Até Trair?

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Hoje eu me levantei ligeiramente morto, meu quarto ainda escuro e o abajur desligado, tentei colocar os pés pra fora da cama mas o peso da minha gata gorda impediu o ato, ouvi um ronco vindo de Ametista, que se espreguiçou apenas para voltar a cair sobre meus pés. Esgueirei-me devagar para não acordá-la e me direcionei para o banheiro. Lavei o rosto e escovei os dentes como de costume. Chequei o relógio, 4h e 3 min, peguei uma toalha e fui para a academia particular de meu pai, despejei minha energia durante duas horas direto, e assim que terminei me atirei da ducha gelada. Meus banhos são sempre gelados, não suporto a água quente, frio ou calor, a água é gelada. Me enrolei no roupão azul descartado no banheiro e corri até meu quarto, torcendo para que minha mãe não tivesse acordado ainda. Me troquei ás pressas e desci para tomar chá. O sol tinha acabado de nascer quando cheguei a cozinha, minha mão foi mais rápido que eu e já estava em pé preparando o seu café matinal.

- Argh, café não. - me queixei do cheiro que invadia o cômodo.

- Só porque você é intolerante com o café, não significa que eu vá me privar desta dadiva. - rebateu ela como uma perfeita amante da cafeína,

-Não sou intolerante com o café, apenas não suporto o cheiro, o gosto e a fama que ele tem, sendo algo tão ruim. - me defendi a minha maneira.

- Ty eu não estou obrigando você a tomar café, pare de se queixar logo de manhã cedo... O seu chá esta na pia. - disse respirando fundo e voltando para seu amado café. Mamãe sempre acordou muito cedo, ela detesta perder tempo dormindo, e eu, puxei esse lado dela, desde neném fui sempre muito matinal, embora nunca dormir antes das 24h.

Sorri ao ver meu chá acompanhado de waffles e mel.

- A senhora sempre acerta. - disse dando-lhe um beijo na bochecha, ela sorri e continua preparando seu próprio desjejum.

- Ah, a propósito, eu vou sair hoje para uma reunião na empresa com seu pai, avise a Louise pra lavar as roupas que restaram na lavanderia, por favor. - Assenti bebericando meu chá, concentrado em meus pensamentos. Que é claro, estavam voltados a uma única coisa. Ela. - Não esqueça Ty, e depois diga que ela pode ir pra casa e tirar amanhã de folga.

- Pode deixar, talvez eu saia hoje também. - ela para o que esta fazendo e olha pra mim franzindo a testa.

- Você vai sair? - ela arqueia a sobrancelha como se estivesse desconfiada.

- Vou, algum problema? - digo desviando o olhar.

- Não... nenhum. - ela sorri desdenhada e começa a tomar seu café.

Olho o horário e já são quase 7h.

- Tenho que ir. Tchau. - saio em disparada ainda com um waffle na boca, pego minha mochila e vou até a garagem. Pego as chaves do meu bebê e abro o portão. Entro no meu carro jogando a mochila no banco passageiro. Cerifico-me de que minha câmera está no porta-luvas e deixo minha casa indo em direção ao parque da cidade.

Não demora muito para chegar ao meu destino. Estaciono em frente a uma arvore grande e bonita. Pego minha câmera e inicio minha caminhada por entre as pedras estendidas pela grama.

Capturo algumas imagens de pássaros voando e algumas flores esbeltas, as pessoas que passam por mim correndo olham curiosas para mim, enquanto miro em alguns pontos do parque. E é nessa hora, que minha câmera acha seu melhor foco.

Ela corre tão graciosa como anda, tiro meus olhos das lentes para observá-la melhor, ela está longe, mas consigo enxergar perfeitamente sua silhueta correndo na minha direção. Me atrevo a bater algumas fotos discretamente, e me orgulho do resultado, ela é uma bela musa distraída. Quando ela passa por mim, sua reação é exatamente igual a todos os dias anteriores, ela simplesmente corre, sem olhar para os lados, ou para mim. Sua boca não me passa despercebida enquanto murmura letras de músicas das quais sei que ela adora ouvir enquanto corre. Hoje, seus cabelos estão amarrados em um coque perfeito, deixando alguns cachos rebeldes soltos aqui e ali. Sua roupa é confortável, um short de corrida, e uma regata preta que contorna muito bem a sua fina cintura, acentuando todas suas belas curvas. Ela é tão bela, tão ela, tão encantadora do jeito dela. Continuo observando enquanto ela se afasta, e meu coração vai se acalmando aos poucos. Logo ela desaparece de minha visão, e eu volto a tirar fotos. Meu celular apita e vibra em meu bolso, o visor indica que é Johanna, a praga que me persegue desde que me entendo por garoto. Entenda, quando eu era criança, era rodeado por inúmeras garotas, filhas das amigas de minha mãe, que costumavam visita-la quase todos os dias de minha infância, eu só fui ter um amigo quando completei 12 anos, antes disso, eu era condenado a brincar de boneca, casinha, mamãe e filhinha, e convenhamos que isso não faz muito bem para o desenvolvimento da masculinidade de um garotinho. Pois bem. Aos 12 anos conheci Fredd, filho de um dos parceiros de negócio do meu pai, fomos apresentados devidamente e desde então, perdemos a conta de quantos objetos preciosos e quantas reuniões importantes arruinamos juntos. O celular continuou a vibrar e respirei fundo antes de atender, sabendo que com certeza levaria uma bronca de Johanna.

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