Meu porto seguro

O senho ali da rua

Deitado em baixo das cobertas

Tentando novamente conter o frio

Aquele frio que mesmo com as cobertas

Era muito presente em baixo de si

De manhã às mesmas pessoas

por ali passavam todo dia

Muito raro era encontrar

um rosto diferente

Até pq a cidade era pequena

Ele muitas das vezes

Dava um bom dia pras pessoas

Que muitas das vezes também não era respondido

Um ou outro respondia

e se respondia não era com um sorriso

Poucas vezes paravam ali e lhe davam algo

Seja um bom dia, um dinheiro ou uma comida

Se davam dinheiro

era sempre com uma desconfiança

Por não saberem o que ele iria fazer

Se era comprar comida

Se era alugar um lugar pra dormir

Ou se era pra comprar drogas.

Se davam comida

Era apenas para fazerem um boa ação

Quase nunca era por vontade

Raramente era por que ligavam.

Quando davam bom dia era

Apenas, para não deixa-los falarem sozinhos

Até porque quantas vezes ele viu o dia nascer e morrer?

Quantas vezes ele não sentiu

uma tristeza imensa untada

com a saudade (talvez) de casa?

Mas nada lhe dava mais tristeza do que

A falta de humanidade no ser humano

A falta de compaixão no coração

E a falta de amor pelo próximo.