo de me dá a as boas vindas e um grande copo com alguma substancia alcoólica indecifrável. Agora gostava de estar em casa...

- Então, isto está fantástico, não é? - responde o rapaz que se encontra ao meu lado, com um enorme esforço por fazer a sua voz se ouvir por cima da alta musica que toca por todo o bar. Abano a cabeça a concordar e desvio-me com medo que deixe o copo de álcool cair por cima de mim, por já estar tão bêbedo.

Depois de longos minutos, que pareceram horas, a tentar fingir que bebida a mistura do meu copo, levando- a à boca e tirando novamente, sem que ninguém se aperceba, decido que já está de hora de ir. Sei que ainda falta pelo menos meia hora para as 12h mas a minha cabeça está a latejar e o ambiente neste grande bar começa a ficar deveras desconcertante. Aceno aos meus supostos amigos, que nem se apercebem de que me dirijo para a saída. Decido antes ir á casa de banho, algo que me arrependo logo depois, por verificar a quantidade de miúdas já espalhadas pelo chão numa evidente alegria. Abro a pequena e única porta da casa de banho, que leva para um pequeno espaço, onde não tenho a certeza caberem duas pessoas.

- Encontramo-nos de novo, hã? - grita o rapaz que estava ao meu lado na festa. Não percebo de imediato o que se passa. Mas antes de poder fechar a pequena porta ele entra e amarra-me, embatendo contra a parede. É mais que óbvio o álcool que ingeriu, misturado com outras substâncias, devido ao mau hálito que entra pelas minhas narinas incontornavelmente. Tento espernear e gritar mas com um gesto repentino tapa-me a boca com uma das mãos e usa a restante para percorrer o meu corpo. Por muito que queria não me consigo libertar.

Subitamente, entra alguém na casa de banho, que por milagre o rapaz não se lembrou de fechar, e agarra-o, dando de seguida um soco da face dele. O rapaz já nem se consegue levantar. Suspiro profundamente e paro para olhar um outro rapaz alto que se encontra à minha frente e que literalmente me salvou esta noite. O cabelo dele é castanho, como os olhos, que neste momento me fitam, impacientes e preocupados, esperando que diga algo.

- Obrigada... - suspiro por fim, saindo rapidamente da pequena casa de banho, para o lado de fora.

- Estás bem? Não precisas de nada? - diz ele, pousando suavemente a mão no meu ombro. Tremo perante o contacto. Há muito tempo que ninguém me tocava. Distanciei-me de toda a gente depois do que aconteceu e nem tinha reparado quão sozinha estou nestes últimos meses.

- Sim, não te preocupes. Obrigada, mais uma vez. - digo, apressada. Depois de tudo o que aconteceu hoje só quero é voltar para casa.

No entanto, ao caminhar pela multidão de pessoas até à saída, o pequeno relógio da parece dá meia-noite e, de repente, a quantidade abundante de adolescentes levanta-se aos gritos, a celebrar o novo ano, começando depois a música ainda num volume mais elevado. A minha cabeça já estava em muito mau estado, e agora com todo este barulho, começo a sentir-me tonta, a minha visão está turva e apenas vejo sombras. Claro... A bebida que me deram os " meus amigos" não era apenas álcool e, apesar de ter fingido beber, a verdade é que até engoli uns golos, na esperança de não me relembrar desta noite na manhã seguinte. Caio de repente...Mas não embato no chão. Viro a cabeça lentamente e percebo que o rapaz que me salvou à minutos atrás está agora a estender os braços, de modo, a que eu não caia no chão repleto de bebidas entornadas.

Pouso a cabeça no ombro dele, estou tão cansada e acabo por deixar-me adormecer...

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